Palestinos choram ao lado do corpo de um homem no necrotério do hospital de Tubas, morto em um ataque israelense na Cisjordânia — Foto: RONALDO SCHEMIDT/AFP
A operação, denominada pelos militares como "antiterrorismo", envolveu ataques aéreos, forças terrestres e escavadeiras, ocorrendo de maneira coordenada em quatro cidades: Nablus, Tubas, Jenin, e Tulkarm, com ataques extraordinariamente intensos concentrando-se nessas duas últimas. Segundo fontes militares ouvidas pelo jornal israelense Haaretz, um dos focos do ataque era uma rede suspeita de estar por trás de um atentado suicida na semana passada em Tel Aviv.
A ação desta quarta incluiu dois batalhões que operaram simultaneamente em Jenin e no campo de refugiados de Nur Shams, onde um ataque aéreo israelense na segunda-feira matou cinco pessoas, incluindo dois menores de idade. O Exército confirmou as cinco mortes, afirmando que o ataque atingiu uma estrutura "usada pelos terroristas para realizar atividades terroristas e prejudicar os soldados que operam na área". Ele identificou um dos mortos como Jibril Jasan Ismail Jibril, que foi libertado em novembro como parte da única trégua na guerra em Gaza Gaza até o momento.
Um oficial de segurança israelense, que falou sob condição de anonimato ao jornal New York Times, disse que cerca de centenas de soldados participaram da ação. As tropas estavam tendo como alvo uma "mistura de grupos terroristas e células terroristas", explicou Shoshani, acrescentando que houve troca de tiros entre militares e combatentes.
Fontes palestinas citadas pelo Haartez afirmam que o Exército israelense invadiu Jenin acompanhando por um ataque aéreo que teve como alvo uma área próximo às vilas de Sir e Misilyah. O governador de Jenin, Kamal Abu al-Rub, Adisse que as autoridades israelenses informaram seus colegas palestinos que estavam impondo um toque de recolher formal em algumas partes da cidade. Os militares, disse, estavam cercando os hospitais, bem como as entradas e saídas da cidade.
— As pessoas estão vivendo em um estado de terror e ansiedade — afirmou al-Rub.
Segundo o Ministério de Saúde da Autoridade Nacional Palestina (ANP), cujo balanço de mortos coincide com o do Exército israelense, sete pessoas foram mortas em Tubas, além de duas em Jenin. O Crescente Vermelho Palestino também disse ter transportado "os corpos de nove pessoas". Mas, o porta-voz da organização, Ahmed Jibril, chegou a falar à AFP em dez mortos: dois em Jenin, quatro no bombardeio contra um carro em um município próximo e outros quatro em um campo de refugiados perto da cidade de Tubas.
Jibirl disse que os corpos das vítimas foram levados para hospitais, exceto os de "dois irmãos de 13 e 17 anos", mortos em uma casa do campo de refugiados, e que os serviços de resgate “não conseguiram recuperar".
Anteriormente, o chanceler israelense, Israel Katz, havia levantado a possibilidade de realocar temporariamente os moradores enquanto a operação militar segue. O porta-voz militar israelense disse desconhecer planos para deslocamento de civis em Jenin ou Tulkarm, destacando que "se as pessoas desejarem sair, elas podem sair". O Exército disse que a operação pode durar dias, informou o Haaretz.
Katz afirmou que os militares operavam "com força total desde a noite passada (terça-feira)" em uma tentativa de "desmantelar a infraestrutura do terror iraniano-islâmico". Em uma publicação no X, ele acusou o Irã de tentar "estabelecer uma frente oriental contra Israel" com base no "modelo" de Gaza e do Líbano, onde a nação persa financia e apoia o Hamas e o Hezbollah, respectivamente.
"Devemos enfrentar essa ameaça com a mesma determinação usada contra as infraestruturas terroristas em Gaza, incluindo a evacuação temporária dos residentes e todas as medidas necessárias", disse, acrescentando: "Esta é uma guerra, e devemos vencê-la".
O presidente palestino, Mahmoud Abbas, interrompeu uma visita à Arábia Saudita e voltou para casa para "acompanhar os últimos acontecimentos à luz da agressão israelense no norte da Cisjordânia", informou a mídia oficial palestina. O presidente condenou a ação, e seu porta voz, Nabil Abu Rudeineh, disse que as ações israelense estavam levando a "consequências desastrosas pelas quais todos pagarão o preço".
