Aquecimento do Atlântico está ligado aos dias mais secos no país, com exceção do Rio Grande do Sul, onde chuva deixou cinco mortos

O calendário diz que é outono, mas as temperaturas são de verão e o calor deve se estender até o meio do inverno, com breves períodos de alívio. Maio, junho e julho terão temperaturas acima da média em todo o Brasil, indicam os melhores modelos meteorológicos do mundo, segundo Marcelo Seluchi, coordenador de operações do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).

A exceção é o Rio Grande do Sul, onde fortes chuvas nesta semana deixaram até ontem cinco mortos e 18 desaparecidos. O governador Eduardo Leite (PSDB-RS) pediu que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva envie ajuda imediatamente ao estado.

Como será o clima até julho — Foto: Editoria de Arte

Seluchi ressalva que essa época é naturalmente mais seca. Mas o grande risco é para o Pantanal, com a estação chuvosa encerrada e o nível do Rio Paraguai abaixo da média histórica.

Normalmente, mesmo na época seca, as frentes frias trazem alguma chuva para o Pantanal. Essas chuvas rápidas podem não ser suficientes para normalizar o rio, mas são importantes para apagar incêndios. Se a precipitação ficar abaixo da média, nem essas chuvas podem acontecer, aumentando o risco de fogo.

Seluchi diz que a probabilidade de temperatura acima da média é superior a 70%. Porém, por ser uma época de transição de El Niño (mais quente) para La Niña (mais fria), há chance de mais eventos frios do que em 2023.

O calor que afeta o Sudeste e o Centro-Oeste seguirá muito forte até o fim de semana e deve ficar um pouco menos intenso na semana que vem, na cidade de São Paulo e no Rio. Mas o interior de São Paulo, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul seguem ardendo. E não há sinal de onda de frio na primeira metade de maio.

O desalento dos cientistas está no Atlântico, que segue aquecido como jamais visto. Mesmo que uma La Niña venha no segundo semestre, especialistas dizem ser impossível saber como o clima se comportará e acham pouco provável que as temperaturas se reduzam.

O Atlântico se tornou um oceano de dúvidas, diz Regina Rodrigues, professora de Oceanografia e Clima da Universidade Federal de Santa Catarina e coordenadora do grupo que estuda o Atlântico e suas ondas de calor da Organização Meteorológica Mundial (OMM):

— Se após o El Niño a temperatura dos mares não cair significativamente, estaremos com um grande problema. Esperamos essa queda a partir do meio do ano.

Incerteza à frente

A La Niña segue em gestação no Pacífico Central. A temperatura da água neste oceano, na faixa de 0,9°C acima da média, diz que o El Niño ainda não foi de vez para a sepultura. Mas, quando se olha a atmosfera, os ventos de baixos e altos níveis, o que se vê é um período de neutralidade, explica Seluchi.

Em alguns pontos, o Atlântico chega a estar 3°C acima da média para esta época, da costa do Rio ao litoral da Amazônia, destaca Rodrigues. E ele começou a esquentar em março de 2023, quando não havia El Niño.


Fonte: O GLOBO