Brasileiro conquistou medalha de bronze em Paris-2024 depois de surfar apenas uma vez em 'mar flat' na semifinal; esporte foi confirmado no programa inicial da próxima edição dos Jogos

O surfista Gabriel Medina conquistou a medalha de bronze para o Brasil, nesta segunda-feira, depois de perder a semifinal num "mar flat" do Taiti para o australiano Jack Robinson, que terminou com a prata. O brasileiro surfou apenas uma onda na disputa por uma vaga na final — ficou quase 20 minutos à espera de ondulação no mar de Teahupo’o, o que gerou críticas à organização do evento nas redes sociais e indignação de parte da torcida brasileira com uma suposta "injustiça" na modalidade.

Os primeiros dias de Paris-2024 mostraram ao mundo as águas "perigosas" pelas quais Teahupo’o ficou conhecida. Nos dias seguintes, porém, a fase final do torneio foi adiada várias vezes, na esperança de que as boas ondas voltassem. Mesmo sem um cenário natural ideal, o surfe retomou as disputas nesta segunda, última dia da janela olímpica para a modalidade.

Antes mesmo da repercussão da falta de ondulação no Taiti, já havia especulações de que os próximos Jogos Olímpicos pudessem ser disputados numa onda "perfeita" do interior da Califórnia.

O surfe foi aprovado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) no programa inicial de esportes das Olimpíadas de Los Angeles, em 2028, embora ainda não haja um local específico definido para a competição. Quatro anos depois das disputas no Taiti, na Polinésia Francesa, os surfistas podem ter de adaptar estratégias para buscar medalhas se a edição for confirmada no Surf Ranch, de Kelly Slater.

A piscina de ondas artificiais criada pelo americano 11 vezes campeão mundial da modalidade, na pequena cidade de Lemoore, é um dos lugares cotados para receber o surfe em 2028. Isso, apesar de o COI ter celebrado a inclusão do esporte no programa oficial com três emblemas desenhados por atletas da nova geração — um deles, da surfista americana Carissa Moore, que fez um tributo para sua cidade natal Honolulu, no Havaí, destino famoso pelas ondas.

Um repórter do LA Times plantou a "semente" da possibilidade de o Surf Ranch sediar a Olimpíada durante uma entrevista em 2021. David Wharton perguntou a Kelly Slater, na ocasião, o que ele achava dessa ideia.

— É algo que pode ser feito. Você fez meu cérebro pensar sobre isso — respondeu o americano, no campeonato nacional júnior em Lower Trestles, na praia de San Onofre, na Califórnia. — Acho que até lá teremos outros designs [de ondas artificiais]. Talvez algo um pouco mais curto, talvez um passeio de 20 segundos seria o ideal porque você pode forçar o quanto quiser e ter variedade suficiente nas manobras.

A cidade de Lemoore fica numa região árida e rural ao norte de Los Angeles, a 160 km do Oceano Pacífico. Foi lá que, a partir de 2006, Slater gestou a ideia, com um desenho num guardanapo. Ele e o cientista Adam Fincham buscavam criar "a onda perfeita" e, para tirar o projeto do papel, reuniram uma equipe internacional de engenheiros.

O protótipo da piscina em escala real só foi concluído em 2015, depois de vários testes em laboratório. Os dois conseguiram reproduzir ondas com 2,4 metros de altura e chamaram surfistas para experimentá-las. Naquele momento, as ondas só quebravam para a direita — dois anos depois, o projeto foi aperfeiçoado para ondular para a esquerda e atender esportistas com "base trocada".

O local já recebeu várias etapas da WSL (Liga Mundial de Surfe, na sigla em inglês), desde 2018. O brasileiro Gabriel Medina ganhou as duas primeiras edições e seu compatriota Filipe Toledo, a de 2021. Numa disputa considerada "pitoresca", o Surf Ranch costuma adotar formato de prova e pontuação diferente do resto do circuito.

Como funciona a piscina artificial de Slater

A "onda perfeita" do Surf Ranch vem da ação de um hidrofólio, uma "pá gigante" que desloca massa d'água e forma o "swell". Uma espécie de trem é responsável por puxar a estrutura por uma pista de 700 metros e 150 pneus de caminhão, em velocidade estimada em 30 km/h, explicou a WSL no site.

O formato da "pá gigante", a velocidade e o próprio fundo da piscina favorecem a formação da onda com ângulo preciso e com duração de até um minuto, mais longa que a ondulação natural.

"Com isso, os surfistas conseguem realizar longos tubos e têm bastante espaço para as manobras", ressalta a WSL.


Fonte: O GLOBO