Atleta apresentou denúncia em Paris após ter sido vítima de 'polêmica' sobre seu gênero
A boxeadora argelina Imane Khelif comemora a vitória que lhe rendeu vaga na semifinal do torneio olímpico, em Paris — Foto: Mohd Rasfan/AFP
As autoridades francesas abriram, nesta terça-feira, uma investigação após a denúncia de assédio virtual agravado apresentada pela boxeadora argelina Imane Khelif, medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Paris-2024 e vítima de uma “polêmica” de gênero. O anúncio foi feito pela promotoria da capital francesa.
O serviço nacional francês de combate ao ódio online abriu a investigação por "ciberassédio devido ao gênero, injúria pública devido ao gênero, provocação pública à discriminação e injúria pública devido à origem", especificou a promotoria à AFP.
A investigação foi atribuída ao escritório central de combate a crimes contra a humanidade e crimes de ódio.
"A boxeadora Imane Khelif, que acaba de ganhar a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Paris 2024, decidiu travar um novo combate: o da justiça, dignidade e honra", afirmou no sábado em um comunicado seu advogado Nabil Boudi, que anunciou ter apresentado a denúncia na véspera.
A promotoria confirmou na segunda-feira ter recebido essa denúncia.
"A investigação criminal determinará quem esteve à frente dessa campanha misógina, racista e sexista, mas também deverá focar naqueles que alimentaram esse linchamento digital", acrescentou o advogado.
Segundo a revista americana Variety, o bilionário Elon Musk, proprietário da rede social X (ex-Twitter) e a escritora britânica JK Rowling, autora da saga Harry Potter, são citados na denúncia.
Para o advogado, "o assédio iníquo sofrido pela campeã de boxe ficará como a maior mancha desses Jogos Olímpicos".
Khelif venceu na sexta-feira a final na categoria meio-médio (-66 kg) realizada em Roland Garros.
Após competir discretamente em Tóquio-2020, Khelif se viu envolvida em Paris, contra sua vontade, em uma polêmica sobre gênero liderada por círculos conservadores, com o Comitê Olímpico Internacional (COI) e a Federação Internacional de Boxe (IBA) em conflito sobre o tema.
A controvérsia começou no ano passado, quando Khelif e a boxeadora taiwanesa Lin Yu-Ting, também envolvida na mesma questão, foram desclassificadas do Campeonato Mundial feminino de Nova Deli, em março de 2023.
Segundo a IBA, Khelif não passou em um teste destinado a estabelecer seu gênero. A Federação recusou-se a especificar que tipo de prova foi realizada.
O COI sustenta que a argelina pode participar das competições olímpicas na modalidade feminina.
A polêmica ressurgiu em Paris quando sua adversária na primeira rodada, a italiana Angela Carini, abandonou a luta no primeiro minuto.
Nas redes sociais, a boxeadora argelina foi vítima de uma campanha de ódio e desinformação, que a apresentava como "um homem que luta contra mulheres".
"Sou uma mulher forte com poderes especiais. Do ringue, enviei uma mensagem àqueles que estavam contra mim", declarou Khelif à mídia após conquistar o ouro.
Fonte: O GLOBO
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