Líder da BBM Logística vê futuro mais eficiente para sua frota de 4,5 mil caminhões com uso intensivo de dados sobre rotas com a ajuda da inteligência artificial
A BBM Logística transporta em caminhões cerca de 10 milhões de toneladas de cargas por ano, de papel a produtos para a Amazon. É uma das maiores operadoras logísticas do país. Sua frota chega a 4,5 mil veículos, e o faturamento passa dos R$ 2 bilhões. Mesmo atuando em um setor tradicional, a empresa elegeu a digitalização e o uso de inteligência artificial (IA) como seus diferenciais no mercado.
Para Antonio Wrobleski, presidente da BBM Logística, empresas que não abraçarem a digitalização estarão obsoletas em cinco anos, o que vale para “fabricante de pregos ou sabonete”.
A transportadora é controlada pelo fundo de private equity Stratus, que se especializou em empresas de setores fragmentados da economia brasileira. Via aquisições de pequenas transportadoras, a BBM busca ganhar escala.
Os controladores planejaram oferecer ações da companhia na Bolsa para acelerar o crescimento, mas a turbulência no mercado causada pela pandemia adiou os planos. O IPO continua no foco, embora não deva sair antes de 2025, após os planos de digitalização serem concluídos, diz o executivo em entrevista ao GLOBO.
Para onde a BBM está caminhando na inovação em um setor tão tradicional como o de transporte de cargas?
Inovação virou uma ferramenta. Nosso primeiro passo foi fazer uma plataforma digital. Temos milhares de transportadoras no país, mas 95% têm menos de cinco caminhões, tornando complexa a digitalização nesse universo. Fomos buscar isso como um diferencial no mercado. Quem não se digitalizar, em cinco anos estará morto. Seja um fabricante de pregos ou sabonete. Mas queremos desmistificar entre os funcionários o conceito de inovação. Não é só tecnologia. Criamos um concurso interno para os 6 mil funcionários trazerem sugestões de todos os tipos. E temos um departamento de inovação.
Há quanto tempo existe essa plataforma? Que vantagens ela trouxe para a operação?
Começamos há cinco anos. Foi um projeto com a Totvs (empresa brasileira de software). Atrasou por causa da pandemia e, até o fim deste ano, queremos que os dois segmentos mais importantes da empresa de entrega ponta-a-ponta, incluindo a carga fracionada (quando um caminhão leva cargas de clientes distintos), já estejam nela.
Aí não entra nossa divisão de e-commerce. Com a plataforma, vamos ter mais eficiência, já que é a primeira vez que colocamos todo o ecossistema num único lugar. Por exemplo, temos o roteirizador, que dá a melhor rota para o motorista, mais curta e barata. E assim reduzimos também emissões de carbono. E posso espelhar ao cliente tudo o que acontece no transporte da carga pela plataforma.
E o próximo passo?
Depois vem o pulo do gato. Acumulo informações sobre quantos quilômetros rodamos por mês, quantos litros de combustível gastamos, que tipo de viagem fizemos. Aí começo a trabalhar os dados que ficam na nuvem, e eles são transformados em ações efetivas. Quais os melhores horários para mandar o caminhão e o cliente receber a carga? Vamos ter dados sobre tráfego nas cidades e estradas, demanda de clientes, possíveis restrições de transporte, condições climáticas — e tudo isso traz mais segurança às viagens. O grande benefício é que a inteligência artificial vai trazer as informações até as pessoas, em vez de as equipes analisarem dados do passado de forma manual. Esses projetos devem estar concluídos em 2025.
Qual é o investimento?
É investimento constante.
A BBM adquiriu uma empresa que tem foco em comércio eletrônico...
Umas das aquisições nessa frente foi a de uma startup de logística chamada Diálogo, que tem foco em e-commerce. Com isso, foi possível montar uma operação que chega até o consumidor final. Temos grandes projetos, entre eles o de redesenho de malha de entregas, como aproveitar os equipamentos que hoje fazem a entrega de carga fracionada com o e-commerce. No fim tudo é uma entrega, de um CEP a outro. E no meio tem um veículo. O desafio é como eu junto as duas coisas.
Qual a sua avaliação das estradas do país?
