De factoide pré-eleitoral à desapropriação, eleições são a grande força que pode fazer sair do chão o estádio há décadas sonhado pela maior torcida do Brasil
Se em poucos anos, a bola rolar no gramado do Gasômetro, uma grande força terá feito sair do chão o estádio há décadas sonhado pela maior torcida do Brasil: as eleições. Foi por causa de duas delas — a de 2022 e a de 2024 — que o que até pouco tempo parecia puro delírio de rubro-negros agora parece depender apenas de detalhes burocráticos e um caminhão de dinheiro.
Era julho de 2022, e a três meses da eleição que definiria o novo presidente da República e o novo Congresso, quando a notícia tantas vezes ventilada voltou a ganhar força: o Flamengo tentaria construir um estádio próprio, agora na área do antigo Gasômetro, em frente à rodoviária Novo Rio.
Há tempos havia clareza de que o Maracanã, apesar da mística e tamanho, não era eficiente. O Palmeiras, grande rival nos últimos anos, conseguia ter renda parecida em um estádio menor. E o fato de a torcida rubro-negra esgotar os ingressos em seguidos jogos mostrou que havia demanda por um espaço maior.
Dentro do Flamengo, começou-se a sonhar com um estádio para 100 mil pessoas. Landim, no entanto, defendeu ter o maior do país, mas para 80 mil pessoas. A lógica é: hoje é possível vender todos os ingressos no Maracanã por um valor alto porque o torcedor teme que ele esgote, e um local com capacidade para 100 mil seria muito mais difícil de lotar.
Foi então que o deputado Pedro Paulo, que disputaria em outubro de 2022 a reeleição para deputado federal, mergulhou de cabeça no projeto. Em julho daquele ano, conseguiu apoio do prefeito Eduardo Paes para a ideia e encomendou uma projeção do que poderia ser feito no espaço de 88 mil m². Foi ali que surgiu a única imagem “oficial” usada até hoje do que pode vir a ser o estádio: um croqui aéreo do Signal Iduna Park, do Borussia Dortmund, que comporta 81 mil espectadores, plotado sobre o terreno do Gasômetro.
Concorrendo à reeleição naquele ano, Jair Bolsonaro também aproveitou para surfar na onda rubro-negra e anunciou que ajudaria o clube na iniciativa. Com a fala pública do presidente e a diretoria do clube povoada de bolsonaristas militantes, parecia que ao menos o imbróglio com a Caixa poderia começar a ser resolvido.
Mas dentro do banco sempre houve forte resistência à venda para o Flamengo. A principal razão está no preço. A área foi assumida dentro do Porto Maravilha, criado em 2009, que tinha como objetivo impulsionar o desenvolvimento da região com investimentos em imóveis comerciais e residenciais. A primeira década do projeto foi um fracasso e o preço que a Caixa estimou para o terreno do Gasômetro nunca foi alcançado.
Os gestores não queriam assumir a responsabilidade de vender a área para o clube por um preço mais baixo. Veio a mudança de governo para Lula e, nos últimos meses, a Caixa sequer informou ao clube o preço pretendido pelo terreno. Agora, receberá um valor ainda menor do que o clube oferecia, mas com a conveniência de não haver ninguém no banco que possa ser responsabilizado pela venda do terreno por montante abaixo do estimado.
Enquanto o imbróglio com a Caixa seguia travado, o governo do Estado começou a avançar no edital da concessão definitiva do Maracanã, tornando-o mais próximo do que o Flamengo queria. Foi só com a concessão garantida, no início deste ano, que o tema do novo estádio voltou com força total, novamente puxado pelas eleições.
Envolvido na pré-campanha para a reeleição, o prefeito Eduardo Paes abandonou o ceticismo inicial e passou a abraçar a pauta do estádio, vendo nela um duplo trunfo. De um lado, agrada a massa de torcedores do maior clube do Rio. Do outro, infla a imagem de Pedro Paulo, seu favorito para vice na disputa, cargo disputado pelos aliados em função da grande possibilidade de assumir o comando da cidade em 2026, quando Paes deve disputar o governo estadual.
No Flamengo, a eleição pela presidência do clube este ano e a decisão de Rodolfo Landim de deixar um legado de longo prazo foram os outros dispositivos que sepultaram o ceticismo que reinou por muito tempo sobre gastar R$ 2 bilhões para erguer uma nova arena a poucos quilômetros do Maracanã. Se um dia a bola realmente rolar no Gasômetro, muito se falará sobre o sonho de toda uma nação — mas terá sido a concretude do processo eleitoral que o tornou realidade.
