Juristas ouvidos pelo GLOBO divergem sobre a aplicação do texto, aprovado na Casa nesta terça-feira. O projeto de lei volta à Câmara para apreciação das mudanças
Na avaliação do professor de Direito Constitucional da UFF, Gustavo Sampaio, por se tratar de alteração na Lei de Execução Penal (LEP), o texto, se sancionado, deve passar a valer para todos os presos em regime semiaberto já inseridos no sistema penal:
— Por não se tratar de uma lei penal, como o Código Penal, e sim da Lei de Execução Penal (LEP), que diz como a pena é cumprida, já vai se aplicar a todos que estão em estabelecimento penal, caso sancionada. O que não se aplica a fatos anteriores são alterações à lei penal, como a criação de uma nova tipificação criminal.
Sampaio avalia ainda que, caso o texto seja convertido em lei, sua constitucionalidade pode ser contestada no Supremo Tribunal Federal (STF). Ele avalia que o fim da "saidinha" pode ferir o princípio de individualização da pena, previsto no artigo 5º da Constituição. Há ainda juristas que acreditam que a medida fere o princípio de ressocialização dos presos, com a saída temporária sendo uma das ferramentas definidas por lei.
Já o doutor em Direito Constitucional Acácio Miranda vê a mudança como uma alteração no Código Penal em si e, portanto, não teria caráter retroativo. Outro ponto que pesa contra a aplicação ampla, na sua avaliação, é o fato de o texto é prejudicial aos detentos — a Legislação prevê que mudanças do gênero não podem prejudicar o réu:
— O Código Penal fala que a lei não retroage. Ou seja, só será aplicada nos casos daqueles que cometeram crimes após a sanção ou promulgação da lei. A natureza jurídica do Código Penal e de várias medidas da LEP são as mesmas, por ser uma norma material.
Amplo apoio do governo
A votação do PL da Saidinha, como ficou conhecido o texto no Parlamento, representa mais uma derrota para o governo e foi encampada por parlamentares da base aliada, que entregou dois terços dos votos favoráveis à alteração. O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT), liberou a bancada, e até senadores petistas acompanharam o relator do texto, Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
Entre os senadores que votaram a favor do PL da Saidinha estão três nomes do PT — Augusto Brito (CE), Fabiano Contarato (ES) e Beto Faro (PA) —, além de parlamentares filiados a partidos com ministérios na gestão Lula, como PSD, MDB, PDT, PP, PSB, União Brasil e Republicanos. O texto registrou apenas dois votos contrários, também de integrantes da base: Cid Gomes (PSB-CE) e Rogério Carvalho (PT-SE).
Fonte: O GLOBO
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