Embarcação, que navegava sob bandeira de Cingapura, estava a caminho do Porto Colombo, o maior do país asiático, e deveria chegar lá em 22 de abril

Autoridades americanas declararam o fim dos trabalhos de salvamento para encontrar seis pessoas dadas como desaparecidas após a queda da ponte Francis Scott Key, em Baltimore, atingida por um navio-cargueiro na terça-feira. Os trabalhos das equipes no local agora se concentram na busca por corpos, uma vez que os desaparecidos foram considerados presumidamente mortos após mais de 24 horas na água gelada.

— Com base na duração das buscas [...], na temperatura da água neste momento, não acreditamos que vamos encontrar essas pessoas com vida — declarou o vice-almirante da Guarda-Costeira Shannon Gilreath, em entrevista coletiva sobre os trabalhos na ponte Francis Scott Key.

Pouco depois do acidente, o secretário de Transportes de Maryland, Paul Wiedefeld, afirmou que o governo tinha a informação de que todas as vítimas do acidente seriam trabalhadores que faziam um serviço de reparo na estrutura da ponte. 

De acordo com familiares, organizações de imigração e a chancelaria de países latino-americanos, as vítimas seriam de Guatemala (2), El Salvador (1), Honduras (1) — a chancelaria do México confirmou que há cidadãos do país envolvidos, mas não precisou um número de vítimas.

O trabalho de buscas foi suspenso no anoitecer de terça-feira, após quase 18 horas da queda da ponte, e retomada na manhã desta quarta, com foco na localização e recuperação dos corpos.

Também é esperado, para esta quarta-feira, que uma investigação mais aprofundada sobre as causas do acidente avance. Informações preliminares, colhidas com a tripulação, apontam que o navio sofreu uma perda de propulsão, provavelmente provocada por uma pane elétrica. Equipes das agências que vão participar da apuração devem entrar no navio nas próximas horas.

Em paralelo, o Conselho Nacional de Segurança nos Transportes (NTSB, na sigla em inglês) disse que também está investigando a estrutura da ponta, incluindo quais eram às proteções aos pilares centrais. O secretário de Transportes do governo Biden, Pete Buttigieg, chamou o evento de "circunstância única" e afirmou que nenhuma ponte poderia suportar um evento desta magnitude.

Em um acidente como este, serão as seguradoras que vão reembolsar os danos, afirmou à AFP o especialista Mathieu Berrurier: seguro de danos sofridos pelo navio e seguro de responsabilidade civil por danos causados a terceiros.

O acidente

A estrutura colapsou por volta da 1h30 (2h30 em Brasília) de terça-feira, quando um navio-cargueiro de cerca de 300 metros de comprimento, carregado de contêineres, chocou-se contra um dos pilares de apoio centrais da ponte, provocando uma reação em cadeia.

O navio-cargueiro Dali, de bandeira de Cingapura, havia deixado o Porto de Baltimore minutos antes do acidente. A embarcação estava nos primeiros momentos de uma viagem planejada de 27 dias até o Sri Lanka, onde deveria chegar em 22 de abril, segundo o VesselFinder, um site de rastreamento de navios.

A embarcação, propriedade da Grace Ocean Investment, operado pela Synergy Group e fretado pela Maersk, tinha dois pilotos à bordo.

De acordo com o governador de Maryland, Wes Moore, a tripulação do navio conseguiu enviar um sinal de 'Mayday' antes do choque contra a estrutura, o que permitiu que funcionários da prefeitura bloqueassem o acesso à ponte, evitando que mais pessoas estivessem no local no momento do acidente.

'Deus, que estejam vivos'

O operário José Campos falou de seus colegas desaparecidos, trabalhadores como ele da empresa Brawner Builders Inc.

— Muito triste, primeiramente Deus, que estejam vivos ainda. Não sei como explicar porque sinto um aperto no coração com o que está acontecendo — declarou em espanhol a um fotógrafo da AFP.

Rota de colisão do navio Dali cm ponte no porto de Baltimore, nos EUA — Foto: ARTE O GLOBO

— É uma tragédia terrível e imprevista — disse, por sua vez, Jeffrey Pritzker, da Brawner Builders. — Nenhum de nós podia imaginar que isto pudesse ocorrer. Estamos todos comovidos e angustiados.

O presidente Joe Biden classificou o ocorrido de "terrível acidente" e prometeu reconstruir a infraestrutura o quanto antes, mas isto "levará um tempo".

—Estou dando instruções para minha equipe para que mova montanhas para reabrir o porto e reconstruir a ponte o mais rápido possível — disse Biden em um breve discurso na Casa Branca.

O chefe do Corpo de Bombeiros de Baltimore, James Wallace, afirmou que duas pessoas foram resgatadas com vida do rio, uma delas em "estado muito grave" e outra ilesa. Ele também afirmou que foi confirmada a presença de vários carros submersos.

'Som de trovão'

O tráfego marítimo foi suspenso "até segundo aviso", mas "o porto segue aberto para a passagem de caminhões", disse aos jornalistas o secretário de Transporte Wiedefeld.

— Fomos acordados pelo que parecia ser um terremoto e um longo e vibrante som de trovão — declarou um homem à imprensa local.

A ponte, de quatro pistas e 2,6 quilômetros de comprimento, atravessa o rio Patapsco, ao sudoeste de Baltimore, uma cidade industrial e portuária na costa atlântica dos Estados Unidos.

Queda de ponte em Baltimore — Foto: Reprodução

Por ela circulam mais de 11 milhões de veículos por ano, cerca de 31 mil por dia. Leva o nome de Francis Scott Key, autor da letra do hino americano.

O porto de Baltimore é o principal da Costa Leste dos Estados Unidos e o nono mais importante do país, tanto pela carga estrangeira que maneja quanto pelo valor da mesma. O terminal oferece emprego direto para mais de 15 mil pessoas.


Fonte: O GLOBO