Fonte: O GLOBO
Se em poucos anos, a bola rolar no gramado do Gasômetro, uma grande força terá feito sair do chão o estádio há décadas sonhado pela maior torcida do Brasil: as eleições. Foi por causa de duas delas — a de 2022 e a de 2024 — que o que até pouco tempo parecia puro delírio de rubro-negros agora parece depender apenas de detalhes burocráticos e um caminhão de dinheiro.
Era julho de 2022, e a três meses da eleição que definiria o novo presidente da República e o novo Congresso, quando a notícia tantas vezes ventilada voltou a ganhar força: o Flamengo tentaria construir um estádio próprio, agora na área do antigo Gasômetro, em frente à rodoviária Novo Rio.
Há tempos havia clareza de que o Maracanã, apesar da mística e tamanho, não era eficiente. O Palmeiras, grande rival nos últimos anos, conseguia ter renda parecida em um estádio menor. E o fato de a torcida rubro-negra esgotar os ingressos em seguidos jogos mostrou que havia demanda por um espaço maior.
Dentro do Flamengo, começou-se a sonhar com um estádio para 100 mil pessoas. Landim, no entanto, defendeu ter o maior do país, mas para 80 mil pessoas. A lógica é: hoje é possível vender todos os ingressos no Maracanã por um valor alto porque o torcedor teme que ele esgote, e um local com capacidade para 100 mil seria muito mais difícil de lotar.
Foi então que o deputado Pedro Paulo, que disputaria em outubro de 2022 a reeleição para deputado federal, mergulhou de cabeça no projeto. Em julho daquele ano, conseguiu apoio do prefeito Eduardo Paes para a ideia e encomendou uma projeção do que poderia ser feito no espaço de 88 mil m². Foi ali que surgiu a única imagem “oficial” usada até hoje do que pode vir a ser o estádio: um croqui aéreo do Signal Iduna Park, do Borussia Dortmund, que comporta 81 mil espectadores, plotado sobre o terreno do Gasômetro.
Concorrendo à reeleição naquele ano, Jair Bolsonaro também aproveitou para surfar na onda rubro-negra e anunciou que ajudaria o clube na iniciativa. Com a fala pública do presidente e a diretoria do clube povoada de bolsonaristas militantes, parecia que ao menos o imbróglio com a Caixa poderia começar a ser resolvido.
Mas dentro do banco sempre houve forte resistência à venda para o Flamengo. A principal razão está no preço. A área foi assumida dentro do Porto Maravilha, criado em 2009, que tinha como objetivo impulsionar o desenvolvimento da região com investimentos em imóveis comerciais e residenciais. A primeira década do projeto foi um fracasso e o preço que a Caixa estimou para o terreno do Gasômetro nunca foi alcançado.
Os gestores não queriam assumir a responsabilidade de vender a área para o clube por um preço mais baixo. Veio a mudança de governo para Lula e, nos últimos meses, a Caixa sequer informou ao clube o preço pretendido pelo terreno. Agora, receberá um valor ainda menor do que o clube oferecia, mas com a conveniência de não haver ninguém no banco que possa ser responsabilizado pela venda do terreno por montante abaixo do estimado.
Enquanto o imbróglio com a Caixa seguia travado, o governo do Estado começou a avançar no edital da concessão definitiva do Maracanã, tornando-o mais próximo do que o Flamengo queria. Foi só com a concessão garantida, no início deste ano, que o tema do novo estádio voltou com força total, novamente puxado pelas eleições.
Envolvido na pré-campanha para a reeleição, o prefeito Eduardo Paes abandonou o ceticismo inicial e passou a abraçar a pauta do estádio, vendo nela um duplo trunfo. De um lado, agrada a massa de torcedores do maior clube do Rio. Do outro, infla a imagem de Pedro Paulo, seu favorito para vice na disputa, cargo disputado pelos aliados em função da grande possibilidade de assumir o comando da cidade em 2026, quando Paes deve disputar o governo estadual.
No Flamengo, a eleição pela presidência do clube este ano e a decisão de Rodolfo Landim de deixar um legado de longo prazo foram os outros dispositivos que sepultaram o ceticismo que reinou por muito tempo sobre gastar R$ 2 bilhões para erguer uma nova arena a poucos quilômetros do Maracanã. Se um dia a bola realmente rolar no Gasômetro, muito se falará sobre o sonho de toda uma nação — mas terá sido a concretude do processo eleitoral que o tornou realidade.
Fonte: O GLOBO
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