Conversei com algumas pessoas no governo e com o próprio Campos Neto sobre o assunto recentemente. A PEC permitirá que o BC defina sua própria política de pessoal, inclusive os salários. Perguntei a Campos Neto se isso não poderia criar uma casta dentro funcionalismo público, e ele afirmou que todo o banco central autônomo tem independência administrativa e financeira.
Ele disse que a receita para esses aumentos viriam do próprio BC. A receita viria da senhoriagem, que é o lucro que se tem com a emissão, administração e circulação da moeda, e algumas taxas cobradas pelo Banco Central.
Da parte do governo, já ouvi de fontes que consideram que isso daria uma autonomia excessiva, que o BC ficaria como se fosse uma ilha dentro do governo e que isso seria inaceitável.
Em entrevista à "Folha de São Paulo" publicada nesta segunda, ele foi questionado sobre uma expressão que me disse em uma nota postada aqui no blog, de que o Banco Central estava derretendo.
Disse que estava perdendo sete funcionários por dia, pois pessoas qualificadas estavam saindo para bancos para outras atividades, por conta do salário defasado. Na conversa comigo, ele admitiu que essa defasagem foi criada principalmente no governo Bolsonaro, quando o ministro Paulo Guedes fez uma política salarial de não aumento aos servidores.
Esta seria a origem dessa tensão, não só no Banco Central, mas em todo funcionalismo. O governo Lula chegou dando um aumento de 9%, mas o servidor perdeu renda ao longo de quatro anos. Esse ponto que está em discussão com todo o funcionalismo aliás.
Campos Neto disse à Folha que tem conversando com o ministro Haddad sobre o assunto para dar um “conforto” em relação aos pontos em que eles têm dúvidas. Ele é o tipo de pessoa que vai tentando convencer, argumentar e superar os conflitos. Assim, ele exerceu a presença dele como no Banco Central toda a tensão que houve no começo do governo Lula, pelo fato dele ter sido escolhido pelo governo do Bolsonaro e de participar de reuniões e em grupos de WhatsApp bolsonarista.
Ainda hoje, ele e a autonomia do Banco Central são criticados pelo PT, mas sobre isso, acho importante destacar um dado de hoje: a Turquia está com a inflação em 67% no acumulado do ano porque fizeram uma intervenção do Banco Central. O governo de Recep Tayyip Erdoğan quis baixar os juros na marra, a inflação subiu. A de educação e alimentos supera 100%.
O Banco Central autônomo fazendo política monetária pode ser criticado, mas é parte fundamental do esforço do país para manter a inflação baixa e sob controle. O pior que se pode fazer é o que foi feito pelo ditador da Turquia.
Fonte: O GLOBO
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