Novo modelo absorve melhor choques temporários na taxa que não alteram a dinâmica inflacionária

O presidente Lula deu aval para que a meta de inflação seja alterada de ano-calendário, que vigora atualmente, para a meta contínua. A decisão foi divulgada após a reunião do presidente com o ministro Fernando Haddad e o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo. A primeira coisa a pontuar é que falta nesse encontro a presença do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ele deveria estar lá para ajudar a tomar essa decisão, ainda que ele não vá estar mais presente no futuro do Banco Central, seu mandato termina no fim deste ano. Não tivesse esse climão entre o Lula e o presidente do BC, ele poderia estar lá. Até porque Campos Neto foi um defensor da meta contínua. Foi uma indelicadeza que deixa claro os reflexos do conflito institucional.

Mas afinal, o que significa o país passar a ter uma meta contínua de inflação? Na prática, em vez de ser estabelecida uma meta todo fim do ano, país passa a ter um alvo de inflação a ser perseguido a qualquer tempo. O modelo é usado por muito países. Isso porque ajuda na administração da política monetária. Por exemplo, caso haja um pico de inflação no fim do ano, mas no começo do ano seguinte a inflação caia, o acumulado de 12 meses fica mais próximo da meta, não exigindo nenhuma atitude da autoridade monetária como a subida de juros.

Ou seja, a meta inflacionária absorve melhor choques exógenos, como dizem os economistas, quando alguma coisa afeta a taxa de inflação pontualmente, mas não tem a ver com a dinâmica inflacionária, vai passar.

Ao que tudo indica o Brasil vai perseguir uma meta de 3%. O percentual será definido, nesta quarta-feira, em reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) que é formado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, e o presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto. O CMN é a instância responsável pelo estabelecimento da meta que deve passar a valer a partir de 2025.

O mais importante nesse processo é a reafirmação do compromisso com a inflação baixa. Quando começou essa discussão, muita gente, inclusive dentro do próprio governo, defendeu que o Brasil aumentasse a sua meta de inflação. O ministro Fernando Haddad foi absolutamente contra. E, realmente, essa foi a melhor decisão. Se aumenta a meta de inflação, corrobora a expectativa e passasse a uma taxa mais alta e os preços sobem.

Esse movimento representa um avanço da política de metas de inflação, instituído em 1999, pelo então presidente do Banco Central, Arminio Fraga, que assumiu a autoridade monetária quando o real enfrentava uma grave crise logo depois da implantação, com uma desvalorização brusca da moeda frente ao dólar e uma alta da inflação. Nesse cenário, Arminio trocou a âncora, que era cambial, pela meta de inflação. Na época, muitos disseram que a meta de inflação não iria durar, lá se vão quase 30 anos e agora o governo estabelece como alvo um número baixo.

Com essa mudança a meta da inflação não será mais um número calendário, mas um processo que tem como objetivo sempre manter a inflação baixa.


Fonte: O GLOBO