Levantamento da consultoria Bites feito a pedido do GLOBO aponta que 63,8% das mensagens sobre a declaração do presidente foram classificadas como negativas
O debate digital sobre a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em que comparou a situação em Gaza à perseguição a judeus da Alemanha nazista, teve impacto negativo para o petista nas redes sociais. Levantamento da consultoria Bites feito a pedido do GLOBO aponta que em apenas uma em cada dez postagens sobre o tema houve aval à fala do presidente.
Ao todo, foram analisadas 1,59 milhão de publicações nas principais plataformas digitais. Desse total, 63,8% das mensagens foram classificadas como negativas, 25,8% como neutras e 10,3% como positivas.
O estudo da Bites aponta ainda que a direita bolsonarista dominou o discurso de forma ampla e em nenhum momento a repercussão positiva se aproximou da negativa. O pico de menções críticas ao petista ocorreu às 22h do último domingo. Entre as mensagens em língua portuguesa com maior repercussão na rede social X (antigo Twitter) está uma postagem em que o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) pede o impeachment de Lula.
Na avaliação de André Eler, diretor-adjunto da Bites, o presidente escolheu uma briga que polariza ao fazer a declaração sobre o conflito em Gaza e, por consequência, perdeu uma parte do apoio do centro. Diante disso, foi “muito fácil” para apoiadores de Bolsonaro se apropriarem da pauta e “vencê-lo” nas redes sociais.
— A fala parece ter sido um erro de avaliação do presidente até pelo fato de que o bolsonarismo estava menos estruturado. Havia temor de se alinhar ao antigo chefe do Executivo após a operação recente da Polícia Federal. Lula inverte a pauta, fazendo com que eles se reorganizem contra o governo petista — afirma Eler.
As mensagens no X partiram de 369 mil autores e geraram 259 milhões de visualizações. Além de Ferreira, outros militantes bolsonaristas, como Barbara Destefani (Te Atualizei) e Ana Paula Henkel, também se destacaram no debate.
Embate digital sobre fala do presidente Lula provocou 1,59 milhão de mensagens entre domingo e segunda-feira — Foto: Editoria de Arte
Reação localizada
No campo da esquerda, a postagem na qual o militante Pedro Ronchi afirma que a fala de Lula sobre o país “incomodou mais do que Israel ter matado mais de 10 mil crianças alegando autodefesa” também teve alto impacto, segundo os pesquisadores da Bites.
Ainda no campo alinhado a Lula, outro perfil que se destacou foi o da primeira-dama Rosângela da Silva. Janja disse que, ao comparar as mortes de palestinos da Faixa de Gaza com o Holocausto na Segunda Guerra, Lula se referia ao governo israelense, e não o Estado de Israel.
— Constatamos um ensaio de defesa do ex-presidente por algumas forças de esquerda, mas esse movimento ficou muito restrito ao PT, PCdoB e PSOL. Até mesmo nomes que tentam se apresentar como mais moderados nestes partidos, como Guilherme Boulos, se afastaram da discussão por entender que ela é muito divisiva e não interessa a quem quer concorrer a um cargo Executivo — acrescenta Eler.
Já no Instagram, os destaques foram a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e a família do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que ajudaram a moldar a narrativa negativa para Lula em meio à crise fabricada por sua fala.
Ainda segundo o levantamento da Bite, 76% do total das postagens sobre o tema são em língua portuguesa. Foram analisadas mensagens em sites de notícias, blogs, nas redes sociais Reddit, Facebook e YouTube, além de perfis selecionados do Instagram.
No exterior, houve menções à fala de Lula, em especial, entre apoiadores da causa palestina, observa Eler:
— O monitoramento nos mostrou que o presidente Lula teve um apoio relevante entre as comunidades pró-palestina. Mensagens em inglês de pessoas comemorando a fala do petista estiveram entre as mais repercutidas.
Eler aponta que a discussão sobre Israel e Palestina no Brasil é recorrente quando ativada pelos grupos políticos e teve picos de repercussão impulsionados por apoiadores de Bolsonaro. O pesquisador avalia que o volume de postagens, que havia “diminuído muito” desde o início do recente conflito em Gaza, ganhou tração novamente com a declaração do petista.
— O tema provoca engajamento por atender aos anseios de grupos religiosos, como evangélicos, e de direita, que entendem haver a necessidade de alinhamento direto com a política externa dos EUA e de Israel — conclui.
Fonte: O GLOBO
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