Sentenças de 3 a 2 anos de prisão são as primeiras desde que onda de manifestações tomou conta do país; ao menos 93 policiais ficaram feridos nos motins
Um homem que socou um policial no rosto durante os protestos violentos organizados pela extrema direita no Reino Unido foi condenado a três anos de prisão nesta terça-feira. A sentença é a maior até o momento: além dele, outros dois homens foram condenados a 30 e 20 meses de detenção. De acordo com a imprensa britânica, Derek Drummond, de 58 anos, se declarou culpado por ter participado do motim e por ter agredido o agente de segurança um dia após o assassinato de três meninas em Southport.
O juiz, Andrew Menary, disse que Drummond fazia parte de uma “multidão grande e ilegal” que “sequestrou efetivamente” o luto de Southport como parte do distúrbio, que deixou uma mesquita sob cerco e policiais feridos, publicou o Guardian. Menary afirmou que “todo membro decente da comunidade afetada por esses eventos ficará chocado pelo que aconteceu em seus bairros”. Na audiência do tribunal de Liverpool, segundo a mesma fonte, foi dito que 93 policiais de Merseyside ficaram feridos nos últimos oito dias.
Em declaração lida ao tribunal, a chefe de polícia de Merseyside, Serena Kennedy, disse que os policiais sofreram uma série de ferimentos físicos, incluindo uma mandíbula quebrada e dentes perdidos. Alguns passaram a acordar à noite com ataques de pânico. Os policiais estariam “descrentes” por nenhum agente ter sido morto nas manifestações – e muitos pensam se irão retornar para casa em segurança ao final do dia.
Drummond gritou “covardes” antes de socar o policial de Merseyside Thomas Ball em frente à mesquita de Southport. Ele jogou tijolos contra a polícia como parte do motim que deixou mais de 50 policiais feridos e uma viatura incendiada. Quatro dias depois, ele se entregou à polícia e disse que tinha sido “um idiota”. O homem, que tem 14 condenações anteriores – várias delas por violência – havia participado de uma vigília pelas vítimas do ataque em Southport antes de participar dos protestos.
Ainda segundo o Guardian, Drummond disse que “as tensões estavam elevadas” no protesto, admitiu que seu comportamento foi “horrível” e afirmou estar “completamente arrependido”. Lionel Greig, defensor de Drummond, disse que seu cliente perdeu o emprego após a prisão.
Mais de 400 presos
Outro homem, Declan Geiran, de 29 anos, foi condenado a 30 meses de prisão após admitir que tentou incendiar uma viatura policial durante a manifestação organizada pela extrema direita em Liverpool. O promotor Christopher Taylor disse que o acusado podia ser visto em um vídeo do TikTok tacando fogo no cinto de segurança de uma viatura policial. O veículo precisou ser descartado, custando mais de 32 mil libras aos contribuintes (cerca de R$ 228,5 mil), segundo o tribunal.
Geiran disse à polícia que foi à manifestação planejada pela extrema direita porque queria “mostrar apoio às famílias enlutadas”. Ele negou qualquer “pensamento negativo sobre imigração”. Seu advogado, Brendan Carville, disse que seu cliente “não sabe o que significa extrema direita e esquerda” e que ele “simplesmente foi junto” da multidão.
Um terceiro homem, Liam James Riley, de 41 anos, foi condenado a 20 meses de prisão após admitir ter participado da “desordem” no centro de Liverpool. Segundo publicado pela SkyNews, o promotor Chris Taylor disse que Riley estava “claramente bêbado” quando foi preso – e que se tornou agressivo com o policial que o prendeu, a quem chamou de “amante dos muçulmanos”. Ele chamou outros policiais de “retardados” e “fez comentários negativos sobre muçulmanos e imigrantes”.
Mais de 400 pessoas foram presas em conexão com os motins e desordens registrados pelo Reino Unido desde semana passada. As manifestações tiveram início após um adolescente invadir uma aula de dança temática sobre Taylor Swift e esfaquear as pessoas que estavam no local, a maioria crianças entre 6 e 11 anos, mas também dois adultos. Três meninas – Bebe King, de 6 anos, Elsie Dot Stancombe, de 7, e Alice da Silva Aguiar, de 9 – morreram no ataque. Após o atentado, influenciadores de extrema direita mobilizaram a população com afirmações falsas sobre a origem e religião do criminoso.
Da esquerda para a direita, Alice da Silva Aguiar, Elsie Dot Stancombe e Bebe King, que morreram em consequência dos ferimentos do ataque — Foto: Polícia de Merseyside/AFP
Após as primeiras sentenças serem declaradas nesta semana, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, disse esperar que seja passada uma “mensagem poderosa” a qualquer pessoa envolvida nos tumultos. A fala de Starmer, no entanto, ocorre em meio ao aumento dos apelos à manifestação da extrema direita, o que levanta receios de que novos tumultos possam ocorrer. A polícia do Reino Unido afirmou, também nesta quarta-feira, que está “em alerta” para lidar com a situação.
Embora a noite de terça-feira tenha sido mais tranquila do que os dias anteriores, as autoridades monitoram de perto quase 30 convocações para protestos próximos a centros ou escritórios de advocacia que prestam assistência jurídica a imigrantes. A Law Society of England and Wales denunciou um “ataque direto” à profissão que representa, e a ministra da Justiça, Shabana Mahmood, alertou que aqueles que participarem da violência “se juntarão às centenas que já foram detidas”.
Nesta terça-feira, autoridades britânicas afirmaram que o governo mobilizou seis mil policiais especializados para reprimir os protestos violentos, e que mais 500 vagas foram liberadas nos presídios. A polícia atribuiu os ataques a pessoas associadas à extinta Liga de Defesa Inglesa, uma organização islamofóbica de extrema direita fundada há 15 anos. O país não via uma explosão de violência dessa magnitude desde 2011.
Fonte: O GLOBO
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