Arthur Lira (PP-AL) estipulou agosto como mês para anunciar nome que o representará na sucessão da Casa

A proximidade com agosto, mês estipulado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para o anúncio do nome que o representará na sucessão da Casa, faz com que os candidatos já comecem a fazer contas, recebam apoios públicos e passem a contar com desistências de adversários. 

Engajado na ideia de fazer um postulante, Lira apresentará no mês que vem um postulante já alinhado com o Palácio do Planalto, na expectativa de receber o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele espera reunir o número máximo de apoios, com um arco que possa abranger desde os governistas até a oposição.

A ideia do atual comandante da Casa é repetir o que conseguiu fazer em 2023, quando foi reeleito com votação recorde.

— Hoje, nós temos três grandes nomes para a disputa da Presidência da Câmara em 2025, e três grandes nomes do mesmo grupo e bloco político. Eu tive o voto dos três nas duas eleições que disputei — disse Lira à CNN Brasil, anteontem.

Acordo em jogo

Para não dar margem para que outra campanha ganhe tração, será preciso contar com o cumprimento de um acordo fechado ainda no ano passado. Elmar Nascimento (União-BA) e Marcos Pereira (Republicanos-SP) combinaram que apenas uma das candidaturas iria à frente. O critério para a escolha seria aquele que estivesse melhor posicionado até o mês que vem.

Até o momento, nenhum dos dois indica que pode abrir mão das suas campanhas e dão demonstração de força. Pereira, aliás, nega a existência de um acordo que possa tirá-lo da disputa. Completa a lista de nomes pesados na disputa Antônio Brito (PSD-BA), tido como o postulante mais próximo ao governo.

Elmar recebeu o encaminhamento do apoio do PDT na última semana, no mesmo dia em comemorou o seu aniversário de 54 anos com uma festa em Brasília que contou com 12 ministros da Esplanada e até mesmo com um adversário na política baiana, o chefe da Casa Civil, Rui Costa.

— O PDT reuniu a bancada e a executiva na última quarta-feira com a presença do Elmar e com o (Antônio) Rueda, presidente do União Brasil, os dois ministros, Juscelino Filho e Celso Sabino, ACM Neto, e nós tivemos indicativo de apoio ao Elmar — disse o presidente do PDT, André Figueiredo (CE).

No governo, evita-se comentar o desempenho de Elmar até aqui. Em entrevista ao GLOBO, o ministro responsável pela articulação política do governo, Alexandre Padilha (Relações Institucionais), tratou o encaminhamento do PDT como “especulação” e afirmou que a antecipação das campanhas pode “chamuscar” os postulantes. Já o ministro da Previdência, Carlos Lupi (PDT), ressaltou que o assunto é uma “questão partidária, e não de governo”.

Único candidato em um bloco que conta com 161 parlamentares, Elmar pretende contar com todos os partidos do grupo, o que lhe daria um arco amplo de apoios. O bloco, o maior da Câmara, é formado por União, PP, PSDB-Cidadania, PDT, Avante, Solidariedade e PRD. Sobre a fala de Padilha, ele é direto:

— Eu não sabia que o Padilha fala pelo PDT, para estar dizendo o que é válido nas manifestações do partido em relação ao que quer que seja. Minhas conversas são feitas diretamente com os partidos — disse Elmar.

O aceno dos pedetistas poucas horas antes do seu aniversário não foi mero acaso: Nascimento encarou a data como uma espécie de “virada de página” nas resistências que chegou a acumular com o Planalto.

Entretanto, o nome dele ainda esbarra no fato de o favorito para suceder Rodrigo Pacheco (PSD-MG) na presidência do Senado, Davi Alcolumbre, também ser filiado ao União — tradicionalmente, um mesmo partido tem dificuldade para comandar as duas Casas.

Movimentações como essa fazem com que os parlamentares já façam algumas contas: se somadas as bancadas do PP de Lira, União Brasil e PDT, Elmar já iniciaria a corrida com 127 votos. A previsão, comentada durante a semana entre aliados, é que o PSDB seja o próximo partido a apoiá-lo publicamente. Também há conversas com o PSB.

— Isso (de um bloco partidário amplamente majoritário para a eleição de presidente da Câmara) iniciou-se há dois anos atrás, para que a gente tenha a real noção de que o melhor nome será escolhido para manter o perfil da Câmara, de não criar dificuldades econômicas, agir com desvoltura na votação e fazer um debate amplo com a sociedade — completou Lira na mesma entrevista.

Já Marcos Pereira, caso some a bancada do Republicanos com a do PP, partiria de 95. Enquanto isso, o PSD de Antônio Brito conta com um acordo feito com o MDB para que os dois partidos estejam juntos nas eleições. Caso o MDB abra mão da candidatura de Isnaldo Bulhões (AL), que ainda segue de pé, apesar de não mostrar força, Brito já teria 88 votos.

Bulhões, nome que ganhou menos musculatura até aqui, defende que o MDB tenha candidato próprio.

— Nessa fase todo mundo está conversando com todo mundo. Temos uma ligação mais próxima com o PSD, Republicanos e Podemos, até porque formamos um bloco parlamentar. E temos uma ligação também com partidos da base, mais ligados ao governo, com uma participação no governo com três ministros — afirmou.

Na planilha dos candidatos, os apoios das bancadas do PT e PL — as duas maiores da Câmara, com 93 e 68 deputados, respectivamente — se apresentam como “fiéis da balança” para disputada marcada para fevereiro.

O PL ,partido de Bolsonaro, por exemplo, já recebeu ofertas de todos os candidatos para ocupar a vice-presidência. Mas, além de cobiçar a cadeira, os bolsonaristas condicionam os apoios a pautas ideológicas e até mesmo à anistia do ex-presidente por suposto envolvimento nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. Já os governistas apostam em um nome de consenso para navegar em mares mais tranquilos na segunda metade do terceiro governo de Lula.

Encontro com Bolsonaro

Cientes da importância do apoio do bolsonarismo, Brito e Pereira fizeram movimento contrário de Elmar, que tem acenado para os governistas, e procuraram o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para sinalizar a vontade de contar com votos da oposição.

Brito tenta se desgarrar da imagem de nome próximo ao governo e visitou Bolsonaro no início do mês. Ele fez questão de compartilhar foto do encontro, em sinalização de que, caso vença, estará disposto a atender às pautas da oposição.

Durante celebração do PSD, na última semana, ele recebeu manifestações amistosas do presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto. Já Marcos Pereira procurou Bolsonaro para saber se ainda haveria alguma rusga entre eles por desavenças passadas e saiu satisfeito: o ex-presidente disse que as questões estavam no passado e não teria problema em apoiá-lo, caso fosse o escolhido de Lira.

Ao contrário da tradição vista nos últimos anos, a aposta no Congresso é de que as eleições para a presidência da Câmara em 2025 tenha disputa em dois turnos. Para vencer no primeiro turno, um candidato precisa ter os votos de mais da metade dos 513 deputados.


Fonte: O GLOBO