Pesquisa 'A cara da democracia' indica que o eleitorado brasileiro divide, quase igualmente, a responsabilidade por problemas climáticos entre atores públicos e privados
Dados divulgados pela edição deste ano da pesquisa "A cara da democracia" indicam que o eleitorado brasileiro divide, quase igualmente, a responsabilidade por problemas climáticos entre atores públicos e privados. O levantamento também mostra que são minoria, no plano nacional, os que veem os políticos como principais responsáveis por desmatamento, queimadas e pela crise gerada por enchentes no Rio Grande do Sul.
Para especialistas, os números sugerem que há certa dificuldade em associar o impacto de eventos climáticos à falta de políticas públicas na área ambiental. No entanto, também apontam uma compreensão, por parte da população, de que a própria natureza ou o poder público não são os únicos responsáveis por tragédias ambientais.
Segundo o levantamento, mais da metade (56%) dos entrevistados no país consideraram que a tragédia no Rio Grande do Sul, que deixou 182 mortos neste ano, é uma “catástrofe da natureza, sem responsabilidade humana”. Entre os entes governamentais, o governador Eduardo Leite (PSDB) foi citado por 14%, mais do que a soma de menções ao governo Lula (6%) e aos prefeitos gaúchos (5%).
Mudanças climáticas — Foto: Editoria de Arte
— O fato de Eduardo Leite ser mais citado pode ter relação com o fato de ter ido mais para a linha de frente — aponta o cientista político Oswaldo Amaral, diretor do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) da Unicamp.
Para o pesquisador, os dados mostram brechas para que o tema ressurja na eleição municipal, já que a percepção crítica de governos locais tende a ser maior entre quem viveu os eventos na pele.
Soluções coletivas
Em outra pergunta feita pela pesquisa, sobre quem mais deveria contribuir para “diminuir o problema do clima e do aquecimento global”, os entrevistados que respondem os “políticos” e o “governo” totalizam 30%. É o mesmo percentual dos que atribuem esta responsabilidade aos próprios cidadãos. Outros 24% responderam que “as empresas e indústrias” são as principais responsáveis.
No caso do desmatamento e queimadas, agentes como fazendeiros e madeireiros aparecem entre os mais citados como responsáveis. Outros 16% citam os políticos.
Desmatamento — Foto: Editoria de Arte
Para o cientista político Leonardo Avritzer, professor da UFMG, os dados que apontam a divisão de responsabilidades entre os atores públicos e privados sugerem que os entrevistados não desprezam a importância de políticas públicas. Por outro lado, também pressionam por soluções que envolvam toda a sociedade.
— Em um país onde o Estado leva a culpa por quase tudo, surpreende como os agentes privados são citados.
Oswaldo Amaral, do Cesop/Unicamp, avalia que os dados refletem noções do senso comum.
— Os cidadãos costumam ouvir que precisam economizar água, não jogar lixo na rua. Isso talvez ajude na avaliação de que dividem essa responsabilidade — analisa.
Fonte: O GLOBO
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