Quadrilhas se modernizam, e golpes à distância ultrapassam roubos nos números do crime
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública informa: sai o roubo à mão armada, entra o golpe pelo celular. Em 2023, as polícias registraram quase 2 milhões de estelionatos. O dado mostra que o país virou um paraíso para criminosos especializados no trambique à distância.
De acordo com o relatório divulgado ontem, houve queda expressiva nos roubos a pedestres (-13,8%), lojas (-18,8%) e bancos (-29,3%) na comparação com 2022. No mesmo período, os estelionatos subiram 8,2%, sendo 13,6% na versão eletrônica.
A série histórica mostra uma mudança no padrão dos crimes contra o patrimônio. Em 2018, os roubos superavam os estelionatos em 1 milhão de registros. Em 2023, os estelionatos superaram os roubos em 1,1 milhão.
A tecnologia explica a inversão das curvas. Com o aumento do uso de celulares conectados à internet, atividades como ir ao banco ou passar no mercado foram substituídas por alguns cliques. A transformação digital encurtou distâncias, mas também criou novas oportunidades para os criminosos.
Para roubar uma agência bancária, bandidos precisam de veículos, armas e munições. Podem ser baleados ou interceptados na fuga. E dificilmente escaparão da mira das câmeras de segurança. No meio digital, as quadrilhas podem agir sem correr os mesmos riscos. “As tecnologias servem de escudo para o criminoso”, resumem os organizadores do Anuário.
O estelionato virtual cresceu tanto que um cartel do México criou uma estrutura de telemarketing para tomar dinheiro de aposentados americanos. Por aqui, Comando Vermelho e PCC já começaram a aplicar golpes pelo WhatsApp.
O crime de estelionato é tão antigo quanto a má fama do artigo que o tipifica no Código Penal. “Tu és 171! / Um tremendo 171!”, dizia o samba “Na Aba”, gravado nos anos 80 por Bezerra da Silva e Martinho da Vila. De lá para cá, a malandragem se modernizou. A polícia, nem tanto.
Além de aproveitar o despreparo estatal, os bandidos contam com o descuido ou a ingenuidade das vítimas. Pense nisso na próxima vez que receber um torpedo pedindo um Pix para um número que você não conhece — ou perguntando se acabou de fazer uma transação num banco onde nunca teve conta.
Fonte: O GLOBO
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