Percepção interna é que estabilidade da nova gestão pode facilitar composição com partido de Ciro Nogueira, que também discute se unir ao Republicanos
Figuras importantes do partido de Rueda acreditam que a estabilidade da sigla com a saída de Bivar pode ser um ativo para negociar a composição. Desde o ano passado, dirigentes dos três partidos conversam sobre uma federação. O PP está mais perto de fazer uma união apenas com o Republicanos, pois há poucas dificuldades para conciliar os diretórios regionais das duas siglas. Esses acordos estão mais adiantados, o que coloca o União em desvantagem.
Só depois de outubro
Segundo um dirigente, dificuldades nos estados tornam “praticamente impossíveis de conciliar” as três legendas de uma só vez. Ele acrescenta que a federação será de “União e Republicanos ou União e PP”. No PP, o sentimento é de que a federação com o Republicanos está praticamente acertada.
Toda essa movimentação, porém, não resultará em acordo fechado antes das eleições municipais. As cúpulas de PP e Republicanos, por exemplo, já colocaram no papel que será mais benéfico às legendas disputarem o pleito separadas.
Também há dificuldades relacionadas à disputa para a Mesa da Câmara. O atual presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), é próximo do pré-candidato Elmar Nascimento (União-BA). E, no caso de uma federação com o Republicanos, teria que apoiar o nome de Marcos Pereira (Republicanos-SP).
No dia da convenção que elegeu Rueda, Elmar fez uma defesa enfática da composição. No local, estava presente o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), que tem boa relação com Rueda.
— O PP é um partido irmão. Espero que amanhã a gente possa voltar a discutir a federação, porque você (Ciro Nogueira) sabe que defendo e é importante para o Brasil. Hoje, a gente renasce de uma forma positiva — disse Elmar.
Se União e PP se juntassem numa federação, teriam uma bancada de 109 deputados na Câmara e 13 senadores. Na Câmara, o partido com mais parlamentares hoje é o PL, com 99. Já a federação entre PT, PCdoB e PV, tem 81. No Senado, o PSD tem 15 membros e o PL, 12.
As legendas que formarem federações devem atuar de forma conjunta no Legislativo e nas eleições majoritárias. No pleito para prefeito, só é possível lançar um candidato por federação, o que pode travar acordos regionais, em ano de disputas municipais.
Ontem, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, disse que o partido está agora focado em construir candidaturas para as eleições municipais e para 2026 , mas não descartou a chance de federação:
— Essas ações sempre são articuladas, e o Rueda saberá trabalhar esses assuntos.
No União, a promessa da nova gestão de Rueda é abrir mais debates sobre o posicionamento da sigla e a organização partidária. Uma das questões é avaliar sobre a manutenção do apoio ao governo Lula. Figuras importantes da legenda acreditam que, em curto prazo, a discussão não deve ser posta. A situação atual é vista como cômoda, já que a legenda comanda as pastas de Turismo (Celso Sabino), Comunicações (Juscelino Filho) e Integração (Waldez Góes), ao mesmo tempo que tem liberdade para o posicionamento de parlamentares de oposição.
Uma possível mudança de rota poderia ainda atrapalhar a candidatura de Elmar Nascimento à sucessão de Lira na presidência da Câmara, com possibilidade de retaliação do governo. Além disso, há receio da perda de influência sobre a máquina federal e o poder de barganha nas negociações com a articulação política do governo Lula.
Por outro lado, há pressões crescentes para que a sigla dê apoio a Caiado em seu projeto de disputar a Presidência da República em 2026. Na disputa entre Bivar e Rueda, Caiado saiu fortalecido e terá influência relevante sobre a cúpula.
Decisões colegiadas
Na quarta-feira, após o partido abrir o processo que pode afastar ou expulsar Bivar, Rueda prometeu diálogo sobre todos os assuntos.
— A Executiva vai deliberar sobre isso (apoio ao governo). A partir de junho (oficialmente o mandato de Bivar vai até 31 de março), o partido vai ter um novo norte, de diálogo, da democracia, do colegiado. E pode ter certeza de que esse colegiado vai trilhar o caminho que o partido vai tomar em relação ao governo, em relação aos estados — disse Rueda.
ACM Neto, vice-presidente eleito, fez questão de afirmar, porém, que não há o que “reavaliar” em relação ao apoio ao governo porque o partido sequer se reuniu para debater o assunto durante a transição.
— A partir da reorganização interna, nós vamos sentar para discutir política. A pauta mais imediata é a eleição municipal. Nós não vamos tratar neste momento de nada que não seja isso, o foco principal — disse o ex-prefeito de Salvador.
No fim de 2022, a entrada do União Brasil no governo foi debatida entre Lula, Bivar e o senador Davi Alcolumbre (AP), sem passar pelo crivo da maioria dos parlamentares da sigla.
(Colaborou Caio Sartori)
Fonte: O GLOBO
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