Fernando Morais obteve mais de 3.000 páginas de registros de diferentes órgãos norte-americanos sobre o presidente brasileiro entre 1966 e 2019
Em posse de pelo menos 819 documentos, que somam 3.300 páginas de registros comprovando o monitoramento a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelo governo dos Estados Unidos por mais de meio século, o jornalista e escritor Fernando de Morais detalhou sua pesquisa ao GLOBO. Ele conta, por exemplo, que a ideia de solicitar o conteúdo às autoridades norte-americanas partiu de uma conversa com o ativista Julian Assange, criador do site WikiLeaks.
Morais lembra que esteve em Londres para entrevistar Assange em 2017. Durante a conversa, que tratou de diversos documentos sigilosos revelados pela equipe do ativista, passou a suspeitar que pudesse existir um material robusto sobre o ex-líder sindical. O autor descobriu, então, que era possível requerer esse material pela Lei de Acesso à Informação dos EUA.
Junto a seus advogados, ele solicitou relatórios, levantamentos, e-mails, cartas, minutas de reuniões, registros telefônicos e outros documentos produzidos por todos os órgãos de inteligência americanos. O conteúdo recebido abrange o período que vai de 1966, quando Lula ingressou como torneiro mecâncio em uma fábrica no ABC paulista, a 2019, ano em que, após presidir o Brasil por dois mandatos, ele deixou a prisão em Curitiba, onde permaneceu por um ano e sete meses atrás das grades em decorrências de condenações no âmbito da Operação Lava-Jato.
— Precisava de uma procuração, e Lula estava preso à época. Fui a Curitiba e o convenci a assinar 16 folhas em branco (número total de agências). Arrisquei esperar mais tempo, o que de fato aconteceu, mas quis me certificar de que não escondessem nada — narra Fernando Morais.
Segundo o jornalista, a CIA teria produzido a maior parte dos levantamentos sobre o presidente, sendo responsável pela elaboração de 613 documentos e cerca de 2.000 páginas. O escritor afirma que os documentos registram planos militares brasileiros e informações sobre a produção da Petrobras. As páginas também contêm detalhes sobre as relações de Lula com a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e com autoridades do Oriente Médio e da China.
Além dos documentos da CIA identificados, há 111 do Departamento de Estado, 49 da Agência de Inteligência da Defesa, 27 do Departamento de Defesa, oito do Exército Sul dos Estados Unidos, unidade de apoio da força armada americana, e um do Comando Cibernético do Exército.
A equipe do escritor ainda aguarda retorno do FBI, da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA) e da Rede de Combate a Crimes Financeiros. Os órgãos devem cumprir um prazo de 20 dias úteis, prorrogáveis por mais 20, para responder aos pedidos de informação feitos.
Os dados obtidos por Morais vão ser usados na segunda parte da biografia de Lula, ainda sem data de lançamento. O primeiro volume, lançado em 2021 pela Companhia das Letras, já foi traduzido para o chinês, o inglês e o espanhol. Ele planeja divulgar o material obtido na íntegra.
Ao GLOBO, Fernando contou que o final do novo livro já está montado. Pessoas próximas a ele asseguram, inclusive, que seus escritos sobre Lula já estão vendidos para o cinema e ganharão também as telonas em breve.
— O mote deste segundo volume começa com a derrota de Lula para o Montoro e vai até a eleição dele contra Bolsonaro, passando pelo golpe contra Dilma e a prisão. A cena final é dele abraçando a Janja na sala do hotel de São Paulo, quando o Bonner diz: "Atenção, senhoras e senhores, o Supremo Tribunal Eleitoral acaba de anunciar que Luís Inácio Lula da Silva é o novo presidente do Brasil" — revela o biógrafo, que testemunhou o momento.
(*estagiário sob supervisão de Luã Marinatto)
Fonte: O GLOBO
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