Técnico deve ser anunciado pelo clube paranaense nesta segunda-feira

Falta apenas a confirmação oficial, mas Cuca já pode ser considerado o novo técnico do Athletico no ano do centenário do clube. O último trabalho de Cuca foi no Corinthians, numa passagem relâmpago. Por causa do envolvimento do treinador num caso de abuso sexual de uma menor de idade ocorrido em 1987, na Suíça, houve uma forte reação da torcida corintiana, e ele pediu demissão dois jogos depois.

Agora, o treinador retorna livre da condenação após o Tribunal Regional de Berna-Mittelland, na Suíça, ter anulado o julgamento por falhas processuais. Na ocasião, o então jogador do Grêmio, que estava em excursão em Berna, foi julgado à revelia. 

A decisão de janeiro deste ano, no entanto, não entrou no mérito da acusação. Ou seja, como não houve um novo julgamento, a anulação não trata da culpa ou da inocência de Cuca. Mas como o processo foi extinto, tecnicamente, ele não pode ser considerado culpado de qualquer acusação.

Confira uma lista de perguntas e respostas sobre o caso:

Cuca foi inocentado pela Justiça da Suíça?

As novas decisões da Justiça da Suíça não são uma revisão de inocência ou culpabilidade de Cuca do julgamento inicial, e sim da anulação dele. O que resulta no fato de que, para todos os efeitos, Cuca é inocente de qualquer acusação. Contudo, não é correto dizer que ele foi inocentado do processo, já que o mesmo foi anulado.

Por que o processo de Cuca foi anulado?

Cuca foi julgado sem representação legal, já que seu advogado na época (Peter Stauffer, contratado pelo Grêmio) deixara o caso um ano antes da audiência principal. Além disso, não havia o registro de um domicílio legal do brasileiro. Ou seja: ele não pôde ser comunicado oficialmente nem do julgamento e nem da decisão. Diante disso, a juíza Bettina Bochsler, do Tribunal Regional de Berna-Mittlelland, o mesmo onde o técnico fora condenado, em 1989, entendeu que houve falha na forma como o caso foi conduzido. Em que pese o negligenciamento do caso por ele e pelos demais acusados na época.

Cuca pode voltar a assumir um time?

O treinador nunca foi proibido de exercer sua profissão. Mas, como passou a haver forte reação negativa de parte da sociedade a cada clube que o contratava, o treinador decidiu dar uma pausa na carreira. Deixou o Corinthians, em abril de 2023, depois de apenas dois jogos no comando, e anunciou a contratação de advogados para revisitar o caso e provar sua inocência (o que tecnicamente não ocorreu com a decisão publicada esta semana).

A anulação do processo de Cuca também se estende aos outros condenados?

Não. O tribunal entende que cada condenação é um processo isolado. Todos eles precisariam fazer o mesmo que Cuca e buscar reabrir seus casos. De toda forma, um precedente foi aberto, já que Peter Stauffer também representou Henrique Etges e Eduardo Hamester. Os dois e Cuca foram condenados na época a 15 meses de prisão e pagamento de multa por praticarem sexo com uma garota de 13 anos e coerção. Apenas Fernando Castoldi contou com um defensor diferente. Ele foi considerado cúmplice e recebeu punição mais branda: três meses de detenção e multa.

O que aconteceu com a garota abusada por Cuca e os outros jogadores?

O Tribunal Regional de Berna-Mittlelland tentou localizar Sandra Pfäiffli após a reabertura do caso e descobriu que ela não está mais viva. Encontrou um herdeiro, Sven Sghluep, que optou por não entrar no processo. Fosse viva, a vítima teria hoje 49 anos.

O que foi o Escândalo de Berna?

O caso ocorreu em 1987, durante excursão do Grêmio pela Europa. Ao saberem que o time brasileiro estava hospedado na cidade suíça, Pfäffli e mais dois amigos bateram na porta do quarto do hotel em que estavam os quatro jogadores e pediram por camisas. Em depoimentos na época, os dois garotos alegaram que os gremistas seguraram a jovem no local. Cerca de 30 minutos depois, ela apareceu na recepção alegando ter sido estuprada.

Cuca, Henrique Etges e Eduardo Hamester e Fernando Castoldi foram detidos e passaram cerca de um mês na prisão. Saíram mediante pagamento de fiança e retornaram ao Brasil, onde foram recebidos pela torcida e até parte da imprensa como vítimas. O julgamento e condenação só ocorreriam cerca de dois anos depois.


Fonte: O GLOBO