Amanda Alves Ferreira ainda não foi localizada pelas autoridades de Bariloche, que investigam circunstâncias do episódio

Condenada no ano passado à prisão perpétua pela morte de Eduarda Santos de Almeida em 2022, a brasileira Amanda Alves Ferreira, de 30 anos, escapou do presídio de Bariloche na noite desta terça-feira após escapar de sua cela, chegar ao telhado da instituição e pular a grade que cerca a unidade penitenciária. A foragida ainda não foi localizada pelas autoridades locais.

Segundo o jornal Río Negro, Alves Ferreira deixou vários itens cobertos por uma manta sobre sua cama, dando a impressão de que ela dormia na cela dois do presídio. Por volta de 21h30, um funcionário da unidade alertou ter visto uma pessoa com roupas escuras e tênis claro se movimentando no telhado.

Apesar dos alertas do segurança, a brasileira não parou e seguiu em fuga. Ela chegou até a cerca de arame do presídio e, em poucos segundos, conseguiu escalar a estrutura e escapar do local. A penitenciária fica em uma área residencial da cidade argentina.

A equipe do grupo especial do serviço penitenciário foi acionado para localizar a mulher, sem sucesso. Detalhes da fuga ainda são investigados pelas autoridades.

A vítima era mãe de dois filhos de Alves Ferreira e havia sido barriga de aluguel. Quando cometeu o crime, a foragida não se identificava como mulher e usava o nome de batismo de Fernando. A mudança de gênero aconteceu após processo ter início, e o juiz do caso deferiu um pedido da defesa para que ela seja tratada como "Amanda" nos documentos expedidos pelo Serviço Penitenciário.

Eduarda Santos de Almeida, de 27 anos, foi encontrada morta em fevereiro de 2022 em uma trilha na região turística de Circuito Chico, em Bariloche. A vítima tinha hematomas e nove marcas de tiros no corpo. Presa após o crime e então respondendo pelo nome de Fernando, Alves Ferreira confessou o homicídio.

De acordo com a investigação, Eduarda de Almeida havia atuado como barriga de aluguel para Alves Ferreira que a sustentava financeiramente. Em depoimento à Justiça, a foragida chegou a declarar estar passando por situações econômicas e psicológicas complicadas, mencionando especialmente a recente morte de seu marido, Marcelo.

— Gostaria de receber apoio psicológico e me declaro culpado pela morte de Eduarda Santos. Sou responsável. Não planejei, mas tive a opção, considerando que minha vida estava em perigo. Desculpe, mas minha vida veio em primeiro lugar — disse, na época.

Antes da condenação, em setembro do ano passado, Alves Ferreira foi considerada culpada por um júri popular. A defesa de Ferreira alegou a inconstitucionalidade da prisão perpétua. O Ministério Público argentino contra argumentou que, no país, tal modalidade não é vitalícia e permite o acesso a liberdade condicional, "não sendo verdadeiramente perpétua". Outro argumento apresentado pela defesa é a de que Ferreira tinha "ideias paranóicas" no momento do crime.

— O psiquiatra disse estritamente que não houve afetação ou perda de realidade — disse o procurador Gerardo Miranda, de acordo com o La Nacion.

Ainda segundo o jornal La Nacion, a defesa chegou a alegar que o crime não poderia se tratar de um feminicídio, como argumentava o Ministério Público, pelo fato do réu se identificar como mulher. Em julho, o júri optou pela acusação de homicídio doloso premeditado e afastou o agravante da circunstância de violência de gênero.

— Não há feminicídio porque não estamos na presença de um homem — disse o advogado de Alves Ferreira, Nelson Vigueras, de acordo com o La Nacion.


Fonte: O GLOBO