PF realizou operação contra grupo suspeito de prometer levar ilegalmente Fabiano de Oliveira, de 37 anos, para os Estados Unidos

Os coiotes que levavam Fabiano de Oliveira, de 37 anos, até os Estados Unidos, tentaram extorquir a família do auxiliar de obras, que está desaparecido desde setembro do ano passado, com fotos e vídeos falsos do mineiro de Governador Valadares. Em uma das ligações realizadas, chegaram a perguntar quanto Maria Edna Rodrigues, de 32 anos, pagaria pelo seu marido. A Polícia Federal realizou uma operação nesta quinta-feira cumprindo quatro mandados de busca e apreensão contra os suspeitos de promover a imigração ilegal

Edna conta ao GLOBO que estava em contato com o companheiro desde o momento de sua partida, em 13 de setembro, mas, no dia 25 do mesmo mês, foi informada pelos coiotes que ele teve um surto e teria sido deixado em um centro médico no Instituto de Emigração, em Palenque, México. A trabalhadora doméstica relata que, em contato com o instituto, soube que não foi cadastrada a entrada de Oliveira. Os coiotes que conversavam com Edna começaram, então, a afirmar que estavam com o seu marido, mas sem enviar provas — pediam a ela para "ter fé".

— Pedi foto e vídeo, mas não enviavam, sempre pediam paciência. Achei estranho, pois no mundo que a gente vive hoje todos tiram foto em segundos — conta Edna.

Em novembro, a doméstica acabou bloqueada pelos coiotes:

— (Um deles) deixou claro que, se a gente denunciasse, a única coisa que aconteceria é que ele seria preso e nunca mais veríamos o Fabiano.

Fabiano de Oliveira, de 37 anos, desapareceu nas proximidades de Palenque, México, em setembro de 2023. Família segue nas buscas. — Foto: Divulgação Interpol

Em dezembro, contudo, ela voltou a receber ligações e chamadas de vídeo pedindo dinheiro para ter contato com o marido. Em uma delas, de madrugada, o contrabandista ameaçou a vida dele:

— Quando foi dia 21 de dezembro, outra pessoa entrou em contato perguntando: "Pagaria quanto pelo seu marido?". Eu falei que não tenho dinheiro, e que nem sei se estão mesmo com meu marido.

Edna tentou que fosse feita uma chamada de vídeo para comprovar a presença de Fabiano, mas não foi atendida. Os criminosos passaram a pedir 1,5 mil dólares pela vida do homem, valor que ela não possuía.

Em meio às tentativas de extorsão, ela chegou a receber ligações da madrugada e mensagens com supostas fotos de seu marido segurando uma placa pedindo ajuda em espanhol: "20 de dezembro de 2023. Ajude-me" e "Me van a matar" (vão me matar, em tradução livre).

— Depois disso, não insistiram mais, viram que não tínhamos dinheiro. Em janeiro, entrei em contato com a polícia. Eles falaram que a gente demorou a denunciar, mas a gente ficamos com medo por eles serem perigosos. Onde moro é um lugar pequeno — explica Edna, que não acredita que fosse o marido nas imagens enviadas pelos coiotes. — Eu tenho para mim que não é original, pois meus esposo é alto, largo nos ombros e sem manchas no corpo. Diferente das fotos.

Investigação da PF

A PF cumpriu nesta quarta-feira quatro mandados de busca e apreensão em operação para localizar Oliveira, em Governador Valadares, Minas Gerais. Com os suspeitos de promoção de emigração ilegal para os Estados Unidos foram encontrados armas, munição e passaportes brasileiros e estrangeiros.

A ação teve início depois da denúncia de familiares de Oliveira, que procuraram a PF para comunicar o desaparecimento do homem nas proximidades da cidade de Palenque, em território mexicano, ainda longe dos Estados Unidos, onde ele teria sofrido o surto psicótico. As autoridades estrangeiras foram acionadas e foi emitida difusão amarela da Interpol, que é um alerta internacional para localizar uma pessoa desaparecida.

De acordo com informações da Interpol, Oliveira já esteve antes nos Estados Unidos e, além do México, há registros da entrada do brasileiro em El Salvador e Guatemala. Edna conta que Oliveira deixou o Brasil por via aérea em 15 de setembro do ano passado e, para chegar ao México, pegou dois aviões. Depois, seguiu de carro rumo à fronteira com os Estados Unidos.

*Estagiário sob a supervisão de Alfredo Mergulhão


Fonte: O GLOBO