Principal alvo do debate, dada a liderança nas pesquisas, Paes levou à emissora assessores e marqueteiro

Os bastidores do primeiro debate entre os candidatos à Prefeitura do Rio, realizado pela Band, tiveram cenas que jogaram luz sobre estratégias eleitorais. Também despontaram na sede da emissora personagens que, apesar de não serem protagonistas da disputa municipal, roubaram a cena — caso, por exemplo, da cadelinha do candidato Marcelo Queiroz (PP), Rufina, e do “pitbull” de Alexandre Ramagem (PL), o vereador Carlos Bolsonaro (PL).

Um ponto que ficou escancarado — do lado de fora e no debate em si — foi a dobradinha entre Ramagem e Rodrigo Amorim (União). Como o GLOBO vem mostrando há meses, a candidatura do União Brasil foi costurada com o aval do PL. A ideia é deixar que ele faça o “trabalho sujo” contra o prefeito Eduardo Paes (PSD), enquanto o representante oficial do ex-presidente Jair Bolsonaro pode se dedicar a ser mais propositivo.

Na chegada à sede da emissora, um grupo de dezenas de homens recebeu os dois candidatos – os únicos a não entrarem pela garagem, e sim a pé – com fumacê, sinalizador e gritaria, bem ao estilo torcida organizada. Além de saudar os nomes de Amorim e Ramagem, a claque entoou uma provocação ao atual prefeito: “Ô Eduardo, pode esperar, a sua hora vai chegar”.

Quem chegou no mesmo carro de Ramagem foi Carlos Bolsonaro, vereador carioca e filho “zero dois” do ex-presidente. Apenas a mulher do candidato do PL teve o mesmo prestígio.

Foi Amorim, no entanto, quem mencionou Carlos logo na primeira fala do debate. Em nome dele, evocou a família Bolsonaro, a quem “prestou continência” para consolidar sua empreitada eleitoral, nas palavras do próprio deputado.

Amorim chegou acompanhado de quadros do PL, sigla de Ramagem, em outro sinal claro da dobradinha. Entre os aliados que são da legenda, estavam os deputados estaduais Alan Lopes e Filippe Poubel e o secretário estadual de Defesa do Consumidor, Gutemberg Fonseca, que atua como coordenador da campanha do político do União. O próprio irmão do candidato, o vereador Rogério Amorim, é do PL, esteve na Band e não esconde que vai votar em Ramagem.

A dobradinha da direita foi notada por Paes e Tarcísio Motta (PSOL) no debate. Segundo o psolista, Amorim está para Ramagem assim como Padre Kelmon estava para Bolsonaro na eleição presidencial de 2022. Ou seja, como uma linha auxiliar.

A “torcida organizada” do bolsonarismo acabou desviando a atenção da imprensa de um momento mais, digamos, doce. Quem falava com os jornalistas na hora do estrondo que tomou conta da rua da emissora era Marcelo Queiroz (PP), que chegou à Band com o cachorro de estimação, a cadela Rufina. O deputado federal tem a causa animal como uma das principais bandeiras políticas.

Paes ‘vidraça’

Principal alvo do debate, dada a liderança nas pesquisas, Paes levou à emissora assessores, o marqueteiro Marcello Faullhaber, o deputado estadual Guilherme Schleder (PSD) e o candidato a vice na chapa, Eduardo Cavaliere (PSD). Chamou atenção a ausência de outro integrante do núcleo duro do prefeito: o deputado federal Pedro Paulo (PSD), que era o favorito para assumir o posto de vice e acabou preterido.

Antes de entrar no estúdio, Paes reconheceu em conversa com a imprensa que seria a “vidraça” do encontro: aquele participante na mira de todos os demais. Prefeito em terceiro mandato, e que se reeleito será a pessoa que por mais tempo comandou a cidade, ele de fato foi o mais criticado — muitas vezes, com apelidos criativos.

Tarcísio Motta (PSOL) chamou a gestão Paes de “governo TikTok”, uma forma de dizer que o prefeito se vende nas redes sociais como melhor do que realmente é. Já Ramagem optou por “soldado do Lula”, forma de associar de forma negativa o adversário ao presidente da República. Amorim apelou para “nervosinho” e “filho ingrato de Sérgio Cabral”.

Mais experiente em debate que os outros — com exceção dele, apenas Tarcísio já havia disputado uma eleição majoritária —, Paes usou um direito de resposta para, em vez de só rebater a artilharia de Amorim, explicar as mudanças em curso na Avenida Brasil. Interlocutores do prefeito celebraram o mau uso do banco de minutos pelos adversários, que acabaram deixando Paes terminar a maioria dos embates diretos com a palavra final.

Segurança

O debate também serviu para escancarar o confronto entre Paes e Ramagem na segurança pública, que vinha se dando de forma indireta, em entrevistas de cada um. Ficou nítido que o principal mote da campanha do candidato do PL é a segurança, mesmo com o município tendo um poder de atuação menor que o estado na área.

Paes, então, buscou associar Ramagem ao “padrinho político” Cláudio Castro, governador do Rio, e a nomeações para a secretaria de Segurança Pública e as polícias Civil e Militar. É uma forma de, a um só tempo, minimizar a capacidade de atuação da prefeitura na área, alegar que o candidato do PL pertence a um grupo que não resolveu o problema e se colocar de vez como oposição a Castro. Potencial candidato ao governo em 2026, Paes enfrentaria na disputa estadual algum aliado do atual governador.


Fonte: O GLOBO