No exterior, papeis também tiveram tombo superior a 10% na manhã desta sexta-feira

As ações preferenciais da Petrobras (PETR4) abriram em baixa de 11% na Bolsa de Valores de São Paulo após a empresa ter divulgado uma queda de 33,8% no seu lucro em 2023 e ter anunciado um pagamento de dividendos – parcela do resultado da empresa que é distribuída a seus acionistas – abaixo do previsto. Por volta das 10:30, os papéis da estatal caíam por volta de 13% no Brasil e no exterior.

Nos Estados Unidos, os ADRs, recibos de ações da empresa, chegaram a cair 11% antes da abertura regular das Bolsas.

A empresa divulgou na noite de quinta-feira que registrou no ano passado um lucro líquido de R$ 124,6 bilhões, o que representa uma queda de 33,8% em relação a 2022. Ainda assim, é o segundo maior lucro da história da companhia. Analistas ouvidos pela Bloomberg previam um lucro de R$ 127 bilhões.

Mas o que pesou mesmo para a queda das ações foi a informação de que a companhia propôs ao seu Conselho de Administração a distribuição de apenas R$ 14,2 bilhões em dividendos referentes ao resultado do último trimestre de 2023. E que, diferentemente do que vinha ocorrendo nos trimestres anteriores, não haverá distribuição de dividendos extras.

Se a proposta for aprovada pelo Conselho, cuja assembleia está prevista para 25 de abril, o total de dividendos referentes ao ano passado somará R$ 72,4 bilhões - menos de um terço dos R$ 222,6 bilhões distribuídos aos acionistas em 2023.

Recursos para a transição energética

A estatal afirma que a política de dividendos foi "aperfeiçoada para considerar maiores investimentos" e que a empresa precisa de recursos para diversificar seus negócios visando a transição energética. O presidente da empresa, Jean Paul Prates, afirmou que a Petrobras tem como meta ter metade de sua receita oriunda de energia limpa, incluindo biocombustíveis, em uma década.

Prates disse ainda que a estatal seguirá pagando um percentual de dividendos superior à média de 20% distribuídas por outras grandes petrolíferas. No ano passado, a Petrobras foi a segunda maior pagadora de dividendos entre as petrolíferas do mundo, atrás apenas da Saudia Arabian.

Outras petrolíferas ampliam dividendos

Mas, enquanto a estatal brasileira vem reduzindo essa distribuição de lucros a seus acionistas, outras petrolíferas fizeram o movimento contrário. A Exxon pagou o quarto maior percentual de dividendos entre todas as 500 maiores empresas listadas em Bolsa dos EUA, enquanto a Chevron ampliou este pagamento em 8%. Outras, como Shell e Total, proporcionaram ganhos aos seus acionistas através de programas de recompras de ações.

Analistas já previam que haveria uma redução na distribuição de dividendos. Mas o corte foi maior do que o previsto. Segundo levantamento da Bloomberg, a projeção era de um pagamento de dividendos de R$ 18 bilhões referentes ao quatro trimestre de 2023, e a estatal anunciou apenas R$ 14,2 bilhões.

— Grandes empresas do setor no mundo também têm apresentado queda na receita por conta da transição energética. Mas a queda da Petrobras está mais relacionada à distribuição de dividendos. Isso acende uma luz vermelha para investidores — afirma André Fernandes, diretor de renda variável e sócio da A7 Capital.

“A Petrobras divulgou resultados em conformidade com nossas estimativas, mas isso foi completamente ofuscado pela decisão da empresa de não pagar dividendos extraordinários”, escreveram analistas do Itaú BBA em relatório nesta sexta-feira. O Bradesco BBI, o Bank of America e o Santander diminuíram a recomendação para as ações da Petrobras de compra para neutro.

O presidente Lula, desde que assumiu seu novo mandato, vinha criticando a política anterior da Petrobras de pagamento de dividendos afirmando que a companhia não deveria priorizar o lucro dos acionistas em detrimento de investimentos em refino e transição energética.

A Petrobras adotou no ano passado uma política mais conservadora de distribuição de dividendos, cortando seu patamar máximo de 60% para 45% do fluxo de caixa livre.

Na quinta-feira passada, a Petrobras já havia registrado uma forte queda na Bolsa após Prates informar que a estatal seria mais cautelosa na distribuição de dividendos. A empresa perdeu R$ 30 bilhões em valor de mercado em um único dia.

(Com Bloomberg News)


Fonte: O GLOBO