A avaliação é que são estradas ainda precárias. Faltam ferrovias no Brasil, e o que estamos vendo nesse setor é um movimento da iniciativa privada fazendo o transporte por trilhos. São produtores de soja, por exemplo. Existe um conceito básico em logística de que caminhões só deveriam rodar até 1.000 km para transporte. Acima disso, a carga deveria ser transportada por outros meios, barco, trem, avião (que é mais caro). Nós participamos com a Norcoast do projeto chamado BR do Mar (que incentiva transporte de cargas por navio em portos brasileiros, a chamada cabotagem). É um projeto conjunto, e eles vão operar a cabotagem. É um primeiro passo de coisas diferentes para o nosso setor.
Para Wrobleski, faltam ferrovias no país, e as estradas ainda são precárias — Foto: Divulgação
O governo federal deverá conceder, pela primeira vez, hidrovias ao setor privado. O que o senhor acha disso?
É uma alternativa e ajuda a trazer mais eficiência ao transporte, além de tirar 800 caminhões da estrada (no transporte por barcaças). Mas é preciso pensar nas contingências, falta de chuva, por exemplo.
O governo também está discutindo um programa para incentivar a renovação da frota de caminhões no Brasil. Isso é importante?
A frota brasileira é antiga, tem, em média, 22 anos. Um caminhão de dez anos não deveria estar mais rodando, dependendo de sua utilização. Mas a idade média da frota já chegou a 32 anos. Houve um programa de renovação no governo Dilma que baixou para 15 anos. Mas hoje não há financiamento. Com toda a tecnologia que foi colocada nos caminhões, um veículo novo passou de R$ 400 mil para R$ 800 mil. Se tiver algum estímulo do governo, nós vamos entrar. A maior parte da nossa frota é terceirizada, mas estamos repensando esse modelo. Mas não é subsídio que queremos, é financiamento.
E o preço dos combustíveis, como impacta seu negócio?
O preço do combustível sempre representou 35% da nossa cesta de custos. Hoje representa 55%. Acho que o combustível tem uma defasagem para cima de 15% a 18%. O preço poderia ser menor. Porque tem uma coisa que ninguém fala: a gente produz 80% do petróleo que consome, mas não tem capacidade de refino. Manda o bruto para fora e traz o importado.
A BBM opera no Mercosul. Como está a operação na Argentina, com as mudanças promovidas pelo novo governo do país?
Operar é tranquilo. Temos uma filial, uma estrutura lá. Mas, até pouco tempo, a gente não estava conseguindo receber (por causa da proibição do antigo governo de saída de dólares do país). Desde 13 dezembro passado, porém, isso começou a mudar. Mas ainda temos um passivo anterior, que está bloqueado.
A BBM planejava abrir capital na B3, mas isso não aconteceu. Os planos de fazer um IPO ainda existem?
Somos listados na Bolsa, divulgamos resultados, e estava tudo pronto para a oferta de ações. Mas veio a pandemia e adiamos. O IPO (oferta pública inicial de ações), no entanto, não está descartado, já que é uma ferramenta que vai nos ajudar a crescer. Mas acho que os IPOs só vão voltar em 2025.
O que espera da economia este ano?
A BBM está esperando crescer 15% em 2024. O Produto Interno Bruto (PIB) do país deve crescer cerca de 2,3% este ano, os juros vão cair mais. Acho que o grande desafio deste ano é buscar alavancagem (financiamento). Mas começo a ver um pouco mais de crédito. A gente sempre vê previsões com excesso de otimismo e pessimismo para o país, mas mediadas por fatores políticos. Isso deve ser descartado. Não estamos vendo nenhuma grande mágica para a economia. Acho que tem muito trabalho a fazer. Eu mesmo estou trabalhando 14 horas por dia.
Fonte: O GLOBO
E o próximo passo?
Depois vem o pulo do gato. Acumulo informações sobre quantos quilômetros rodamos por mês, quantos litros de combustível gastamos, que tipo de viagem fizemos. Aí começo a trabalhar os dados que ficam na nuvem, e eles são transformados em ações efetivas. Quais os melhores horários para mandar o caminhão e o cliente receber a carga? Vamos ter dados sobre tráfego nas cidades e estradas, demanda de clientes, possíveis restrições de transporte, condições climáticas — e tudo isso traz mais segurança às viagens. O grande benefício é que a inteligência artificial vai trazer as informações até as pessoas, em vez de as equipes analisarem dados do passado de forma manual. Esses projetos devem estar concluídos em 2025.
Qual é o investimento?
É investimento constante.
