Sigla determinou que André Ceciliano e Adilson Pires se desincompatibilizem de seus cargos; prefeito sinaliza preferência por Pedro Paulo

Em uma nova tentativa de pressionar o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), o PT determinou que seus dois nomes preferidos para a vice na chapa à reeleição deixem seus cargos na administração pública até amanhã. Essa é a data-limite determinada pela Justiça Eleitoral para quem pretende concorrer em outubro.

O secretário de Assuntos Federativos do Ministério das Relações Institucionais, André Ceciliano, e o secretário municipal de Ação Social, Adilson Pires, são as apostas do partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para convencer Paes a ter um petista em sua chapa.

Em reunião com Lula na quarta-feira passada, o prefeito do Rio deixou claro que sua preferência é formar uma chapa puro-sangue, com o deputado federal Pedro Paulo (PSD), seu braço-direito.

O PT, contudo, fez um novo pleito pela posição. O argumento apresentado é que a sigla poderia expandir o arco de alianças do prefeito. Paes, por sua vez, tem o plano de disputar o governo do estado em 2026 e, por isso, tem o interesse em ter um aliado de longa data na chapa, que terminaria por herdar a prefeitura em caso de vitória. É justamente a possibilidade de gerir a capital fluminense por dois anos que torna o posto tão disputado.

Após a conversa com Lula, o prefeito do Rio se comprometeu a analisar as possibilidades e dar uma resposta. Os dois devem se encontrar novamente na próxima semana e articuladores apostam na formalização de uma decisão até o final deste mês. Os candidatos têm até 15 de agosto para registrar os nomes das chapas na Justiça Eleitoral.

Em 2020, Paes optou por costurar uma aliança com o PL e hoje tem um adversário na vice, o pré-candidato a vereador Nilton Caldeira. A relação entre os dois desandou em meio a demandas partidárias por espaço no secretariado e piorou com a entrada do ex-presidente Jair Bolsonaro no PL.

Hoje, Caldeira sequer faz parte do grupo principal da gestão no WhatsApp e tem seu gabinete a andares de distância do prefeito. Articuladores apontam que um dos receios do gestor seria compor novamente e enfrentar situação similar.

Neste contexto, o PT apresenta dois nomes que já são do círculo do prefeito há anos. Ceciliano, que presidiu a Assembleia Legislativa (Alerj) entre 2017 e 2022, e Adilson Pires, que foi vice de Paes no segundo mandato do prefeito, entre 2013 e 2016. Esse último tem a simpatia do presidente da Embratur, Marcelo Freixo, e do presidente estadual do PT, João Maurício.

Pires confirmou ao GLOBO que está de saída da gestão municipal para se colocar à disposição do PT:

— Eu diria que Paes tem uma preferência por Pedro Paulo, mas nós achamos que nossa presença na chapa pode ajudar a ganhar a eleição. Se a decisão final for que o PT indicará a vice, meu nome está bastante consolidado. Apesar de ser do PT, um partido de esquerda, me identifico com as políticas do prefeito — diz.

Já André Ceciliano afirmou “obedecer” a decisões da cúpula petista:

— Seguirei à disposição do partido, do ministro (Alexandre) Padilha e do presidente Lula para exercer, sempre, o melhor trabalho possível.

Procurado para falar sobre a movimentação, Eduardo Paes não respondeu.

Favas contadas

Apesar da insistência, parte do PT já assume derrota na questão e reconhece a vantagem de Pedro Paulo. Aliado do prefeito, o deputado chegou a ser candidato à Prefeitura do Rio em 2016, mas terminou em terceiro lugar. À época, ele enfrentou forte rejeição devido à acusação de agressão por parte de sua ex-mulher. Posteriormente, o Supremo Tribunal Federal (STF) arquivou o caso.

Vice-presidente nacional do PT, o deputado federal Washington Quaquá (RJ) já declarou ser favorável à aliança com Paes, visando a construção de um palanque sólido para Lula em 2026, mesmo sem a indicação de um vice.

Já outros nomes como o deputado federal Lindbergh Farias (RJ) e a presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann, dizem que o PT deve condicionar o apoio à vice.

A situação do PT no Rio se assemelha à vivida pelo partido no Recife, onde o prefeito João Campos (PSB), pré-candidato à reeleição, também resiste em dar a vice para a sigla.


Fonte: O GLOBO