Estratégias miram eventuais irregularidades da gestão do prefeito e sua proximidade com Bolsonaro; apoiado por Lula, candidato do PSOL também não deve escapar de críticas
A temporada de debates na TV entre os candidatos à prefeitura de São Paulo será aberta na próxima quinta-feira (8), na Band, a partir das 22h30, com a presença dos cinco mais bem colocados nas últimas pesquisas de opinião. O prefeito, Ricardo Nunes (MDB), e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) devem ser os mais visados pelos adversários, mas há expectativa sobre o possível embate entre os ex-aliados José Luiz Datena (PSDB) e Tabata Amaral (PSB) e a atuação do “franco-atirador” Pablo Marçal (PRTB).
Serão três blocos envolvendo confrontos diretos entre os candidatos, perguntas de jornalistas da emissora e duração prevista de 1h30. Levantamento divulgado pela Quaest na semana passada mostra um empate triplo entre Nunes (20%), Boulos (19%) e Datena (19%), com Marçal em seguida (12%) e Tabata numericamente em quinto lugar (5%).
O direcionamento das críticas preocupa a campanha de Nunes. A avaliação é que opositores, principalmente Datena e Marçal, não têm “nada a perder” na eleição deste ano e podem investir em pautas diversionistas para ganhar visibilidade. Durante a convenção realizada pelo PRTB no domingo, Marçal disse que revelará no debate dois candidatos que “cheiram cocaína” — sem, no entanto, apresentar prova alguma:
— Tem que mostrar o ‘papelzinho’, o ‘prontuariozinho’. Tá na minha mão. Nós vamos mostrar para todo mundo, já fica o aviso — declarou o ex-coach.
A estratégia de Nunes, não apenas em debates, mas na campanha eleitoral como um todo, é focar na cidade e nas entregas da gestão. Auxiliares entendem que nenhum outro candidato conhece tanto São Paulo e trata com propriedade os assuntos, com ações concretas para mostrar ao público. Alguns dos temas que devem ganhar destaque são a tarifa zero nos ônibus aos domingos, a faixa azul para motos, a construção de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e o programa de moradia Pode Entrar, além da boa situação orçamentária da cidade.
Se necessário partir para o ataque, o prefeito deve procurar Boulos, como já tem feito durante toda a pré-campanha. Resta saber em que termos. Em convenção do PL, Nunes chamou o adversário de “invasor”, “vagabundo” e “sem-vergonha”, o que rendeu ao político uma ação na Justiça cobrando uma retratação pública e a publicação do currículo Lattes do psolista. O pedido foi negado na última sexta-feira, sem julgamento do mérito. O entorno de Nunes prefere um segundo turno contra Boulos, já que nesse cenário o atual prefeito teria mais votos, segundo pesquisas.
Nunes tem sido alvo de todos os outros adversários, mas o contrário nem sempre ocorre. Com relação a Marçal, ele tem evitado ataques diretos por entender que o eleitorado do influenciador migraria para ele em um eventual segundo turno.
O empresário é desconhecido por 46% dos paulistanos, segundo a Quaest. A avaliação é que, tanto com relação a Marçal quanto Datena, não há propostas sobre a cidade em discussão, apenas acusações vazias, e que Nunes não quer entrar nesse jogo. Então, a preparação do prefeito é no sentido de sempre levar o debate para a gestão e evitar o embate.
Boulos, por sua vez, deve seguir com a estratégia que adota há meses de concentrar seus ataques a Nunes, focando tanto no que considera como problemas de sua gestão quanto no recente inquérito da Polícia Federal (PF) que apontou indícios de envolvimento do emedebista com um esquema de desvio de verbas em creches conveniadas.
Boulos, por sua vez, deve seguir com a estratégia que adota há meses de concentrar seus ataques a Nunes, focando tanto no que considera como problemas de sua gestão quanto no recente inquérito da Polícia Federal (PF) que apontou indícios de envolvimento do emedebista com um esquema de desvio de verbas em creches conveniadas.
Outra tática é relacionar Nunes a Jair Bolsonaro (PL), especialmente no que tange às investigações que pesam sobre o ex-presidente no caso das joias e tentativa de golpe. No segundo turno das eleições presidenciais, Lula (PT) venceu Bolsonaro na capital por margem estreita de votos (53,5% a 46,5%).
A campanha de Boulos vê nos debates de TV uma oportunidade para conversar com outros públicos e romper com a pecha de "radical" atribuída por oponentes. Nesse ponto, o deputado se fiará no plano de governo, apresentado na semana passada e que traz "propostas consolidadas" com nomes fáceis de lembrar, a exemplo do "Poupatempo da Saúde", das "Casas do Trabalhador de Aplicativo" e do "Mutirão Paulo Freire" contra o analfabetismo.
