Instrutor de mergulho seria um dos responsáveis por colocar dispositivos explosivos nas construções; caso ocorreu em setembro de 2022

Foto aérea de um dos vazamentos no gasoduto Nord Stream 2 — Foto: Guarda Costeira da Suécia/Reprodução

A Alemanha emitiu um mandado de prisão contra um instrutor de mergulho ucraniano que supostamente fazia parte da equipe que explodiu os gasodutos Nord Stream em 2022, publicou a imprensa local nesta quarta-feira. Investigadores alemães acreditam que o homem, que vivia na Polônia, foi um dos mergulhadores que plantou dispositivos explosivos nos gasodutos que ligam o território russo ao alemão sob o Mar Báltico – e que, na ocasião, desencadeou mais um capítulo da crise energética entre Moscou e Europa.

O escritório do procurador-geral da Alemanha se recusou a comentar as notícias, que indicavam que o país solicitou à Polônia, em junho, a prisão do ucraniano. O Ministério Público polonês também não se manifestou sobre o assunto. Os gasodutos Nord Stream 1 e 2 foram rompidos após uma série de explosões em setembro de 2022, sete meses depois de a Rússia ter iniciado a invasão em larga escala na Ucrânia.

Os bombardeios destruíram três dos quatro gasodutos Nord Stream, que se tornaram um símbolo controverso da dependência alemã do gás russo. A Rússia culpou os Estados Unidos, o Reino Unido e a Ucrânia pela ofensiva, que provocou um grande corte no fornecimento do gás. Alemanha, Dinamarca e Suécia abriram investigações sobre o caso, e os suecos encontraram vestígios de explosivos em objetos recuperados, confirmando que as explosões foram deliberadas.

Na época, autoridades europeias consideraram até mesmo o envolvimento de Moscou no caso. Com a aproximação do inverno daquele ano, parecia que o Kremlin queria estrangular o fornecimento de energia na Europa, uma espécie de “chantagem”, segundo alguns líderes ocidentais, para intimidar os países europeus a retirarem seu apoio financeiro e militar à Ucrânia e evitar novas sanções. A Rússia também vinha reduzindo drasticamente o fluxo do Nord Stream 1, alegando que as sanções inviabilizam a manutenção necessária.

Desde o início de setembro daquele ano, “problemas técnicos” alegados por Moscou mantinham o gasoduto fechado, acirrando as críticas europeias de que o Kremlin fazia chantagem energética e usava o combustível como arma de guerra. Em junho de 2023, no entanto, o Washington Post revelou que, três meses antes das explosões, o governo americano soube por um aliado próximo que militares ucranianos planejavam o ataque à rede submarina.

Segundo o relatório de Inteligência, todos os envolvidos se reportavam diretamente ao general Valerii Zaluzhnyi, o oficial militar de mais alta patente do país na época, colocado no comando da operação para que o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, não soubesse de detalhes.

Gasodutos Nord Stream 1 e 2 cruzam Mar Báltico ligando a Rússia à Alemanha — Foto: Arte O Globo

Conforme publicado pelo jornal português Observador, de acordo com as regras europeias de auxílio judiciário mútuo, as autoridades da Polônia teriam 60 dias para responder ao pedido alemão e prender o suspeito. Segundo promotores poloneses, o mergulhador ucraniano teria fugido com sucesso porque os investigadores alemães não o incluíram no “banco de dados de pessoas procuradas”. A imprensa alemã, por outro lado, diz que a detenção não ocorreu por razões que não foram explicadas.

À AFP, o escritório do procurador polonês disse que recebeu o mandado para um suspeito identificado como Volodymyr Z. Outro homem e uma mulher, também instrutores de mergulho ucranianos identificados pela mídia alemã como Jevhen U. e Svitlana U., foram apontados na investigação – mas até agora não há mandados de prisão contra eles. Os dois seriam um casal que dirige uma escola de mergulho na Ucrânia.

O porta-voz do governo alemão, Wolfgang Buechner, enfatizou que as “investigações estão sendo conduzidas de acordo com a lei, independentemente de quem esteja envolvido e dos resultados que elas levem”. Em entrevista coletiva nesta quarta-feira, ele disse que os resultados da investigação “obviamente não mudam nada em relação o fato de que a Rússia está travando uma guerra ilegal contra a Ucrânia”.

As investigações da Suécia e da Dinamarca foram encerradas em fevereiro deste ano sem que fosse identificado qualquer suspeito. Em junho de 2023, Zelensky insistiu que Kiev não sabia nada sobre qualquer plano para explodir os gasodutos. (Com AFP)


Fonte: O GLOBO