Ex-presidente Barack Obama e ex-primeira-dama Michelle Obama na Convenção Nacional Democrata, em Chicago — Foto: CHIP SOMODEVILLA / Getty Images via AFP
Decência foi, aliás, das palavras mais pronunciadas pelos que ocuparam o palco da arena em Chicago nos dois primeiros dias. Usaram-na menos para se beatificarem e mais para destacar seu avesso, que identificam como uma das principais características do adversário. Michelle e Obama foram além.
A ex-primeira-dama retratou Donald Trump como "mero beneficiário da ação afirmativa da riqueza de gerações”, denunciou mentiras como a de que seu marido não teria nascido no país ("Ninguém tem o monopólio de determinar o que ou quem é americano") e perguntou, em tom de intimação, fazendo o público delirar: “Quem vai dizer a ele que o emprego que ele está procurando ter de novo pode ser apenas um daqueles "empregos de negros", como ele disse algumas vezes?”.
O ex-presidente, por sua vez, reduziu seu sucessor a um homem obcecado pelo poder e pelo tamanho da multidão em seus comícios, que levará o país a um retrocesso perigoso se voltar à Casa Branca. "Já vimos esse filme antes e todos sabemos que as partes 2 das franquias costumam ser piores”. Era possível imaginar Trump reagindo, nesta quarta-feira, com seu típico "eles são pessoas nojentas". Irritado, ficará.
Em seu discurso, Obama voltou a Abraham Lincoln para propor uma nova "restauração nacional" em torno de Kamala. Desenhou, em tom bíblico, um país mais solidário, calcado pelo respeito mútuo, a inclusão e uma tradução de liberdade centrada no respeito ao direito do outro, tema caro à campanha de Kamala e Tim Walz.
Mas, se eletrizaram o público com críticas duras a Trump e revisitaram a mística de 2008 para dar à campanha de Kamala a aura de tempos percebidos, uma década e meia depois, como menos polarizados, os Obama também ofereceram um choque de realidade. Constataram que a disputa segue apertada e que o "poder contagiante da esperança" detectado por Michelle no início de seu discurso, sozinho, não garantirá a vitória no Colégio Eleitoral.
A ex-primeira-dama repetiu várias vezes que as pessoas precisavam arregaçar as mangas para garantir a vitória de Kamala. Seu marido voltou a uma de suas marcas registradas, o "não vaiem, votem" de 2008, antes de pedir à militância que "bata em cada porta", "use o celular para convencer indecisos" e "se mobilize como nunca antes" para evitar o retorno de Trump. E levar Kamala lá.
Fonte: O GLOBO
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