Pesa a favor de Datena o fato de que o primeiro debate será “em casa” para ele, que até o fim de junho apresentava o “Brasil Urgente” na emissora, mas se afastou justamente para focar na empreitada política.
Apesar de o tucano dar sinais de que pretende mirar em Nunes na pauta da segurança pública, acusando o prefeito de ser conivente com a infiltração do Primeiro Comando da Capital (PCC) em serviços contratados pela administração, como o transporte público, a campanha nega que a intenção seja ganhar terreno especificamente contra o prefeito. O apresentador diz procurar o apoio de eleitores tanto de Lula quanto de Bolsonaro e já chamou Boulos e Nunes de “marionetes” de seus padrinhos políticos.
Datena apareceu empatado tecnicamente na liderança com Nunes e Boulos na pesquisa Genial/Quaest, o que pode fazer com que seja mais visado, principalmente por opositores do segundo pelotão da disputa. Para os líderes, a iniciativa é mais arriscada porque pode significar perda de um apoio relevante em um eventual segundo turno. Esse tipo de cenário também favorece “dobradinhas” para desgastar um dos adversários.
Nos bastidores, a avaliação é de que ainda é cedo e que o debate da Band oferecerá um termômetro sobre as estratégias dos demais. Admite-se ainda que Datena está um pouco afastado da construção do plano de governo e, apesar de ser um comunicador talentoso, precisará ir além das críticas e ser mais propositivo em relação aos problemas da cidade para crescer e diminuir a sua rejeição, a mais elevada entre todos, na ordem de 48%.
O debate também colocará Datena frente a frente com Tabata Amaral, de quem era aliado até abril. O jornalista esteve filiado ao PSB até o limite do prazo de troca para concorrer em outubro. Entrou no PSDB, em evento que contou com a presença da deputada e foi lido como uma tentativa de aglutinar as duas siglas. De favorito ao posto de vice, Datena passou a adversário depois que pesquisas internas mostraram que era um candidato competitivo.
Tabata desistiu oficialmente do acordo ontem, ao anunciar como número dois da chapa a professora e empresária Lúcia França (PSB), mulher de Márcio França, ex-governador do Estado e atual ministro do Empreendedorismo. A interlocutores, Tabata já admitiu que se considera traída por Datena, e nesta segunda (5) disse durante sabatina realizada pelo g1 que “traições são comuns, que as pessoas dão a palavra e as palavras são jogadas ao vento”.
— Não vemos o Datena como um adversário prioritário. É inevitável que se ataque a administração atual. O Nunes deve ser alvo não só da Tabata, mas da maioria. Não estamos indo para isso, mas sim para apresentar a Tabata e mostrar como ela está preparada — diz o marqueteiro da candidata, Pedro Simões. A deputada federal fará uma preparação para o debate nesta terça-feira.
O PSB de Tabata faz parte do “núcleo duro” de apoio do governo Lula — um dos principais entusiastas da campanha da deputada é o ex-governador e atual vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB). A proximidade entre as duas siglas deve ser colocada à prova no pleito de São Paulo.
Boulos, por exemplo, não costuma citar Tabata nas redes sociais e evita críticas diretas. Chegou a publicar um recorte incorreto de uma pesquisa ignorando o nome da candidata. A deputada, por outro lado, já moveu ações na Justiça Eleitoral contra o psolista e precisa alavancar o desempenho nas pesquisas, o que deve passar por tirar votos do colega de Câmara.
Marçal tem adotado o discurso de que Boulos é um “apoiador de rachadinha”, em alusão ao processo relatado pelo deputado no Conselho de Ética na Câmara que inocentou André Janones. O empresário esteve em Brasília na sessão que decidiu o destino do deputado do Avante, que faz parte da base de Lula no Congresso. Na época, Boulos retrucou Marçal:
— Trouxeram até coach picareta para vir tentar tumultuar a sessão. Espero muito que não venda a candidatura para o prefeito Ricardo Nunes. Vá até o fim que eu quero te enfrentar nos debates — disse.
A respeito de Nunes, a estratégia de Marçal é pintá-lo como um político não merecedor do voto do eleitorado bolsonarista, a despeito do ex-presidente participar ativamente da campanha de reeleição do prefeito. Com Tabata, já se envolveu em polêmicas a respeito do suicídio do pai da deputada, insinuando em entrevistas que ela teve culpa por estar estudando fora do País. O único poupado até agora é Datena: na convenção partidária, Marçal alegou que os dois “conversam direto” e que o apresentador “está de parabéns”.
Fonte: O GLOBO
A campanha de Boulos vê nos debates de TV uma oportunidade para conversar com outros públicos e romper com a pecha de "radical" atribuída por oponentes. Nesse ponto, o deputado se fiará no plano de governo, apresentado na semana passada e que traz "propostas consolidadas" com nomes fáceis de lembrar, a exemplo do "Poupatempo da Saúde", das "Casas do Trabalhador de Aplicativo" e do "Mutirão Paulo Freire" contra o analfabetismo.
