Pastor, que vem acumulando atritos com ex-coach, acusa candidato do PRTB de levar 'campanha a um nível muito baixo' após episódio em debate da TV Cultura

O pastor Silas Malafaia, desafeto de Pablo Marçal (ao centro), criticou candidato do PRTB por ofensas a Datena (à direita), respondidas com agressão — Foto: Montagem com fotos de Cristiano Mariz e Maria Isabel Oliveira/Agência O Globo

Desafeto de Pablo Marçal (PRTB), o pastor Silas Malafaia saiu em defesa do apresentador de TV José Luiz Datena (PSDB), que agrediu o adversário com uma cadeira durante o debate da TV Cultura na noite deste domingo. Malafaia, líder da igreja evangélica Assembleia de Deus Vitória em Cristo, e que vem divulgando vídeos quase diários com críticas a Marçal, acusou o ex-coach de querer "mais uma armação de vitimização".

O pastor frisou não ser favorável a "violência nenhuma contra ninguém", mas criticou Marçal por, em suas palavras, ter "atingido a honra" de Datena. No debate deste domingo, o candidato do PSDB se incomodou com a menção de Marçal a um suposto caso de assédio e partiu para a agressão física após uma sequência de provocações e insultos entre ambos.

-- Ele está levando a campanha a um nível muito baixo. Provoca o Datena o tempo todo, mexe com a honra do cara. Não tem nenhuma denúncia, nada. Vitimização é o que ele sabe fazer. Eu não sou a favor de violência nenhuma contra ninguém, só que ele (Marçal) não está enganando. Está ficando baixo -- afirmou Malafaia ao GLOBO.

Logo após o debate, Malafaia disparou pelo WhatsApp imagens da confusão, que mostram Marçal discutindo com Datena e erguendo os braços após ser atingido pela cadeirada. Em seguida, o candidato do PRTB aparece caminhando com a mão na região do tórax e solicitando uma ambulância para deixar o local do debate.

"Pablo Marçal atinge a honra de Datena, toma cadeirada, sai andando e pede ambulância. Vem aí mais uma armação de vitimização", escreveu o pastor na rede social.

Datena agride Marçal no debate da TV Cultura — Foto: Reprodução

Malafaia, que se indispôs com Marçal pela primeira vez na campanha eleitoral de 2022, voltou a se irritar com o candidato do PRTB após uma manifestação organizada pelo pastor em São Paulo, no último Sete de Setembro.

A pedido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), aliado próximo de Malafaia, candidatos à prefeitura de São Paulo que buscam o voto da direita foram convidados a subir no trio elétrico do pastor. O atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) e a candidata do Novo, Marina Helena, estavam entre os presentes.

Marçal, que decidiu viajar dias antes para El Salvador, onde gravou um documentário para sua campanha, chegou à manifestação já na reta final e foi impedido de subir no trio elétrico. O candidato do PRTB explorou o momento em suas redes sociais, sugerindo ter sido boicotado por Malafaia.

O pastor, em resposta, criticou Marçal por ter se ausentado do início da manifestação, e sugeriu que o candidato do PRTB evita se indispor com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes -- alvo de pedidos de impeachment durante o ato no Sete de Setembro. A mesma acusação foi feita no debate da TV Cultura, neste domingo, por Marina Helena. Marçal vem negando qualquer preocupação em manter boa relação com Moraes e diz que é necessário pressionar o Senado, e não candidatos a prefeito, para abrir pedidos de impeachment contra ministros do Supremo.

Agressão ocorreu após escalada de provocações

Marçal, que vinha anunciando nos últimos dias a intenção de “desestabilizar” Datena e forçá-lo a desistir da candidatura, iniciou o debate citando uma acusação por assédio sexual contra o candidato tucano. Sem digerir a fala de Marçal, Datena retomou o assunto em diferentes momentos para negar quaisquer acusações e atingiu o candidato do PRTB com uma cadeira após uma das provocações.

No primeiro bloco de perguntas entre candidatos, Datena se recusou a elaborar uma questão para Marçal após o candidato do PRTB ser sorteado para respondê-lo.

-- Me reservo ao direito de não perguntar nada. Até agora ele subverteu toda a perspectiva desses debates, transformando em mero programa para a internet dele -- criticou Datena.

O candidato do PRTB aproveitou o tempo de resposta, sem ter uma pergunta específica para responder, e levantou o primeiro ataque contra Datena, dizendo que o apresentador de TV “responde por assédio sexual”.

O caso citado é uma denúncia feita pela repórter Bruna Drews, em janeiro de 2019. Datena a processou por calúnia e difamação. Nove meses depois da acusação, ela assinou uma retratação em um cartório de São Bernardo do Campo.

Incomodado com a menção ao suposto caso de assédio, Datena frisou que o caso havia sido arquivado, repetiu que o episódio havia gerado desgastes à sua família, e instou Marçal a se retratar.

No quarto bloco do debate, Marçal lembrou ainda que, em um debate anterior nesta campanha, Datena havia se dirigido até seu púlpito com a suposta intenção de lhe agredir. A cena já havia sido resgatada por Marçal na primeira troca de insultos entre ambos, quando o candidato do PRTB disse que Datena "ladra e não morde".

— Você atravessou o debate esses dias para me dar um tapa, você não é homem nem para fazer isso — falou Marçal, que neste momento foi atingido por Datena com uma cadeira.

Após a agressão, Datena foi expulso do debate e Marçal, que disse não estar se sentindo bem depois de ser atingido, também se retirou do estúdio e foi a um hospital.

Em conversa com jornalistas depois da expulsão, Datena disse que perdeu a cabeça e reiterou que “jamais cometeu uma barbaridade dessa”, referindo-se à acusação de assédio.

— A partir do momento que eu me senti agredido ali, eu vi a figura da minha sogra, que, repito, morreu por causa disso, e infelizmente eu perdi a cabeça. Poderia ter simplesmente saído do debate e ido embora pra casa, que era muito melhor. Mas, do mesmo jeito que eu choro como uma reação humana, essa foi uma reação humana que eu não pude conter — afirmou Datena, que depois acrescentou não ter se arrependido.

A assessoria de Marçal, por sua vez, informou que ele precisou ser encaminhado “às pressas” para o Hospital Sírio-Libanês, e criticou a continuidade do debate sem o candidato do PRTB.

“É lamentável que o debate tenha continuado, mesmo sem a presença do candidato agredido”, diz a nota, que ainda citou que Marçal teria “suspeitas de fraturas” no tórax e “dificuldade para respirar”.


Fonte: O GLOBO