Declaração de Antony Blinken foi feita a uma rede de Cingapura; Ismail Haniyeh foi morto enquanto participava em Teerã da posse do novo presidente do Irã

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, declarou nesta quarta-feira que o governo dos Estados Unidos não estava "a par nem envolvido" na morte do líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, capital iraniana Teerã.

O assassinato é atribuído a um de seus principais aliados no Oriente Médio, Israel, e ocorre um dia após o Exército israelense anunciar um ataque contra um líder do Hezbollah em resposta às mortes de 12 jovens nas Colinas de Golã no fim de semana.

— Não estávamos a par, nem estamos envolvidos — afirmou o chefe da diplomacia americana em uma entrevista ao Channel News Asia em Cingapura, segundo trechos divulgados por sua equipe.

A morte do líder do Hamas em território iraniano eleva os temores da comunidade internacional de que a guerra de Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza transborde para outras regiões e de que possa paralisar as negociações para um cessar-fogo entre as partes. 

O Catar, que tem sido um dos principais mediadores da guerra em Gaza e abrigou Haniyeh desde 2017, descreveu sua morte como um "crime hediondo" e um "assassinato vergonhoso", destacando que a morte e o "comportamento imprudente de Israel de atingir continuamente civis em Gaza levarão a região ao caos e prejudicarão as chances de paz”.

"Como a mediação pode ter sucesso quando uma parte assassina o negociador do outro lado?", questionou o primeiro-ministro catari, Mohammed bin Abdulrahman al-Thani. "A paz precisa de parceiros sérios e de uma postura global contra o desrespeito à vida humana."

O Ministério das Relações Exteriores do Egito, outro mediador importante no conflito, disse que a “escalada perigosa” de Israel nos últimos dias “corre o risco de desencadear um confronto na região que pode gerar consequências terríveis para a segurança”. A Chancelaria iraquiana também chamou o assassinato de Haniyeh de “uma ameaça à segurança e à estabilidade na região”. Omã também condenou a ação.

O governo alemão também adotou um tom contencioso, enfatizando os pedidos internacionais para evitar "uma conflagração regional", com um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores destacando que "a lógica das represálias do tipo olho por olho é o caminho errado".

Israel ainda não comentou a morte. Durante visita às baterias de defesa aérea israelense nesta quarta, o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, afirmou que "não queremos guerra, mas estamos nos preparando para qualquer eventualidade."

'Punição severa'

Haniyeh estava em Teerã para participar da posse do presidente Masoud Pezeshkian, eleito em junho. O líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, prometeu "punição severa" a Israel. Em uma declaração divulgada pela agência de notícia estatal iraniana, IRNA, o aiatolá afirmo que Israel "preparou o terreno para uma punição severa para si mesmo, e consideramos nosso dever buscar vingança por seu sangue, já que ele foi martirizado no território da República Islâmica do Irã".

O presidente eleito iraniano afirmou por sua vez que Teerã "defenderá sua integridade territorial, honra, orgulho e dignidade, e fará com que os invasores terroristas se arrependam de sua ação covarde". O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, também condenou o que ele chamou de “assassinato pérfido” de seu “irmão” Haniyeh. O líder do grupo passou um tempo na Turquia antes de se exilar.

"Esse ato vergonhoso tem como objetivo sabotar a causa palestina, a gloriosa resistência de Gaza e a luta justa de nossos irmãos palestinos, além de intimidar os palestinos”, acrescentou Erdogan em uma publicação nas redes sociais.

O assassinato também foi condenado pela Rússia e China, que já serviram de sede para conversações sobre o conflito entre Israel e Palestina. Haniyeh foi a Moscou em setembro de 2022 para conversações sobre o conflito entre as partes, enquanto o Hamas e a facção palestina rival Fatah conversaram em Pequim na semana passada.

O vice-ministro das Relações Exteriores russo, Mikhail Bogdanov, descreveu à agência de notícias RIA Novosti o ataque como um "assassinato político completamente inaceitável" e pontuou que "levará a uma nova escalada de tensões". O vice-presidente do Conselho da Federação da Câmara Alta da Rússia, Konstantin Kosachev, também previu uma "súbita escalada de ódio mútuo” no Oriente Médio.

O porta-voz da chancelaria de Pequim, Lin Jian, disse que o país está "preocupado com o incidente" e que se "opõe firmemente e condenamos o assassinato".

Aliados do Hamas condenam ação

A morte do líder político do Hamas também foi condenada pelos seus aliados. Os integrantes do movimento xiita libanês Hezbollaz afirmaram que "o martírio do líder Haniyeh (...) aumentará a determinação e a teimosia dos combatentes da resistência mujahideen em todas as frentes de resistência (...) e tornará sua determinação mais forte no confronto com o inimigo sionista". Haniyeh foi descrito pelo grupo como "um dos grandes líderes da resistência de nosso tempo".

— Atacá-lo é um crime terrorista hediondo e uma violação flagrante das leis e dos valores ideais — disse Mohammed Ali al-Huthi, membro do gabinete político dos rebeldes Houthi do Iêmen, que realizaram ataques no Mar Vermelho contra embarcações de países aliados de Israel.

Recentemente, um drone Houthi atacou um prédio residencial em Tel Aviv, capital israelense, matando uma pessoa e ferindo quatro. Em resposta, Israel atacou instalações de armazenamento de petróleo, deixando ao menos três mortos e 80 feridos.

Os líderes talibãs do Afeganistão consideraram a morte de Haniyeh “uma grande perda”, enquanto a facção armada iraquiana Kataib Hezbollah disse que o assassinato de Haniyeh "quebrou todas as regras de engajamento", em uma declaração em sua conta oficial do Telegram. (Com AFP)


Fonte: O GLOBO