Pedro Sánchez fez pronunciamento nesta segunda-feira, após quase uma semana de uma outra declaração em que disse que iria refletir sobre seu futuro político
O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, anunciou nesta segunda-feira que vai permanecer no cargo, depois de ameaçar um pedido de renúncia devido ao que denunciou como uma campanha de assédio pessoal e difamatória contra ele e sua família, incluindo acusações de corrupção contra sua esposa, Begoña Gómez, que foi arquivada na semana passada.
— Decidi continuar, continuar com ainda mais força, se possível — afirmou Sánchez em uma mensagem ao país no Palácio da Moncloa. — Assumo diante de vocês o meu compromisso de trabalhar sem descanso, com firmeza e com serenidade pela regeneração pendente da nossa democracia.
O anúncio acaba com o cenário de incerteza que começou na quarta-feira da semana passada, quando Sánchez disse que tiraria alguns dias para refletir sobre a renúncia, depois de criticar o "assédio" da direita e da extrema direita contra sua família. O gatilho para a crise repentina foi a decisão de um juiz espanhol de considerar uma queixa do Clean Hands, um grupo conhecido por entrar com casos na justiça contra políticos e outros espanhóis proeminentes, contra sua esposa, Begoña Gómez.
O grupo apresentou uma queixa acusando Begoña de tráfico de influência e corrupção, citando como evidência potencial relatos de notícias online que reconheceu poder conter informações falsas. O juiz ordenou uma investigação preliminar com base nesses relatos da mídia online. A acusação foi arquivada pelo MP.
Premier espanhol fez pronunciamento televisionado nesta segunda — Foto: Thomas Coex/AFP
Madri e outras regiões da Espanha foram palco de manifestações em apoio do premier no fim de semana, que pareceram contribuir para a decisão final do socialista.
— [As manifestações] influenciaram decisivamente a minha reflexão — declarou Sánchez, enterrando a possibilidade de novas eleições, apenas um ano após as últimas legislativas.
Sánchez, de 52 anos, está à frente do governo espanhol desde 2018, com três mandatos distintos, depois de estabelecer alianças parlamentares com a extrema-esquerda ou com os nacionalistas catalães e bascos.
— Há apenas uma maneira de reverter esta situação, que a maioria social, como fez nestes cinco dias, se mobilize em uma aposta determinada pela dignidade e o bom senso— disse, em referência ao que considera uma degeneração do debate político.
Desta forma, seria possível impor um "freio à política da vergonha" que o premier disse que o país sofre há muito tempo.
— Isto não envolve o destino de um dirigente determinado, isso é o de menos, trata-se de decidir que tipo de sociedade queremos ser.
Aliança abrangente
Sánchez, de 52 anos, assumiu inesperadamente o poder em junho de 2018, após convocar uma moção de censura que derrubou o governo conservador em meio a um escândalo de caixa dois no Partido Popular conservador. Atualmente, ele é visto como uma das vozes progressistas mais confiáveis do cenário europeu, em um momento de ascensão do populismo e nacionalismo.
Ele então formou governo com o apoio do partido de esquerda Unidas Podemos e de partidos separatistas regionais, que têm esperanças de se separar de Madrid, e imediatamente se tornou uma fonte de esperança para os liberais desesperados por um líder internacional durante uma temporada de vitórias populistas e de extrema direita em todo o continente. Durante seu mandato, a Espanha aprovou legislação progressista e sua economia melhorou.
Pedro Sanchez ao discursar no Congresso de Madri no último dia 12 — Foto: FOTO: Philippe MARCOU / AFP
Mas, no ano passado, ele se tornou cada vez mais impopular, com uma reputação de reviravoltas e maquinações políticas. Ele convocou eleições antecipadas e encerrou prematuramente o primeiro governo de coalizão do país desde o retorno da democracia nos anos 1970. Seus oponentes conservadores pareciam ter a vitória garantida, mas o movimento acabou sendo um golpe de mestre.
Apesar de obter menos votos do que o Partido Popular, Sánchez convocou as eleições cedo o suficiente para estancar o sangramento de apoiadores e impedir que seus rivais de centro-direita e o partido de extrema-direita Vox obtivessem uma margem grande o suficiente para formar um governo. Em vez disso, ele reuniu uma coalizão governante de quase todas as forças políticas restantes, incluindo partidos menores, incluindo pró-independência da Catalunha.
Nas últimas semanas, ele superou outros obstáculos domésticos, incluindo a aprovação de uma lei de anistia altamente contestada que agradou e manteve na linha parceiros de coalizão que apoiam a independência na região catalã. (Com AFP e NYT)
Fonte: O GLOBO
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