É a primeira vez que a chancela internacional é concedida para a área inteira de um município; agora, Brasil tem seis geoparques mundiais

Nesta quarta, Uberaba (MG) se torna o quinto geoparque mundial - título concedido pela Unesco - do Brasil, e o primeiro do Sudeste. A relevância geológica, através dos mais de 2500 fósseis registrados no município, que possui 31 geossítios, foi o principal destaque da candidatura da "cidade dos dinossauros", como é apelidada. 

Veio de Uberaba, por exemplo, o primeiro ovo fóssil descrito no Brasil, em 1946, e o registro do maior organismo que já pisou em solo brasileiro desde a formação do planeta Terra: o Uberabatitan riberoi, que tinha até 28 metros de comprimento e 14 metros de altura.

O evento da Unesco, às 12h, será transmitido em telão no centro da cidade. A partir das 11h, haverá uma programação gratuita, com shows musicais e até carreata. Atualmente, existem 195 geoparques mundiais, em 48 países. No Brasil, Uberaba será o sexto do Brasil, que já conta com o Geoparque Araripe, entre Ceará, Pernambuco e Piauí; Geoparque Seridó, no Rio Grande do Norte; Geoparque Caminhos dos Cânions do Sul, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul; Geoparque Caçapava do Sul, no Rio Grande do Sul; Geoparque Quarta Colônia, no Rio Grande do Sul.

Comitiva da Unesco e integrantes do Comitê Técnico Científico da candidatura num dos locais de escavação - Geossítio Serra da Galga, Uberaba; Luiz Ribeiro de colete verde. — Foto: Divulgação Prefeitura de Uberaba

A paleontologia é hoje um eixo importante das atividades uberabenses. Além do 31 geossítios, a cidade tem o Complexo Cultural e Científico de Peirópolis, que conta com o Museu dos Dinossauros e o Centro de Pesquisas Paleontológicas Llewellyn Ivor Price, atualmente referência mundial para o estudo das espécies do período Cretáceo Superior (De 80 a 65 milhões de anos atrás), e onde se guarda boa parcela dos fósseis de dinossauros descritos no país.

Apesar da Chapada do Araripe concentrar hoje grande parte das pesquisas paleontológicas do mundo, o trabalho de pesquisa desse campo começou, no Brasil, em Uberaba. O ápice dos estudos aconteceu em 2004, com a descoberta de fósseis de uma espécie que jamais havia sido descrita: o Uberabatitan riberoi, um titanossauro, o grupo dos dinossauros de maior porte, são os maiores do mundo. O nome é uma homenagem ao paleontólogo Luiz Ribeiro, geólogo da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, um dos pioneiros das escavações em Uberaba e responsável pela elaboração da candidatura à Unesco.

— O Uberabatitan é o maior organismo que já pisou em solo brasileiro desde a formação do planeta Terra. Já encontramos mais de 200 fósseis, de diversos fragmentos, e foram descritos cinco indivíduos da espécie - explica Ribeiro, que celebra a homenagem e o título concedido agora à cidade. — Posso morrer que já estou imortalizado pela ciência com o nome do maior dinossauro do Brasil.

Fóssil de um úmero de titanossauro no Geossítio Santa Rita, Uberaba — Foto: Divulgação / Prefeitura de Uberaba

Segundo os estudos de Ribeiro, 90% das rochas de Uberaba são fossilíferas. Por isso, o município vem avançando na sua legislação de proteção e monitoramento. Atualmente, por exemplo, qualquer obra que envolva perfuração de rocha deve contar com uma equipe de paleontólogos para monitorar o trabalho. Além disso, estão sendo elaboradas as "zonas geológicas" da cidade, com regras de construção para cada uma.

— Uberaba é o maior sítio urbano do Brasil. Onde se abre uma rua ou um prédio pode aparecer fóssil. Se não houver monitoramento das rochas, o material pode acabar sendo jogado fora — diz Ribeiro.

Além do que já foi descoberto, em breve novos registros serão feitos, diz Ribeiro. Dois dinossauros estão em fase final de publicação. A facilidade de se descobrir novos materiais acontece porque Uberaba é o segundo maior sítio de nidificação (onde dinossauros botavam ovos) do Mundo, atrás somente de um sítio da Argentina.

Chico Xavier e gado zebu

O título da Unesco não se justifica somente pelo patrimônio geológico de Uberaba. A chancela, que considera tanto atrativos geológicos e turísticos quanto o trabalho de preservação e educação ambiental, vai reconhecer a importância de outros dois eixos locais: a espiritualidade, representada pelo médium Chico Xavier, que viveu em Uberaba, e a pecuária sustentável, devido à criação do gado zebu, exportado principalmente pela cidade mineira.

Museu dos Dinossauros, em Peirópolis. — Foto: Divulgação Prefeitura de Uberaba

Por causa da peregrinação de Chico Xavier, o município recebe hoje muitos encontros religiosos, se transformando em uma importante rota turística do segmento. O trabalho sobre o gado zebu também atrai diversos turistas, como nas feiras internacionais realizadas na cidade, além do trabalho científico por causa do cruzamento de espécies e melhoramento genético.

Prefeita de Uberaba, Elisa Araújo (PSD), prevê que o título beneficiará a atração de investimentos internacionais e o desenvolvimento econômico da cidade. Ela explica que nos últimos três anos houve investimentos de R$10 milhões na melhoria da rede turística e a expectativa é receber cada vez mais turistas e pesquisadores.

Mas, além desse impacto, ela destaca como o prêmio representa orgulho para o povo uberabense.

— Trabalhamos muito com educação e valorização do meio ambiente. Explicar na escola o que é morar num geoparque ajuda no sentimento de pertencimento. A nossa cidade se torna mais inclusiva, somos um povo bastante acolhedor. E o título será uma grande virada de chave para o desenvolvimento, beneficiando do pequeno empreendedor ao grande empresário da cidade — celebra Araújo.

O título de Uberaba contou com o trabalho principalmente de quatro instituições, signatárias da candidatura: Prefeitura Municipal de Uberaba (PMU); Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM); Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).


Fonte: O GLOBO