Expectativa de crescimento da carga em março passou de 4,2% para 5,7%. Haverá aumento em todas as regiões do Brasil
A poucos dias do fim do verão, a chegada da nova onda de calor no Brasil, que levou o consumo de energia a um novo recorde na última sexta-feira, fez o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) elevar a projeção de aumento no consumo de eletricidade para o mês de março. A expectativa de crescimento passou de 4,2% para 5,7%, de acordo com o Programa Mensal de Operação (PMO), que é divulgado toda semana.
Segundo o ONS, haverá avanço no consumo de energia elétrica em todas as regiões este mês. O maior crescimento projetado é no Nordeste, com 8,8%, seguido de Norte (8,5%), Sudeste/Centro-Oeste (5,8%) e Sul (1,5%). Os aumentos são em relação ao mesmo período do ano passado.
Ontem, o ONS informou que na última sexta-feira às 14h37 o país bateu o segundo recorde de consumo no ano, com 102.478 megawatts (MW). Antes disso, o maior patamar havia ocorrido em 7 de fevereiro, quando foram registrados 101.860 MW.
“O comportamento da carga foi influenciado por questões climáticas, principalmente pelas elevadas temperaturas em quase todo o país, que teve o registro de mais uma onda de calor”, informou o órgão.
Também ontem, o Rio de Janeiro atingiu a maior sensação térmica desde 2014, quando o Sistema Alerta Rio começou a fazer as medições. O município registrou 62,3ºC de sensação térmica na estação de Guaratiba, às 9h55m.
Preocupação com cenário para 2025
Outro problema é que o forte calor vem acompanhado de menos chuvas, de acordo com o ONS. “A previsão mensal para março indica a ocorrência de afluências (chuvas) abaixo da média histórica para os subsistemas Sudeste/Centro-Oeste, Nordeste e Norte e acima da média histórica para o subsistema Sul.”
O ONS lembra, por exemplo, que no início desta semana permanece a condição de bloqueio atmosférico, com a precipitação restrita às bacias dos rios Jacuí e Uruguai (na região Sul) e ao trecho baixo dos rios Tocantins, Xingu e Tapajós (nas regiões Centro-Oeste e Norte).
Especialistas ouvidos pelo GLOBO já se mostram preocupados com o cenário futuro.
Demanda por energia tem alta durante todos os meses em 2024 — Foto: Arte Globo
Mikio Kawai Jr., diretor da consultoria e empresa de energia Safira Holding, lembra que os recordes consecutivos por conta das ondas de calor que ocorrem no Brasil acontecem em meio a um período úmido (de chuvas) que se encerra em março e foi dos piores dos últimos 12 anos.
— As vazões foram bem aquém da média histórica. Isso já comprometeu o ano. As perspectivas não são boas também para o restante do ano, exceto com as chuvas que ocorrem no Sul — diz Kawai Jr.
Segundo ele, esse cenário exige atenção. Em geral, para preservar o nível de água dos reservatórios, o despacho por ordem de mérito das usinas térmicas é aconselhado. Ou seja, são acionadas primeiras as unidades que têm um custo de energia menor.
Se o ONS acionar as termelétricas fora da ordem de mérito, explica Kawai, os consumidores serão muito onerados.
Edvaldo Santana, ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), ressalta que o quadro para o ano que vem vai depender muito do próximo período de chuva, que começa em novembro:
— A situação dos reservatórios não é confiável, mas os riscos ainda não são grandes. Por enquanto, a expectativa é de chuva dentro da média, mas não é bom para 2025, que dependerá muito do próximo período de chuva. Os reservatórios estariam mais baixos se não fossem as renováveis variáveis, sobretudo a solar, que tem gerado bastante.
Para Santana, a segurança energética do Brasil para 2025 também depende de como estarão os reservatórios em novembro. Em abril começa o período seco, que vai até outubro.
— É interessante que o governo não olhe só o lado da oferta, acionando mais termelétricas. Isso aumenta a tarifa. É essencial olhar também o lado da demanda. Isso significa dar atenção para a redução do consumo. Sei que é muito difícil, pois o governo interpreta como racionamento. Mas é uma medida prudente, a ser usada mais adiante — afirma o ex-diretor da Aneel.
Ele destaca que os recordes de consumo de energia consecutivos são explicados pelo calor, que também tem atingido recordes.
Reservatórios estão limite do que é satisfatório, dizem especialistas
Por outro lado, o ONS lembra que a previsão é que o nível dos reservatórios do Centro-Oeste/Sudeste, os principais do país, chegue no fim de março a 66,8%, maior que os 65,8% da previsão anterior, na semana passada.
O mesmo ocorre com os do Sul, cujo nível subiu de 64,3% para 67,8%. Já no Nordeste houve queda na estimativa, de 71,7% para 70,8% nas duas últimas semanas, assim como no Norte, de 96% para 95%. Para especialistas, o país está no limite do que se considera um patamar satisfatório, sobretudo com a chegada do período sem chuvas.
“As condições favoráveis dos reservatórios são reflexo do trabalho do ONS em administrar os recursos, em especial diante das projeções para Energia Natural Afluente (chuvas), que seguem inferiores à média histórica para o atual período tipicamente úmido”, destacou o órgão.
Procurado ontem, o Ministério de Minas e Energia não respondeu se o país está preparado para enfrentar os picos de consumo de eletricidade.
Colaborou Karolini Bandeira
Fonte: O GLOBO
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