Colégios da rede pública com mais tempo de aula tiveram nota melhor do que as com menos horas de ensino

Escola estadual do Pará — Foto: Agência Pará de Notícias

Dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2023 mostram que estudantes de escolas em tempo integral — com mais de sete horas de aulas por dia — aprendem o equivalente a um ano a mais em Matemática, de acordo com análise de dois institutos voltados para a melhoria do ensino no país, o Sonho Grande e o Natura. O levantamento mostra ainda que esse grupo de colégios da rede pública com mais tempo diário de aula teve um nota de 4,4 no indicador, contra 4,1 das unidades em tempo parcial.

O Brasil tem visto uma expansão consistente das escolas em tempo integral no ensino médio. Em 2019, 13% dos colégios e 10% dos alunos estavam nessas unidades. Em 2023, esses números pularam para 33% e 18%, respectivamente.

— Alguns estados conseguiram uma expansão relevante e obtiveram resultado no Ideb — aponta Ana Paula Pereira, diretora executiva do Instituto Sonho Grande.

De acordo com o Sonho Grande, o Paraná, por exemplo, triplicou o número de escolas integrais no ensino médio e conseguiu um aumento de 0,5 no Ideb dessas unidades. O estudo descobriu que as escolas que até 2019 eram regulares e que, antes de 2023, passaram a ter pelo menos sete horas de aulas por dia conseguiram um crescimento médio no indicador de 0,3 pontos. Já as que permaneceram em tempo parcial tiveram crescimento de 0,1.

— A escola em tempo integral não é apenas uma extensão de jornada. Isso faz parte, mas como viabilizador de um modelo pedagógico diferenciado, centrado no projeto de vida do estudante, e vem sendo implementado com sucesso desde a experiência de Pernambuco em 2004 — afirma Ana Paula.

Pobres se beneficiam mais

Outra dimensão que aparece no estudo, ressaltada por Maria Slemenson, superintendente de Políticas Educacionais para o Brasil do Instituto Natura, é que o ensino integral beneficia especialmente escolas com alunos mais pobres. Slemenson também observa que estados com menor PIB per capita, como Pernambuco, Ceará e Piauí, têm conseguido índices de aprendizagem equivalentes a estados mais ricos, como Goiás, Espírito Santo e Paraná, tendo a escola em tempo integral como um dos seus componentes.

— Pelo que tenho visto nos estados, sou muito otimista em relação à implementação de mais escolas de tempo integral. Isso exige vontade política, comprometimento e alinhamento da rede — diz.

No ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou o programa Escola em Tempo Integral, que prevê R$ 4 bilhões para aumentar o número de matrículas em escolas com pelo menos sete horas de aulas diárias em 3,2 milhões até 2026.

Alguns estados que se destacaram no Ideb em 2023 apontam a adoção do modelo como fundamental para o resultado. O Espírito Santo ficou com 4,8 e tem a segunda maior nota do Ideb entre as redes estaduais no ensino médio. Mas esse índice não considera as escolas de ensino médio com curso integral — uma mudança realizada no governo Jair Bolsonaro, em 2021. Quando as unidades são incluídas, o Ideb do estado sobe para 4,9, o que o coloca no topo do ranking, empatado com Goiás.

— Investimos muito em escolas de tempo integral com ensino técnico profissional. Torna a escola mais atrativa porque qualifica o estudante para o mundo do trabalho — avalia o secretário de Educação do Espírito Santo, Vitor de Angelo, que também chama a atenção para o impacto do acompanhamento das políticas educacionais, feito desde 2023 por uma subsecretaria específica. — Estamos sempre avaliando o quanto essas políticas estão produzindo efeitos e os ajustes que precisam ser feitos.

A secretária estadual de Goiás, Fátima Gavioli aponta medidas como mentoria para reforço escolar, criação de uma bolsa para os estudantes — antes do Pé-de-Meia — e a abertura de um centro de formação de professores como responsáveis pelo resultado do estado.

— O investimento foi feito ouvindo a rede e isso rendeu o que a gente tem visto — diz.


Fonte: O GLOBO