A BBM adquiriu uma empresa que tem foco em comércio eletrônico...
Umas das aquisições nessa frente foi a de uma startup de logística chamada Diálogo, que tem foco em e-commerce. Com isso, foi possível montar uma operação que chega até o consumidor final. Temos grandes projetos, entre eles o de redesenho de malha de entregas, como aproveitar os equipamentos que hoje fazem a entrega de carga fracionada com o e-commerce. No fim tudo é uma entrega, de um CEP a outro. E no meio tem um veículo. O desafio é como eu junto as duas coisas.
Qual a sua avaliação das estradas do país?
A avaliação é que são estradas ainda precárias. Faltam ferrovias no Brasil, e o que estamos vendo nesse setor é um movimento da iniciativa privada fazendo o transporte por trilhos. São produtores de soja, por exemplo. Existe um conceito básico em logística de que caminhões só deveriam rodar até 1.000 km para transporte. Acima disso, a carga deveria ser transportada por outros meios, barco, trem, avião (que é mais caro). Nós participamos com a Norcoast do projeto chamado BR do Mar (que incentiva transporte de cargas por navio em portos brasileiros, a chamada cabotagem). É um projeto conjunto, e eles vão operar a cabotagem. É um primeiro passo de coisas diferentes para o nosso setor.
Para Wrobleski, faltam ferrovias no país, e as estradas ainda são precárias — Foto: Divulgação
O governo federal deverá conceder, pela primeira vez, hidrovias ao setor privado. O que o senhor acha disso?
É uma alternativa e ajuda a trazer mais eficiência ao transporte, além de tirar 800 caminhões da estrada (no transporte por barcaças). Mas é preciso pensar nas contingências, falta de chuva, por exemplo.
O governo também está discutindo um programa para incentivar a renovação da frota de caminhões no Brasil. Isso é importante?
A frota brasileira é antiga, tem, em média, 22 anos. Um caminhão de dez anos não deveria estar mais rodando, dependendo de sua utilização. Mas a idade média da frota já chegou a 32 anos. Houve um programa de renovação no governo Dilma que baixou para 15 anos. Mas hoje não há financiamento. Com toda a tecnologia que foi colocada nos caminhões, um veículo novo passou de R$ 400 mil para R$ 800 mil. Se tiver algum estímulo do governo, nós vamos entrar. A maior parte da nossa frota é terceirizada, mas estamos repensando esse modelo. Mas não é subsídio que queremos, é financiamento.
E o preço dos combustíveis, como impacta seu negócio?
O preço do combustível sempre representou 35% da nossa cesta de custos. Hoje representa 55%. Acho que o combustível tem uma defasagem para cima de 15% a 18%. O preço poderia ser menor. Porque tem uma coisa que ninguém fala: a gente produz 80% do petróleo que consome, mas não tem capacidade de refino. Manda o bruto para fora e traz o importado.
A BBM opera no Mercosul. Como está a operação na Argentina, com as mudanças promovidas pelo novo governo do país?
Operar é tranquilo. Temos uma filial, uma estrutura lá. Mas, até pouco tempo, a gente não estava conseguindo receber (por causa da proibição do antigo governo de saída de dólares do país). Desde 13 dezembro passado, porém, isso começou a mudar. Mas ainda temos um passivo anterior, que está bloqueado.
A BBM planejava abrir capital na B3, mas isso não aconteceu. Os planos de fazer um IPO ainda existem?
Somos listados na Bolsa, divulgamos resultados, e estava tudo pronto para a oferta de ações. Mas veio a pandemia e adiamos. O IPO (oferta pública inicial de ações), no entanto, não está descartado, já que é uma ferramenta que vai nos ajudar a crescer. Mas acho que os IPOs só vão voltar em 2025.
O que espera da economia este ano?
A BBM está esperando crescer 15% em 2024. O Produto Interno Bruto (PIB) do país deve crescer cerca de 2,3% este ano, os juros vão cair mais. Acho que o grande desafio deste ano é buscar alavancagem (financiamento). Mas começo a ver um pouco mais de crédito. A gente sempre vê previsões com excesso de otimismo e pessimismo para o país, mas mediadas por fatores políticos. Isso deve ser descartado. Não estamos vendo nenhuma grande mágica para a economia. Acho que tem muito trabalho a fazer. Eu mesmo estou trabalhando 14 horas por dia.
Fonte: O GLOBO
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