Forças de segurança tentam capturar Rogério da Silva Mendonça e Deibson Cabral Nascimento, que respondem a mais de trinta processos na Justiça

Os dois fugitivos da penitenciária federal de Mossoró colecionam um histórico de fugas e mau comportamento no sistema prisional. Segundo informações contidas nos mais de trinta processos aos quais eles respondem na Justiça, Rogério da Silva Mendonça, o Querubin, e Deibson Cabral Nascimento, o Deisinho, já participaram de rebeliões sangrentas que terminaram com a decapitação de rivais, incitaram outros presos contra agentes penitenciários, ameaçaram a "execução" de policiais, queimaram colchões e foram encontrados com objetos suspeitos dentro das celas. 

Deisinho também já trocou de facção e participou de um ataque contra a antiga organização criminosa a que pertencia.

Quando estava encarcerado no sistema prisional do Acre, Mendonça foi flagrado com uma "serrinha", uma chave de algema artesanal e dois celulares — ele assumiu ser o dono dos objetos. As faltas disciplinares foram registradas entre 2007 e 2012 e constam em um relatório carcerário obtido pelo GLOBO. O flagra da “serrinha” o levou a ficar 20 dias em regime de isolamento.

O Instituto de Administração Penitenciária do Acre também computou pelo menos cinco faltas disciplinares por "desobediência" e "desrespeito" a agentes penitenciários. Uma lhe rendeu um boletim de ocorrência por ameaça e desacato e mais 10 dias de isolamento para cada ocorrência. Em outro caso, há o registro de que ele "bateu grade e ateou fogo no colchão". Mendonça responde a processos judiciais por homicídio, roubo e tráfico de drogas. Ele tem uma suástica tatuada na mão. Ao todo, foi condenado a 74 anos de prisão.

'Frio e impiedoso'

Deibson Cabral Nascimento, por sua vez, possui sentenças que somam mais de 81 anos de prisão por processos como organização criminosa, tráfico de drogas e latrocínio. Este último ele cometeu quando tinha 20 anos e ainda nenhum antecedente criminal.

Em 2011, Deisinho e outros dois assaltantes invadiram a casa de uma mulher, roubaram os seus pertences, mataram-na e atearam fogo na residência com o corpo dentro. O caso ocorrido em Rio Branco lhe rendeu a primeira condenação de 28 anos de prisão por roubo seguido de morte.

"A personalidade, porém, aponta um indivíduo frio e impiedoso, o qual, mesmo que sem qualquer reação da vítima, ordenou a execução desta, apenas para encobrir seus rastros (...) as conseqüências do crime foram desastrosas, considerando que a vítima foi assassinada a sangue-frio e seu corpo carbonizado no interior do imóvel", diz a sentença judicial.

Quando recebeu a condenação, ele constava como "foragido", o que revela que a fuga mais recente não foi a única.

"Vale destacar que o réu está foragido do presídio desde o dia 02.01.2011 e o tempo decorrido até a sua captura não será computado no cálculo de cumprimento da pena aplicada", anotou a Justiça Estadual do Acre.

Tentativa de fuga

Em 2013, os dois presos tentaram escapar juntos do Complexo Penitenciário Francisco de Oliveira Conde, no Acre. Segundo relatório obtido pela GloboNews, os dois improvisaram uma escada com pedaços de grades e lençóis amarrados. Daquela vez, no entanto, o plano foi frustrado por policiais penais que os flagraram na hora da fuga.

Diante do histórico e influência perante a massa carcerária, a Justiça do Acre determinou a transferência deles para o sistema penitenciário federal em 2015.

Em um processo, Deibson aparece como vinculado ao Bonde dos 13, uma facção criminosa que se aliou ao Primeiro Comando da Capital (PCC) para confrontar o Comando Vermelho no Acre. Além do controle sobre os presídios, as facções disputam as rotas e os pontos de tráfico de drogas do Estado.

Posteriormente, Deisinho e Querubin se filiaram ao Comando Vermelho. Em julho de 2023, a dupla e mais 12 criminosos participaram de uma rebelião sangrenta no presídio de segurança máxima de Antônio Amaro, em Rio Branco. Eles renderam dois policiais penais, pegaram a arma deles e invadiram a ala da facção do Bonde dos 13. Lá, mataram cinco integrantes do grupo rival, desses três foram decapitados. Um policial penal foi feito de refém e um outro ficou com ferimentos no olho por causa de um disparo.

O motim levou os dois presos a serem transferidos para o presídio federal de Mossoró, de onde os escaparam na madrugada desta quarta-feira por meio de um buraco no teto e um alicate deixado em um canteiro de obras. Foi a primeira fuga da história registrada no sistema penitenciário federal criado com o objetivo de isolar líderes de facções criminosas do restante da massa carcerária.

Até esta quarta-feira, os presídios federais ostentavam a fama de serem à prova de fuga, rebeliões e entrada de celulares, o que justificava o gasto de até 20 vezes mais do que um presídio comum.

Quando Deisinho estava recluso na penitenciária federal de Catanduvas (PR), em 2018, a defesa dele entrou com um pedido de habeas corpus para que ele retornasse ao sistema estadual com a justificativa de ficar mais perto da família.

A ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Maria Thereza de Assis Moura indeferiu o pedido com base no histórico criminal do preso. "Deibson Cabral Nascimento é considerado de alta periculosidade em virtude de seu comportamento carcerário indisciplinado, por ter empreendido e tentado empreender fugas, dentre outras ocorrências internas. Na época em que foi transferido para o sistema penitenciário federal estava arquitetando a execução de alguns policiais militares aqui no Estado", diz trecho da decisão.


Fonte: O GLOBO