Explicações apontam para a estratégia de dissuasão israelense, contra cidade que guarda importantes bases militares e centros do programa nuclear iraniano

Confirmado por fontes dos governo dos EUA, de Israel e do Irã a múltiplos veículos de imprensa americanos, o ataque israelense ao território iraniano ocorreu nos arredores da cidade de Isfahã, no Oeste do país. A localidade parece ter sido cuidadosamente escolhida pelas forças israelenses para passar uma mensagem: ali se encontram uma das maiores bases aéreas militares do Irã e unidades onde se desenvolve o temido plano nuclear da república islâmica.

Além da esquadrilha de caças e outras aeronaves relevantes das Forças aérea e terrestre iranianas, a base militar de Shahid Beheshti abriga também um importante radar do Exército do Irã.

Em Isfahã, há ao menos uma unidade de pesquisa e desenvolvimento na qual seria possível fabricar armas nucleares, uma vez que o Irã alcance o percentual necessário de enriquecimento de urânio. Não por um acaso, uma das usinas iranianas de enriquecimento de urânio conhecidas pela comunidade internacional fica na cidade vizinha de Natanz.

Observadores internacionais afirmam que o Irã já enriquece urânio a 60% nestas usinas — e este patamar equivale a ter percorrido o caminho mais difícil até conseguir a pasta amarela (yellow cake) que permite a fabricação de uma arma nuclear, segundo a Fundação para a Defesa das Democracias, think tank dos EUA.

Mídia estatal do Irã relatou explosões no noroeste da província central de Isfahã — Foto: AFP

Fontes do governo americano, segundo a imprensa dos EUA, afirmaram que as plantas nucleares não eram alvos da retaliação israelense, e Teerã informou que suas usinas estão seguras após as explosões. Também não havia, até as primeiras horas da manhã, notícia de destruição da base aérea.

Por que atacar esta região sem causar estragos?

Primeiramente, Israel precisava retaliar o primeiro ataque iraniano a seu território em décadas de hostilidades mútuas. É uma questão de força e moral, uma declaração de inadmissibilidade de violação de território ao mesmo tempo em que Tel Aviv reafirma a disposição inabalável de se defender.

Segundo, ainda que aparentemente calculado para não ser "mortal", tanto para infraestrutura quanto para civis, o ataque reafirmou que Israel tem a capacidade de atacar o Irã: suas cidades importantes, com alta concentração populacional; suas instalações essenciais civis e militares (Isfahã tem um dos aeroportos internacionais do país, por exemplo); e seu complexo nuclear.

Terceiro: demonstrar vulnerabilidades do sistema de defesa do Irã. Apesar de Teerã ter informado que três drones foram derrubados "com sucesso", e tudo indicar que o ataque foi de baixa escala e contido, aparentemente houve explosões em instalações militares ou seus arredores. Ou seja, o sistema de defesa iraniano não foi 100% eficiente.

Sistema de mísseis de defesa aérea (esq.) e sistema de mísseis balísticos táticos são exibidos no 45º aniversário da revolução islâmica em Teerã, Irã — Foto: Arash Khamooshi/The New York Times/ 11-02-2024

Combinados, os motivos apontam para a estratégia de dissuasão. Mas o Irã vai recuar? Horas antes da resposta israelense, o ministro de Relações Exteriores do Irã deu entrevista à CNN americana decretando que qualquer ataque mereceria revide imediato e em larga escala da república islâmica. A mesma emissora, porém, afirmou que fontes de Teerã, após as explosões, informaram que não haveria retaliação. Por ora.

Resta saber se o regime do aiatolá Ali Khamenei acredita que ganha mais se dobrando ou dobrando a aposta. E esta é uma equação bem mais difícil de calcular.

*Editora-executiva do GLOBO


Fonte: O GLOBO