Ainda não há contrato assinado com algum parceiro pelos direitos internacionais da edição 2024

Me diz aí, sem pensar demais. Se o objetivo é internacionalizar o futebol brasileiro — os clubes, não a seleção brasileira —, qual é o primeiro passo? Apresentar as tradicionais camisas nacionais para o público estrangeiro, bolar uma estratégia para adequar horários das partidas aos fusos horários de mercados prioritários, incentivar a contratação de reforços com algum renome global, talvez? Não, não e não. Antes de tudo isso, os jogos precisam ser transmitidos.

Dirigentes de clubes e intermediários das “ligas” estavam ocupados demais com a disputa pelos direitos domésticos — Libra de um lado, Forte e União do outro. Eles enrolaram e não tomaram nenhuma decisão relacionada aos direitos internacionais, de transmissão e betting (apostas). Resultado: falta menos de um mês para o início do Campeonato Brasileiro e ainda não há contrato assinado com algum parceiro. Perdoe a rima: o Brasileirão sofrerá um apagão.

Não é por falta de interessados. Duas empresas dividiram esses direitos entre 2020 e 2023. A Zeus se responsabilizou pelos direitos para casas de apostas, enquanto a 1190 vendeu os direitos de transmissão propriamente ditos para a mídia. Faz meses que ambas as firmas — primeiro separadamente, depois em conjunto — vêm tentando renovar os contratos. Elas apresentaram propostas por períodos mais longos, acordos de vários anos, e só para 2024.

A proposta conjunta de Zeus e 1190 foi de US$ 8,5 milhões. No câmbio de hoje, cinco para um, estamos falando de aproximadamente R$ 42,5 milhões. Como os clubes dividem o dinheiro, é um problema deles, não das empresas. Se a divisão fosse continuar do jeito que estava no contrato anterior, porém, 80% da grana iriam para a Série A, e 20%, para Série B. Estamos falando de R$ 1,7 milhão para cada um na primeira divisão, e R$ 425 mil para cada na segunda.

Dizer que é pouco dinheiro é meio óbvio. Foi o que me disseram alguns dos representantes dos clubes nessa história, reservadamente, como um dos motivos para terem enrolado. Aí entra um pouco de matemática. Embora o Brasileirão precise faturar mais internacionalmente, o que vai levar tempo e muito trabalho coletivo, qualquer número é maior do que zero. Além disso, pode não ser muito para Flamengo ou Palmeiras, mas para vários clubes é verba relevante.

Me entenda bem, para que o louco não passe a ser eu. A respeito dos direitos internacionais para o ciclo de 2025 a 2029, a comercialização realmente precisa ser feita com calma. Libra e LFU estiveram tão entretidas na disputa interna pelos direitos domésticos, que hoje rendem muitíssimo mais dinheiro, que não faria sentido apressar uma venda internacional. Mas o problema não é o que virá de 2025 em diante, e sim 2024. Eles não venderam nem 2024.

O produto pode ser muito bonito e cheio de potencial; se ele não estiver na prateleira do mercado, mesmo que lá no alto, o consumidor nunca o encontra. O Brasileirão precisa chegar ao resto do mundo. E se o dinheiro for tão pouco e estiver sobrando, que seja, coloquem-no no futebol feminino. Está cheio de dirigente que chora as pitangas na hora de gastar com as mulheres, não é? Se eles não te contam, eu conto: tem dinheiro que está ficando na mesa.


Fonte: O GLOBO