Publicações destacaram que o entendimento da corte está alinhado com 'uma crescente aceitação global da droga', mas que há forte resistência de movimentos conservadores

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre porte de maconha para uso pessoal repercutiu na imprensa internacional. O tema foi destaque em alguns dos principais veículos de mídia estrangeira após a corte ter definido em 40 gramas da droga a quantidade que um usuário pode portar sem ser qualificado como criminoso.

O The New York Times destacou que o Brasil, com seus mais de 200 milhões de habitantes, tornou-se "o maior país do mundo a tomar tal medida e o mais recente sinal de uma crescente aceitação global da droga". A publicação também fez uma conta: as 40 gramas permitidas para uso pessoal seriam suficientes para aproximadamente 80 baseados.

O jornal americano também lembrou que o Brasil adota, há anos, uma abordagem que criminaliza severamente quem usa drogas. "Por isso a decisão de permitir efetivamente que os cidadãos fumem maconha faz parte de uma mudança notável na opinião pública e nas políticas públicas sobre a droga nas últimas duas décadas".

Jornal espanhol El Mundo repercute decisão do STF sobre porte de maconha para uso pessoal — Foto: Reprodução

O espanhol El Mundo também ressalta o fato de o Brasil ser o maior país do mundo a "ter dado esse passo" na direção da descriminalização da maconha. E acrescenta que a medida " visa evitar situações de discriminação racial", uma vez que a falta de critérios objetivos faziam com que a polícia e os juízes atuem contra indivíduos com base na cor da pele ou na condição socioeconômica.

A revista Forbes mencionou que o Brasil estava atrás de outros países da América Latina em relação à legislação sobre drogas. A decisão do STF coloca o país em um patamar semelhante ao da Argentina, onde não é crime portar até 40 gramas de maconha. No entanto, o Brasil ainda está muito atrás do Uruguai, onde é o Estado regula o consumo da droga, que fica disponível através da rede de farmácias.

O Zeit, da Alemanha, chama atenção para o fato de que as estratégias de enfrentamento às drogas no Brasil vêm falhando nas últimas décadas. E o resultado disso são prisões superlotadas de pessoas "frequentemente presas quando flagradas com apenas pequenas quantidades de drogas".

Na França, o Le Monde lembrou que a decisão "despertou a ira do campo conservador, em uníssono com a opinião pública, com 72% dos brasileiros se afirmando contrários ao uso recreativo da maconha".

A rede de televisão americana NBC também ressaltou que a questão é altamente controversa no Brasil, onde poderosos movimentos conservadores se opõem firmemente a qualquer descriminalização da maconha.


Fonte: O GLOBO