Neste mês, estão previstos encontros em Brasília com o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, na próxima quarta-feira, e com o presidente francês, Emmanuel Macron, no dia 27

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem construído seu calendário internacional para potencializar os objetivos do Brasil no G20, grupo das maiores economias do mundo presidido pelo país até novembro e prioridade da política externa brasileira neste ano. A ideia é que isso siga sendo feito ao longo de 2024 em novas agendas e encontros com autoridades internacionais.

O país está na presidência rotativa do grupo e definiu como prioridade o combate à fome e à pobreza, a reforma da governança global — e de instrumentos como o Conselho de Segurança das Nações Unidas — e o desenvolvimento sustentável. As viagens de Lula têm servido não só para tratar desses pontos, mas também para colocar em prática as ações defendidas pelo país no fórum.

Neste mês, estão previstos encontros de Lula em Brasília com o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, na próxima quarta-feira, e com o presidente francês, Emmanuel Macron, no dia 27 — respectivamente, líderes de um país observador permanente e de um país membro do G20.

Com o francês, a pauta trará questões ambientais na tentativa do governo brasileiro de aproximar o país da Cooperação Amazônica — grupo de oito países sul-americanos que possuem o bioma amazônico. A avaliação do governo brasileiro é de que a França, por meio da Guiana Francesa, pode ter uma contribuição de peso na agenda ambiental e desenvolvimento sustentável da região, além de benefícios próprios.

Governança global

A França já demonstrou publicamente apoio às prioridades da presidência brasileira e vê como agenda comum a redução da pobreza, a luta contra a fome e os investimentos na transição ecológica.

Neste ano, Lula participou na Etiópia da Cúpula da União Africana (UA), que passou a integrar o G20 com amplo apoio brasileiro; da sessão especial com chefes de governo da Comunidade do Caribe (Caricom), na Guiana; e da cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), em São Vicente e Granadinas.

Esses fóruns são representativos para os países em desenvolvimento e com menos espaço na cena internacional e nos espaços de poder. A ideia é que a presença de Lula nessas agendas, enquanto presidente do G20, seja vista como um reforço da pauta da reforma da governança global ao aproximar na prática esses países do fórum e fazer um convite direto para a participação nas discussões em andamento.

Lula tem defendido intensamente ao longo do seu mandato a agenda de países em desenvolvimento, que passa por questões sociais e ambientais. Além disso, o presidente defende publicamente a reforma da governança global para trazer mais representatividade para esses países em espaço de poder, assim como a melhoria das suas condições de investimento.

Em seus discursos internacionais e em reuniões de alto nível, Lula tem chamado os países a participarem da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, que será uma das principais medidas da presidência brasileira no G20. A ideia é que as nações, além de aderirem ao projeto, também façam contribuições para a sua construção.

Iniciativa contra a fome

Por exemplo, o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed Ali, ouviu de Lula durante uma reunião privada o convite para integrar a Aliança. O tema também esteve presente em seu discurso durante a Cúpula da UA, no Caricom e na Celac.

Para intensificar esse trabalho, Lula tem sido acompanhado nas agendas internacionais pelo ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, responsável pela construção da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, que tem como sua prioridade angariar os apoios necessários.

Na Etiópia, Dias teve como principal resultado a aprovação no documento final da Assembleia a disposição dos países membros a participar da Aliança Global. Para isso, o ministro dedicou seus dias na África para encontros bilaterais, que resultaram no apoio de 54 países da União Africana e 31 da Liga Árabe.

— Estamos trabalhando para que os países ou fóruns participem da fase de construção. Por que um país recebe um prato feito e é obrigado a participar? Trabalhamos para ver se em junho temos os termos bem desenhados e, entre julho e novembro, queremos ter o maior número de países com adesão — afirmou o ministro ao GLOBO, ressaltando que o sucesso da Aliança depende do maior número possível de participantes.

Ainda na Etiópia, a primeira-dama Janja da Silva teve agendas próprias para tratar do tema da fome, que também está entre suas prioridades em sua atuação no governo. Na programação de Janja, estava uma visita ao Centro de Alimentação Yetesda Birhan, que alimenta cerca de 37 mil pessoas por dia na capital da Etiópia, Adis Abeba; uma visita à Escola Makedala, que tem um projeto de agricultura escolar; e uma visita ao Orfanato Zewditu Meshesha, que abriga mais de 100 crianças.

Outro movimento feito por Lula para impulsionar a agenda do G20 ocorreu no Egito, quando pediu o apoio do presidente Abdel Fattah al-Sisi para a proposta de reforma da governança global.

Reforma da ONU

Essa prioridade tem aparecido de maneira recorrente nos discursos do petista.

— O que é lamentável é que as instituições multilaterais, que foram criadas para ajudar a solucionar esses problemas (conflitos internacionais), elas não funcionam — afirmou, no Egito, ao defender mudanças no Conselho de Segurança da ONU. — É preciso acabar com o direito de veto dos países, é preciso que os membros do Conselho de Segurança sejam atores pacifistas e não atores que fomentam a guerra.

No Caribe, as agendas de Lula passaram pelo tripé da gestão brasileira no G20. Além do aceno à reforma da governança global, a região tem alto interesse nas discussões ambientais. Por ser formado por países insulares, o Caribe é altamente vulnerável aos impactos das mudanças climáticas e, por isso, tem também interesse no desenvolvimento sustentável.

Além disso, o Caribe importa a maior parte dos alimentos consumidos, trazendo a pauta da segurança alimentar para uma posição relevante para o cenário local.

Para o resto do ano, há ainda a previsão de que Lula participe da Cúpula dos Brics, na Rússia, e da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, como ocorre anualmente. Lá, pela primeira vez, haverá, às margens da Assembleia, uma cúpula de chanceleres do G20, proposta pela presidência brasileira de maneira inédita.

Além das reuniões de alto nível em viagens internacionais, Lula já esteve em Brasília com duas autoridades de peso para as pautas do G20: o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov.

Com o americano, além de receber apoio ao tripé de prioridades da presidência brasileira no G20, Lula discutiu parcerias em agricultura, segurança alimentar e infraestrutura na África. No encontro, o presidente ainda ressaltou a urgência em abordar o tema da dívida externa dos países africanos.

Uma das possibilidades em discussão no G20 é a troca de dívida por investimentos, chamado “debt swap”, que pode ser aplicada na questão africana. Os americanos são favoráveis a essa proposta brasileira e a discussão já foi abordada em outras reuniões entre os dois governos.


Fonte: O GLOBO