Apoiadores do ex-presidente Evo Morales participam da chamada 'Marcha para Salvar a Bolívia', contra o líder esquerdista Luis Arce — Foto: AIZAR RALDES / AFP
Confrontos entre seguidores do presidente Luis Arce e o líder indígena Evo Morales ocorreram no domingo perto de La Paz, com oito feridos. Após os incidentes, o presidente alertou que “não permitirá” uma “guerra civil” na Bolívia.
Uma marcha de Morales, que governou o país andino entre 2006 e 2019, com cerca de 10 mil de seus apoiadores começou na terça-feira passada, a partir da cidade de Caracollo, 190 quilômetros ao sul de La Paz, e avança em direção à sede do governo.
Os manifestantes estão prestes a chegar a La Paz, o que está previsto para esta segunda-feira, segundo o próprio ex-presidente, em meio a violentos confrontos entre seguidores de ambos os políticos, com a alegação da crise econômica que se manifesta na falta de dólares e de combustível.
“Uma guerra civil, como diz um de seus operadores (políticos), é precisamente o que gostariam os inimigos internos e externos do nosso Estado Plurinacional da Bolívia (…) Não permitiremos isso”, disse Arce em uma mensagem televisiva, junto com seu vice-presidente, David Choquehuanca, sem revelar o nome do colaborador de Morales.
“Para que haja uma guerra civil são necessárias pelo menos duas frentes antagônicas, e isso é um prazer que não lhes daremos, o nosso compromisso é com a paz”, indicou.
Arce e Morales se enfrentam pela candidatura presidencial oficial para as eleições de agosto de 2025, embora apenas o líder cocaleiro tenha antecipado que deseja concorrer.
Acidentes e lesões
Com pedras, paus e fogos de artifício, os seguidores de Arce e Morales se enfrentaram duas vezes ao longo da caminhada.
O primeiro confronto ocorreu na última quarta-feira, na cidade de Vila Vila, logo após o início da marcha, e deixou 26 feridos, segundo relatório do Ministério da Saúde.
A segunda e mais recente foi registrada neste domingo na zona de Ventilla, arredores da cidade de El Alto, etapa obrigatória na marcha em direção a La Paz. Foram registrados oito feridos.
“Esta mobilização não tem como finalidade uma reivindicação social. Seu objetivo principal é interromper o atual mandato constitucional”, disse a ministra das Relações Exteriores, Celinda Sosa, em cartas enviadas às Nações Unidas, ao Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos e à Comissão Interamericana. Comissão de Direitos Humanos (CIDH).
A interrupção do governo Arce, alegou, seria “através do avanço das eleições nacionais e da viabilização de uma nova candidatura do senhor Morales, apesar de a Constituição Política do Estado não o permitir”.
O governo destaca que a Constituição prevê a reeleição imediata ou consecutiva apenas uma vez, o que impediria Morales de concorrer novamente, embora insista que é permitida, quando ocorre após pelo menos um mandato presidencial.
Diálogo
Policiais cercaram as entradas da praça principal de La Paz, sede dos poderes Executivo e Legislativo, antes da chegada iminente da marcha.
Morales denunciou que a administração de Arce pretende deter sua marcha pela força: - Se houver alguém ferido ou morto, a responsabilidade é do governo - denunciou.
Ele afirmou, ainda, ter sido avisado de que sua vida estaria em perigo e que, por isso, alguns policiais e amigos militares, que não identificou, “enviaram-lhe coletes à prova de balas”.
Em meio às tensões, a Defensoria de Justiça administra um diálogo entre Arce e Morales, até agora aceito apenas pelo presidente.
Morales concordou com o diálogo, embora tenha pedido a Arce que fosse ao local da marcha, que é “pacífica”, insistiu.
Fonte: O GLOBO
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