Medida vem em meio a uma grave crise hídrica que tem afetado vários afluentes sul-mato-grossenses

O Ministério Público do Mato Grosso do Sul (MP-MS) abriu um inquérito para apurar as causas da seca no Rio da Prata, um dos principais afluentes da região de Bonito, cidade turística na área central do estado. A medida vem em meio a uma grave crise hídrica que tem causado escassez em vários rios sul-mato-grossenses, como o Rio Perdido, que atravessa o Parque Nacional da Serra da Bodoquena, no município de Caracol.

A estiagem severa que assola todo o estado é apontada como a principal causa dessa situação. A seca nos rios, que em alguns pontos chega a ser completa, impacta diretamente na fauna local, com peixes e outros animais sendo encontrados mortos no que antes era o curso d'água.

De acordo com o MP-MS, o objetivo do inquérito aberto é "apurar as causas da sujeira e da seca no Rio da Prata, localizado no município de Jardim". A promotoria expediu um ofício endereçado à Polícia Militar Ambiental local solicitado diligências para identificar a origem do problema.

Após o trabalho dos agentes ambientais, o MP-MS pretende detectar se o panorama no afluente turístico "é causado por ação humana ou por força da natureza". Em seguida, afirma o órgão, serão tomadas "as medidas cabíveis, cíveis e criminais, contra quem de direito".

Segundo dados da Agência Nacional de Águas (ANA), a área afetada pela seca em Mato Grosso do Sul aumentou de 79% para 85% do estado entre abril e maio deste ano. É o maior registro de área com seca em MS desde setembro de 2022, quando 88% do estado estava sob essa condição.

O Rio da Prata secou completamente em um trecho de seis quilômetros, próximo à Ponte do Curê, na MS-178, em Jardim. Onde antes havia águas correntes, hoje resta apenas terra seca. Pedras, que anteriormente formavam cachoeiras, agora estão expostas.

O Rio Perdido, em Caracol, também enfrenta os impactos da seca. Seu leito está tão seco e completamente desértico que é possível caminhar no trajeto pelo qual fluíam as águas. Este rio, que serpenteia pelo Parque Nacional da Serra da Bodoquena, desaparece em um sumidouro sob rochas e deveria ressurgir mais adiante por uma cavidade.

Em Águas do Miranda, distrito de Bonito, o Rio Miranda não ocupa atuamente nem metade do seu leito. A situação é visível a partir da ponte na divisa com Anastácio, onde a régua marca apenas alguns centímetros de água. Em Jardim, o Miranda está cheio de bancos de areia que reduzem significativamente seu volume. Este rio é formado pelo encontro do Rio Roncador com o Córrego Fundo e, após 490 quilômetros, deságua no Rio Paraguai, em Corumbá.

A situação do próprio Rio Paraguai é igualmente crítica. Recentemente, em Ladário, cidade vizinha a Corumbá, o nível do rio estava em apenas 77 centímetros, muito abaixo da média histórica de 4,40 metros para a mesma época do ano. Na manhã de 15 de julho, o nível havia caído para 71 centímetros. Em Porto Murtinho, o rio estava com 1,73 metro, comparado à média histórica de 5,28 metros. Os níveis baixos ameaçam a navegação e o transporte de produtos essenciais para a economia da região.

(*estagiário sob supervisão de Luã Marinatto)


Fonte: O GLOBO