Dados do Censo 2022 divulgados nesta sexta-feira mostram que Brasil tem mais estabelecimentos do gênero do que os destinados ao ensino ou ao atendimento de saúde
O Brasil tem mais estabelecimentos religiosos do que os destinados ao ensino ou ao atendimento em saúde — o que inclui até mesmo consultórios médicos. A diferença foi apontada pelas coordenadas geográficas do Censo 2022, divulgadas ontem pelo IBGE. Nos 111 milhões de endereços registrados nos municípios brasileiros, há 580 mil locais de devoção no país, contra 264,4 mil escolas de todos os tipos e 247,5 mil unidades de saúde. São, em média, 286 igrejas, templos, sinagogas, terreiros ou outros locais de prática religiosa para cada 100 mil habitantes.
O Censo apontou que a Região Norte é a que oferece o maior número de estabelecimentos religiosos, com 459 para cada grupo de 100 mil habitantes. Ao todo, são 79.650 igrejas no Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. O Acre lidera a média nacional, com 554 igrejas para cada 100 mil habitantes, seguido de Roraima e Amazonas, ambos com 485 para cada 100 mil.
A distribuição de fé — Foto: Editoria de Arte
Além disso, o Amazonas é o estado com maior proporção de locais de culto em relação ao restante dos domicílios: um para cada 68 endereços. Em seguida, vêm o Acre, com um para cada 69 domicílios, e o Amapá, com um para cada 79.
Na outra ponta, a Região Sul aparece tem a menor proporção de estabelecimentos religiosos por habitantes, com 226 para cada grupo de 100 mil moradores. Além disso, entre os dez municípios com menor número de locais de cultos em relação ao total de moradores, três são de Santa Catarina (Florianópolis, Blumenau e São José) e dois do Paraná (Curitiba e Maringá). Entre os municípios com mais de 200 mil moradores, Blumenau é a cidade com a menor oferta de estabelecimentos religiosos para sua população, com um para cada 1.069 habitantes.
Número de habitantes por estabelecimento religioso nos municípios de menor concentração — Foto: Editoria de Arte
Na proporção entre domicílios em geral e endereços religiosos, oito municípios do Estado do Rio de Janeiro se destacam na lista dos dez mais, entre as cidades com mais de 200 mil habitantes. Neste recorte, a liderança é de Itaboraí, na Região Metropolitana do Rio, que tem um estabelecimento religioso para cada grupo de 158 pessoas. Ao todo, são 1.423 locais deste tipo para 224,3 mil pessoas.
Depois de Itaboraí, vêm outros dois municípios do Grande Rio na lista dos dez com mais locais de culto em relação à sua população: Magé, com um estabelecimento deste tipo para cada 161 pessoas, e Nova Iguaçu, com uma por 188 moradores.
Pequenos templos
Para o cientista político e diretor do Observatório Evangélico Vinicius do Valle, embora não haja uma especificação por tipo de religião nos dados apresentados pelo IBGE, boa parte destes endereços são de igrejas evangélicas e de religiões de denominação africana, especialmente no Estado do Rio. O cientista político diz que os dados do Censo “desmistificam a ideia de que igrejas protestantes são apenas megatemplos super-ricos”, porque a quantidade indica também muitos pequenos locais de culto para um número reduzido de fiéis.
— Este é inclusive o motivo dos evangélicos crescerem tanto: quando falamos das Assembleias de Deus e das igrejas pentecostais, estamos falando de pequenos templos próximos às casas de moradores e dentro das comunidades. Esse é um elemento que faz com que essas igrejas sejam procuradas e funcionem como uma rede de apoio nessas localidades — avalia Valle.
O diretor do Observatório Evangélico lembra que a proliferação de templos, igrejas e outros endereços religiosos é facilidade com que eles podem ser abertos no país:
— Burocraticamente é fácil e economicamente também é viável. Estamos falando de uma sociedade religiosa que conseguiu viabilizar a materialidade.
Exceção no Sul, SP e PI
Os estados do Sul, ao lado de São Paulo e do Piauí, são as unidades da federação que contrariam o resultado nacional e têm mais estabelecimentos de ensino e de saúde somados do que os religiosos. São Paulo lidera no número absoluto de locais de culto, com 83,9 mil. Mas também oferece 40,7 mil endereços ligados ao ensino e quase 60 mil relacionados a serviços médicos.
No Piauí, há 10,1 mil estabelecimentos religiosos, contra 7,4 mil de ensino e 4,5 mil de saúde. Nos três estados do Sul, o número de endereços de devoção chega a 67,6 mil, contra quase 60 mil endereços de serviços médicos e 48, 1 mil locais de ensino.
O Censo apresentou uma análise por tipos de endereços, indicando que a maior parte dos logradouros são propriedades particulares, como casas e apartamentos. Ao todo, as entrevistas contabilizaram 90,6 milhões de domicílios particulares. Em segundo lugar aparecem os estabelecimentos de outras finalidades, como lojas, prédios públicos e culturais, com 11,7 milhões.
Aparecem ainda nos dados os estabelecimentos agropecuários, com 4 milhões; edificações em construção, com 3,5 milhões; e os domicílios coletivos (hotéis, presídios, pensões, asilos), com 104,5 mil. Segundo o IBGE, a maior precisão do levantamento pode ser uma ferramenta importante para o planejamento urbano e para a criação de políticas públicas específicas. (com informações do g1)
Fonte: O GLOBO
0 Comentários