Alçada ao posto de conselheira do Palácio do Planalto para a relação com os evangélicos, a vereadora Aava Santiago (PSDB-GO), de Goiânia, recomendou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva não atender aos pleitos da Frente Parlamentar Evangélica – e sim diversificar os interlocutores nesse segmento religioso, onde o petista enfrenta forte rejeição.

Aava foi chamada para o Palácio do Planalto por Lula e a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, e passou duas horas com o casal em um café da manhã na última quarta-feira (3). O presidente queria ouvir a opinião da tucana sobre como melhorar a interlocução com os evangélicos – um eleitorado mais inclinado a apoiar o ex-presidente Jair Bolsonaro e a reprovar a administração lulista.

Aava integrou a equipe de transição do governo Lula 3, no fim de 2022, e se define nas redes sociais como “ativista por mulheres, direitos humanos e escola pública”.

Filha de pastores da Assembleia de Deus, ela acha que os parlamentares conservadores não falam por todo esse público e não representam os anseios da base evangélica.

“Presidente, os pleitos da bancada evangélica não precisam ser acolhidos pelo governo porque, ao acolher esses pleitos, o senhor não está acolhendo os pleitos do povo evangélico. Esses pleitos não são apresentados pelo povo e sim pelos empresários da fé”, disse Aava ao presidente Lula, segundo relato feito à equipe da coluna pela própria vereadora tucana.

“Para o senhor e o seu governo terem acesso aos pleitos do povo evangélico, é preciso diversificar os interlocutores.”

A Frente Parlamentar Evangélica do Congresso reúne 228 integrantes – 202 deputados federais e 26 senadores –, dos quais apenas 26 podem ser considerados aliados da administração lulista.

Para Aava, essa bancada fala "para evangélicos e não pelos evangélicos". "Têm grande alcance de internet, visualizações, mas por não vivenciarem as experiências sociais das comunidades. Eles não têm vontade de pautar aquilo que de fato é prioridade”, avalia a vereadora.

A tucana disse a Lula que o grande aceno do governo petista feito aos evangélicos até aqui foi inserir na Reforma Tributária a extensão da isenção de impostos das igrejas para associações beneficentes e assistenciais” – o que na prática vai beneficiar organizações de líderes evangélicos que apoiaram a reeleição de Jair Bolsonaro.

“Só que os pleitos na reforma tributária não correspondem às necessidades cotidianas da esmagadora maioria dos evangélicos”, disse a vereadora a Lula.

“O resultado prático é o Silas Malafaia ficando cada vez mais rico e operando essa riqueza para fragilizar a democracia.”

Um dos mais recentes focos de tensão da relação entre Lula e a bancada evangélica se deu em torno do PL do Aborto, que prevê pena para a mulher estuprada maior que a do estuprador. O assunto também foi discutido no encontro da vereadora de Goiânia com Lula e Janja no Planalto.

Na opinião de Aava, quem defendeu o texto não foram os evangélicos reais, mas sim influenciadores digitais que “se dizem defensores dos valores cristãos” e surfaram na “onda bolsonarista”, mas que “não aguentam meia hora de escola bíblica dominical”. Segundo ela, Lula riu do comentário.


Fonte: O GLOBO