Estratégia democrata pretende agilizar indicação da vice de Biden e impedir contestações sobre uso de recursos de campanha e questionamentos sobre atos como candidata

O comitê responsável pela Convenção Nacional do Partido Democrata marcou para quarta-feira uma reunião decisiva, que visa definir as regras de uma eleição virtual que pretende antecipar a indicação oficial do candidato da sigla à Presidência dos EUA para antes do encontro presencial, de 19 a 22 de agosto em Chicago. A votação virtual deve confirmar a vice-presidente Kamala Harris como candidata do partido na disputa pela Casa Branca, após ela garantir o número necessário de delegados para assegurar a nomeação.

O plano de antecipar a oficialização do candidato do partido à Presidência é anterior à desistência de Joe Biden, chegando a ser motivo de discórdia entre setores democratas no momento de maior crise na campanha do atual presidente pela reeleição. O argumento da cúpula do partido é de que atrasar a nomeação do candidato, com Trump em plena campanha, pode prejudicar sobretudo em Estados que anteciparam o prazo para eleições por correio. Enquanto Biden estava a frente, detratores defendiam que a decisão sobre o candidato fosse levada à convenção presencial.

Com a chegada de Kamala, a estratégia não parece alterada. O chefe do Comitê Nacional Democrata, Jaime Harrison, afirmou que o processo de indicação por meio de votação virtual estaria completo até 7 de agosto, com o candidato confirmado 12 dias antes do início da convenção em Chicago.

Kamala não deve ter dificuldades para confirmar sua nomeação. Ainda na noite de segunda-feira, a campanha da vice de Biden anunciou que havia obtido o compromisso de 2.214 delegados, acima do mínimo de 1.976 necessário para a nomeação.

Kamala comemorou a nomeação e se disse "honrada" em representar o partido após confirmar a maioria necessária na noite de segunda. Em uma publicação no X, a pré-candidata afirmou ter como missão derrotar Donald Trump e unir o país.

"Esta noite, estou orgulhoso de ter conquistado o apoio necessário para me tornar a candidata do nosso partido. Nos próximos meses, viajarei por todo o país conversando com os americanos sobre tudo que está em jogo. Tenho toda a intenção de unir o nosso partido e a nossa nação e derrotar Donald Trump", escreveu.

A troca de candidatos após a realização da fase de primárias, algo sem precedentes imediatos na História dos EUA, motiva uma série de dúvidas e leva a campanha por um caminho incerto. Tanto a confirmação da candidata pelos delegados — que oficialmente não foram eleitos para votar nela especificamente — quanto o uso de recursos pela vice endossada por Biden são motivos de questionamento.

Horas depois de Biden anunciar sua desistência, o comitê de campanha Biden-Harris tentou oficializar a transferência dos recursos já arrecadados para Kamala, enviando um pedido de emenda à Comissão Eleitoral Federal (FEC, na sigla original) para mudar seu nome para “Harris for President” (Harris para Presidente). A identidade visual da campanha nas redes sociais também mudou imediatamente, tanto no perfil de Kamala quanto no de Biden.

Advogados especializados em finanças de campanha alinhados com os republicanos argumentaram em conversas com o jornal Washington Post que a campanha não tem autoridade legal para fazer isso — e que a manobra é quase certa de ser contestada perante a FEC ou em outro tribunal. O argumento é de que Biden e Kamala teriam que ser oficialmente indicados pelo Partido Democrata na Convenção Democrata em Chicago antes que qualquer tipo de transferência pudesse ocorrer.

Harrison, o chefe do Comitê Nacional Democrata, afirmou que a sigla trata o momento de incertezas com seriedade, justificando o procedimento de antecipação da nomeação de Kamala como candidata como uma forma de agilizar todos os procedimentos de campanha dentro da normalidade.

— Estamos vivendo um momento sem precedentes na história e, como partido, estamos enfrentando isso com a seriedade que merece. Estamos preparados para empreender um processo transparente, rápido e ordenado para avançar como um Partido Democrata unido com um candidato que representa os nossos valores — disse Harrison, em entrevista coletiva na segunda.

Próximos passos

Com a própria candidatura encaminhada, Kamala deve recomendar em breve um companheiro de chapa, que será votado pelos mesmos delegados. A especulação gira em torno principalmente de nomes com trajetórias políticas em Estados decisivos e com eleitores indecisos.

A lista inclui Josh Shapiro, governador da Pensilvânia, Roy Cooper, governador da Carolina do Norte, Andy Beshear, governador do Kentucky e Tim Walz, governador de Minnesota. O senador pelo Arizona Mark Kelly também como cotado ao cargo. (Com NYT e Bloomberg)


Fonte: O GLOBO