O Hamas, que governa Gaza desde 2007 e cuja popularidade aumentou na Cisjordânia desde o início do conflito, também condenou a ação, acusando Israel de expandir sua guerra no enclave palestino para a Cisjordânia ocupada e afirmando que a comunidade internacional estava deixando isso acontecer. A Jihad Islâmica, um movimento islâmico palestino aliado ao Hamas que tem uma forte presença no norte da Cisjordânia, denunciou o que chamou de uma "guerra aberta" por parte de Israel.
"Com essa agressão, que tem como objetivo transferir o peso do conflito para a Cisjordânia ocupada, o ocupante quer impor um novo estado de coisas no terreno para anexar a Cisjordânia", disse a declaração.
Invasão a hospital
O porta-voz militar israelense disse mais cedo a repórteres que os soldados encontraram explosivos "já nas primeiras horas" da operação. Há muito tempo, autoridades israelenses afirmam que combatentes plantaram dispositivos explosivos improvisados em uma tentativa de explodir soldados enquanto eles dirigiam por estradas em cidades palestinas. Shoshani informou que as tropas trabalharam durante a noite para desarmá-los, mobilizando engenheiros de combate especializados.
A operação também se estendeu para locais civis. O governador de Jenin disse em entrevista à Ashams Radio, citada pelo Haaretz, que as Forças Armadas israelenses informaram às autoridades palestinas que pretendiam invadir o hospital do governo na cidade. O Ministério da Saúde palestino pediu intervenção internacional para impedir o ataque. O hospital informou que apenas ambulâncias têm permissão para entrar na área e que o Exército israelense está verificando cada uma delas à procura de pessoas armadas ou procuradas.
A agência de notícias palestina Wafa relatou mais cedo que os militares invadiram hospitais, atrapalharam ambulâncias em um centro médico e estavam destruindo infraestrutura em Jenin, onde forças israelenses também foram posicionadas perto de um grande hospital, alimentando temores de que pudessem invadi-lo, e Tulkarm.
O Crescente Vermelho Palestino denunciou que militares israelenses dispararam tiros dentro de um posto médico no campo de refugiados de al-Far'a, nos arredores da cidade de Nablus, e que "se retiraram (...) após agredir Nidal Odeh, o diretor de Serviços Médicos de Emergência" da organização humanitária em Tubas.
Quando questionado, Shoshani argumentou que os militares estavam tentando evitar que o hospital se tornasse um refúgio para militantes. Já a atividade militar em al-Far'a é definida como uma missão separada designada à Brigada do exército do Vale do Jordão, informou o Haaretz. Os militares, citados pelo jornal, disseram que "não há danos ao funcionamento do hospital, não há danos à eletricidade e à água e a entrada e saída do hospital são possíveis". Alegaram ainda que "o inimigo usa os hospitais para escapar para eles durante um confronto com nossas forças — e temos provas disso".
Incursão rara
A operação desta quarta-feira, alegou o porta-voz militar, não era "extremamente diferente (da atividade usual do exército na área) ou especial". De fato, as incursões de tropas israelenses em zonas autônomas palestinas são quase diárias na Cisjordânia, mas se intensificaram desde o início da guerra em Gaza. Mais de 650 palestinos foram mortos na região por ações do Exército israelense ou de colonos desde 7 de outubro, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais palestinos.
Por outro lado, pelo menos 20 israelenses morreram, incluindo soldados atacados por palestinos ou participando em ataques militares, segundo dados oficiais israelenses.
Os bombardeios por drones israelenses também eram atípicos, mas se tornaram comuns desde outubro. Apesar disso, é raro que essas ações sejam realizadas em várias cidades simultaneamente, como ocorreu nesta quarta-feira.
Nas últimas semanas, as operações concentraram-se principalmente no norte do território, onde os grupos armados que combatem Israel são mais ativos. Na segunda-feira, o exército anunciou que matou cinco palestinos num ataque aéreo ao campo de refugiados de Nur Shams, em Tulkarem.
Fonte: O GLOBO
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