Pesa a favor de Datena o fato de que o primeiro debate será “em casa” para ele, que até o fim de junho apresentava o “Brasil Urgente” na emissora, mas se afastou justamente para focar na empreitada política.
Apesar de o tucano dar sinais de que pretende mirar em Nunes na pauta da segurança pública, acusando o prefeito de ser conivente com a infiltração do Primeiro Comando da Capital (PCC) em serviços contratados pela administração, como o transporte público, a campanha nega que a intenção seja ganhar terreno especificamente contra o prefeito. O apresentador diz procurar o apoio de eleitores tanto de Lula quanto de Bolsonaro e já chamou Boulos e Nunes de “marionetes” de seus padrinhos políticos.
Datena apareceu empatado tecnicamente na liderança com Nunes e Boulos na pesquisa Genial/Quaest, o que pode fazer com que seja mais visado, principalmente por opositores do segundo pelotão da disputa. Para os líderes, a iniciativa é mais arriscada porque pode significar perda de um apoio relevante em um eventual segundo turno. Esse tipo de cenário também favorece “dobradinhas” para desgastar um dos adversários.
Nos bastidores, a avaliação é de que ainda é cedo e que o debate da Band oferecerá um termômetro sobre as estratégias dos demais. Admite-se ainda que Datena está um pouco afastado da construção do plano de governo e, apesar de ser um comunicador talentoso, precisará ir além das críticas e ser mais propositivo em relação aos problemas da cidade para crescer e diminuir a sua rejeição, a mais elevada entre todos, na ordem de 48%.
O debate também colocará Datena frente a frente com Tabata Amaral, de quem era aliado até abril. O jornalista esteve filiado ao PSB até o limite do prazo de troca para concorrer em outubro. Entrou no PSDB, em evento que contou com a presença da deputada e foi lido como uma tentativa de aglutinar as duas siglas. De favorito ao posto de vice, Datena passou a adversário depois que pesquisas internas mostraram que era um candidato competitivo.
Tabata desistiu oficialmente do acordo ontem, ao anunciar como número dois da chapa a professora e empresária Lúcia França (PSB), mulher de Márcio França, ex-governador do Estado e atual ministro do Empreendedorismo. A interlocutores, Tabata já admitiu que se considera traída por Datena, e nesta segunda (5) disse durante sabatina realizada pelo g1 que “traições são comuns, que as pessoas dão a palavra e as palavras são jogadas ao vento”.
— Não vemos o Datena como um adversário prioritário. É inevitável que se ataque a administração atual. O Nunes deve ser alvo não só da Tabata, mas da maioria. Não estamos indo para isso, mas sim para apresentar a Tabata e mostrar como ela está preparada — diz o marqueteiro da candidata, Pedro Simões. A deputada federal fará uma preparação para o debate nesta terça-feira.
O PSB de Tabata faz parte do “núcleo duro” de apoio do governo Lula — um dos principais entusiastas da campanha da deputada é o ex-governador e atual vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB). A proximidade entre as duas siglas deve ser colocada à prova no pleito de São Paulo.
Boulos, por exemplo, não costuma citar Tabata nas redes sociais e evita críticas diretas. Chegou a publicar um recorte incorreto de uma pesquisa ignorando o nome da candidata. A deputada, por outro lado, já moveu ações na Justiça Eleitoral contra o psolista e precisa alavancar o desempenho nas pesquisas, o que deve passar por tirar votos do colega de Câmara.
Marçal tem adotado o discurso de que Boulos é um “apoiador de rachadinha”, em alusão ao processo relatado pelo deputado no Conselho de Ética na Câmara que inocentou André Janones. O empresário esteve em Brasília na sessão que decidiu o destino do deputado do Avante, que faz parte da base de Lula no Congresso. Na época, Boulos retrucou Marçal:
— Trouxeram até coach picareta para vir tentar tumultuar a sessão. Espero muito que não venda a candidatura para o prefeito Ricardo Nunes. Vá até o fim que eu quero te enfrentar nos debates — disse.
A respeito de Nunes, a estratégia de Marçal é pintá-lo como um político não merecedor do voto do eleitorado bolsonarista, a despeito do ex-presidente participar ativamente da campanha de reeleição do prefeito. Com Tabata, já se envolveu em polêmicas a respeito do suicídio do pai da deputada, insinuando em entrevistas que ela teve culpa por estar estudando fora do País. O único poupado até agora é Datena: na convenção partidária, Marçal alegou que os dois “conversam direto” e que o apresentador “está de parabéns”.
Fonte: O GLOBO
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