Bacias importantes como do Solimões e do Amazonas não recuperaram os níveis de forma suficiente no período chuvoso

Menos de um ano após a seca histórica que assolou a Bacia Amazônica, moradores, ambientalistas e organizações empresariais acenderam o sinal de alerta sobre o risco de mais e maiores impactos com uma nova estiagem que começará em breve. Durante o período chuvoso, no início do ano, algumas bacias, em especial as do Solimões e do Amazonas, as mais importantes, não recuperaram seus níveis de forma suficiente. Como as chuvas diminuem nos próximos meses nessas regiões, a Defesa Civil do Amazonas emitiu um alerta às populações de áreas remotas para que iniciem o estoque de água e alimentos.

Há duas semanas, o governo federal anunciou os editais para contratar dragagens em quatro trechos do Amazonas e do Solimões. A previsão do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) é de que as dragagens comecem em até dois meses, em um investimento de mais de R$ 500 milhões. Mas especialistas dizem que outras medidas, especialmente de garantia à água em comunidades isoladas, precisam ser tomadas o quanto antes.

No ano passado, a seca afetou mais de 500 mil pessoas no Amazonas, no Acre, em Rondônia e no Pará, e levou ao menos 55 municípios ao estado de emergência. O volume dos rios da Bacia Amazônica, a maior do mundo, alcançou os menores níveis em mais de 120 anos de medição.

Desiquilíbrio na bacia amazônica — Foto: Editoria de Arte

Praias do período seco

Na Amazônia, o período de seca ou de chuva não é homogêneo. Em Roraima, a seca começa em fevereiro, enquanto no Pará o marco é outubro. Em Manaus, os rios ainda estão cheios, e começam a diminuir no meio do ano. Na turística Alter do Chão (PA), essa época deveria ser de Rio Tapajós totalmente cheio, mas há diversas praias que costumam ser formadas em período de seca. A Ilha do Amor, que deveria aparecer somente em agosto, já está visível.

O Serviço Geológico Brasileiro ainda não possui modelos de previsão mais longos, mas o monitoramento mostra trechos onde a água está abaixo do normal. O gerente de Hidrologia e Gestão Territorial do SGB no Amazonas e Roraima, André Brandão, diz que o cenário é de incerteza. Os afluentes do Norte do Solimões e Amazonas, como os rios Branco, Negro e Trombetas, estão com bons níveis. Mas no Sul, rios como o Purus, o Madeira e o Tapajós estão com muita escassez.

— Purus apresenta recordes negativos. O pico da vazante é só em setembro e outubro, mas o rio já está com níveis abaixo do que se espera. A perspectiva é que vá chover menos esse ano — explicou Brandão. — Mas ainda não podemos falar de nova seca histórica. Vamos conseguir uma perspectiva melhor a partir de agosto.


Fonte: O GLOBO