Denúncias constam de relatório elaborado pela Ouvidoria da Polícia e outras entidades; em boletins de ocorrência, policiais alegaram que houve trocas de tiros
Parentes relataram que Hildebrando Neto, de 24 anos, e o amigo Davi Gonçalves, 20 anos, estavam em casa no Parque São Vicente, em São Vicente, no fim da tarde de 7 de fevereiro, quando policiais da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) entraram na residência e apontaram fuzis para os moradores. Segundo o relatório, os policiais foram até o quarto onde os jovens estavam e atiraram nos dois.
Um dos jovens, Hildebrando, tinha deficiência visual grave, pois era cego de um olho e tinha apenas 20% da visão no outro. Os familiares apresentaram um laudo médico de 2016 que atestava que a vítima tinha “ceratocone bilateral avançado”, mostrando que há ao menos oito anos ele tinha a visão muito limitada.
De acordo com o boletim de ocorrência, os policiais teriam ido até a casa após receberem uma denúncia de tráfico de drogas no local, e quando lá chegaram, os jovens teriam apontado armas contra os agentes.
Já o outro caso ocorreu em 9 de fevereiro, no Morro São Bento, em Santos. Segundo relatos de familiares e moradores, dois homens estavam conversando quando foram surpreendidos por policiais saindo de uma área de mata. Segundo o boletim de ocorrência, os homens estariam armados e teriam reagido à abordagem policial.
Parentes das vítimas, entretanto, contam uma versão diferente: a esposa de uma das vítimas disse que seu marido usava muletas e não poderia ter atirado nos policiais. Ela ainda apresentou laudos que comprovariam que o marido era beneficiário do Benefício de Prestação Continuada (BPC) para pessoas com deficiência. Ainda de acordo com testemunhas ouvidas pela Ouvidoria, os policiais teriam proibido que familiares se aproximassem dos corpos, que ficaram um sobre o outro "por cerca de duas horas, ainda vivos e agonizando, antes de serem removidos por uma ambulância para a Santa Casa de Santos, onde o óbito foi constatado".
O "Relatório de Monitoramento de Violação de Direitos Humanos na Baixada Santista durante a segunda fase da Operação Escudo" foi feito após uma visita de organizações e parlamentares a comunidades de Santos e São Vicente. Assinam o documento o Centro de Direitos Humanos e Educação Popular (CDHEP), Comissão Arns, Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP, Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CONDEPE), Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Instituto Sou da Paz, Instituto Vladimir Herzog, Mandato da Deputada Federal Juliana Cardoso, Mandato da Deputada Estadual Mônica Seixas, Mandato da Vereadora Débora Alves Camilo de Santos, Mandato do Deputado Estadual Eduardo Suplicy, Mandato do Vereador Tiago Peretto de São Vicente, Ouvidoria das Polícias do Estado São Paulo, Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio da Juventude Preta, Pobre e Periférica, Rui Elizeu de Matos Pereira e Patrícia Bueno Resende. O relatório foi entregue ao procurador-geral de Justiça do Estado de São Paulo, Mário Sarrubbo.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública, todas as ocorrências são investigadas. A Operação Verão foi reforçada no dia 3 após a morte do soldado Samuel Wesley Cosmo, da Rota. Em 25 dias, a ação já registrou 34 mortes nas cidades de Santos, São Vicente, Guarujá e Cubatão. A última morte ocorreu na noite da segunda-feira. Esta é a ação policial mais letal no estado desde o massacre do Carandiru, que deixou 111 mortos na Casa de Detenção de São Paulo em 1992.
Fonte: O GLOBO
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